| 02/10/2006 09h22min
Uma falha de comunicação entre as torres de controle de Manaus e Brasília pode ter sido responsável pelo acidente aéreo que derrubou o Boeing 737-800 da Gol, com 155 passageiros e tripulantes a bordo, no norte de Mato Grosso, na última sexta-feira.
Uma fonte do setor revelou ao jornal O Globo que o jato Legacy, fabricado pela Embraer, que decolara de São José dos Campos (SP) com destino aos EUA e abasteceria em Manaus, voava a 37 mil pés de altitude (dez mil metros), com autorização da torre de Brasília. Por solicitação do piloto do Boeing, a torre de Manaus teria autorizado que a aeronave da Gol subisse de 35 mil para 39 mil pés. Como as duas torres não se comunicaram, houve a colisão. A Aeronáutica não confirmou nem desmentiu essa informação, nem a possibilidade de que o Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego (Cindacta) de Manaus monitorasse o Boeing, enquanto o Cindacta de Brasília estaria responsável pelo Legacy. Através de seu centro de comunicação, a FAB informou que todos os dados relativos aos vôos dos dois aviões envolvidos no acidente foram repassados à comissão que investiga o caso, com a participação da Gol, da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e de representantes da agência de aviação dos EUA (acionados por que o Legacy, embora fabricado pela Embraer, já havia sido comprado por uma empresa norte-americana). O especialista em aviação Ivan Sant'Ana chamou atenção para o fato de a rota usada pelos dois aviões estar localizada justamente na zona de transição entre o Cindacta de Manaus e o de Brasília. – É uma terra de ninguém –, resumiu Sant'Ana, autor de livros sobre aviação. O presidente da Anac, Milton Zuanazzi, disse ontem que os depoimentos prestados pelos ocupantes do Legacy confirmam que houve de fato uma colisão entre as duas aeronaves. Análises preliminares mostram que o Boeing foi atingido na barriga, no motor e no leme, onde se localiza o controle hidráulico da aeronave. Segundo Zuanazzi, o sistema anticolisão do Legacy estava funcionando perfeitamente. De acordo com ele, o aparelho foi testado antes de o jato decolar e também em sua chegada na Base Aérea de Cachimbo, no Mato Grosso, onde fez o pouso forçado após o choque com o avião da Gol. O presidente da Anac não soube dizer, no entanto, se o mesmo equipamento estava funcionando no Boeing, o que apenas a caixa-preta poderá esclarecer. O especialista em aviação Ivan Sant'Ana levantou a hipótese de que o piloto do Legacy estivesse fazendo manobras para testar o jato recém-comprado, o que dificultaria o alerta por parte do detector. – Ele pode ter dado uma guinada de cima para baixo ou ter feito uma manobra brusca e não ter dado tempo de o equipamento anticolisão detectar o outro avião. O piloto do Legacy pode ter abandonado o nível de vôo estabelecido para o avião –, especulou. Já para o engenheiro Gustavo Tavares da Cunha Mello, autor de tese de mestrado sobre acidentes aeronáuticos, é possível que o piloto do Legacy tenha se esquecido de ligar ou até mesmo desligado o sistema anticolisão, para voar mais alto. – Se o sinalizador do Legacy estava desligado, o avião da Gol não o detectaria, mesmo se seu equipamento estivesse funcionando. O piloto também pode não conhecer o avião direito ou não ter tido treinamento suficiente –, cogitou. AGÊNCIA GLOBOGrupo RBS Dúvidas Frequentes | Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2024 clicRBS.com.br Todos os direitos reservados.