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 | 21/09/2006 07h59min

Lula nega ter acusado oposição por Dossiê Cuiabá

Candidato à reeleição disse que afastamento de Berzoini não significa culpa

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição pelo PT, negou hoje, em entrevista ao jornal Bom Dia Brasil, que tenha dito que a oposição queria tumultuar as eleições.

– Eu não disse isso. Eu disse: “A quem interessa melar as eleições?”. Porque a mim não interessa – repetiu, afirmando que tem uma posição confortável a 10 dias das eleições.

O presidente argumentou que o suposto dossiê não lhe ajudaria em “um milímetro”, ainda mais que nem era contra o candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, e sim contra José Serra, candidato do PSDB ao governo de São Paulo. Os jornalistas questionaram se o governo paulista não seria interessante ao PT e Lula foi direto.

– Seria interessante ganhar nos Estados, seria interessante ter maioria no Senado – mas que isso não justificaria arriscar a campanha presidencial.

Abatido e com olheiras, Lula parecia calmo e repetiu, várias vezes, que a compra do dossiê contra adversários políticos é um comportamento “imoral” e não tolerado.

– As pessoas são insanas quando têm esse comportamento político – disse.

Ele afirmou que o envolvimento de pessoas próximas de sua campanha e do governo é grave, e que os integrantes do partido deveriam ter denunciado a negociação.

– Quando alguém vem oferecer uma maldade e pede por essa maldade dinheiro, essa pessoa não merece confiança.

Sobre o afastamento do coordenador da campanha, Ricardo Berzoini, Lula disse que não o afastou por achar que ele seja culpado.

– Não afastei o Berzoini porque acho que ele tenha culpa ou está envolvido. A 10 dias das eleições não posso ter como coordenador alguém que vá ficar respondendo o tempo todo sobre dossiê. Por isso, chamei o companheiro Marco Aurélio.

Também por várias vezes ele afirmou que não poderia, por lei, fazer mais do que afastar os suspeitos.

– O papel do presidente é afastar. Não posso julgar e não posso prender. Cabe ao Ministério Público e à Justiça tomar conta da situação agora. Lula afirmou que os responsáveis pela compra do suposto dossiê contra tucanos serão punidos e defendeu uma investigação profunda dos fatos:

– Essas pessoas pagarão. Quero saber quem deu dinheiro, quero saber o que tem nesse dossiê, por que ele valia tanto. O fato é que, sendo divulgado ou não, não me ajuda na campanha eleitoral. Faço questão que a Polícia Federal vá a fundo, investigue as entranhas.

Sobre as seguidas denúncias de corrupção, o presidente disse que elas ganham destaque porque o seu governo não joga “sujeira debaixo do tapete”, e que para isso equipou a Polícia Federal (PF).

Sobre a atuação da PF, o presidente chegou a ser quase grosseiro quando o jornalista Alexandre Garcia perguntou porque o dinheiro apreendido não havia sido mostrado.

– Acho que quando você encontrar com o delegado, você pergunta para ele. Eu não tenho como explicar porque o delegado agiu assim ou não.

O presidente também falou sobre a crise com a Bolívia. Ele afirmou que as declarações de alguns ministros bolivianos não condizem com o que está sendo dito na mesa de negociações. Ele afirmou ter dito ao presidente Evo Morales que a Bolívia não pode ficar com “uma espada na cabeça” do Brasil por ter o gás, porque o Brasil também pode fazer o mesmo com a Bolívia, pois é o país que compra a maior parte do combustível boliviano.

– E se não vender para o Brasil vai ficar difícil vender para mais alguém, basta olhar a geografia da Bolívia.

Sobre a agricultura, Lula disse que as crises são cíclicas, principalmente por causa das intempéries. Mas que em todos os momentos o governo ajudou os produtores e criou o seguro agrícola justamente para os momentos de crises. Lula também citou números positivos na economia e disse que um cenário assim não ocorria há 30 anos.

Ao final da entrevista, quando foi informado que ainda teria tempo para falar, Lula mostrou-se irritado.

– Eu não usei (o tempo) porque achei que íamos discutir programa de governo e terminou não discutindo programas de governo.

 

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