| 28/03/2006 15h30min
Do vendedor de insumos agrícolas ao profissional liberal, ninguém escapa da crise no agronegócio em cidades nas quais a base da economia está diretamente ligada ao campo. Nem parece que os municípios estão iniciando a colheita de soja, época de movimentação no comércio local.
Os baixos preços dos produtos agrícolas, a desvalorização do dólar, duas safras frustradas pela estiagem no Rio Grande do Sul e os altos custos de produção se refletem no varejo. No Estado, 5% da área de soja plantada já foi colhida. Este era para ser um período de corrida às empresas que prestam assistência de maquinário.
Em Giruá, se fosse em anos anteriores, a revenda de insumos e máquinas Casa do Compadre já teria contratado cinco empregados para atender os agricultores que se preparam para colher o grão. No entanto, a luta é garantir o emprego dos 23 funcionários. Já faz um ano e meio que não são vendidos tratores. Teve cliente até que fez proposta de devolver a máquina que comprou em troca das dívidas.
– Quando o produtor plantou, a soja estava R$ 28 a saca. Hoje está na faixa de R$ 21. Estamos preocupados que o preço possa cair mais na colheita. Vai ficar inviável para o produtor cumprir seus compromissos – reconhece o gerente de máquinas da empresa, Moacir Klug.
No ano passado, a falta de produto para vender em razão da estiagem era o problema do produtor. Este ano, com a safra de soja cheia, prevista em 8 milhões de toneladas, o preço é um obstáculo para a venda.
– Se o produtor vender a sua safra com o preço de hoje, é prejuízo. Seu endividamento vai aumentar. Nunca os preços do milho, do óleo de soja, do frango e do arroz estiveram tão baixos. A estratégia do governo é conseguir voto da grande massa, prejudicando quem produz – comenta o analista de mercado Antônio Sartori, diretor da Brasoja.
Se para alguns o movimento cai, o serviço cresce para outros. É o caso do advogado Eleandro Humberto Bolson, de Giruá. A inadimplência no meio agrícola aumentou para ele o número de causas em 50% a partir de 2005. Isso não quer dizer que Bolson lucre em tempos difíceis.
– Em época de crise, os conflitos aumentam. Ninguém paga ninguém. Empresas têm crédito para receber. Mas nosso crescimento está diretamente relacionado com o do cliente. Com a crise, se trabalha mais e se ganha menos – conta.
Para o presidente da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado, Flávio Sabbadini, a queda de 2,1% no volume de vendas no Rio Grande do Sul em 2005 deve-se ao desempenho do setor primário e à desvalorização do dólar.
– O ano de 2006 não começou muito diferente. Segundo o IBGE, o Rio Grande do Sul já registra uma queda de 3,4% em janeiro, comparado com o mesmo mês de 2005 – diz Sabbadini.
O recuo nas vendas do comércio de Júlio de Castilhos pode ser medido pelas consultas ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Por mês, eram feitas em média mil. Até ontem, este número não chegava a 400.
– Isto é um indicativo que o comércio vem diminuindo bastante devido à crise no campo. Os que já não estão com contas a pagar, têm receio de se endividar – destaca o presidente da Associação Comercial e Industrial de Júlio de Castilhos, Julio Batistella.
Quem não vive diretamente da agricultura também sente os reflexos da mau momento. Em Tupanciretã, um dos principais municípios produtores de soja do Estado, a crise reduziu em 30% o número de consultas do dentista Atilano Pinto Leal, 55 anos.
– Nossa cidade é essencialmente agropecuária. No consultório dá para perceber uma maior dificuldade dos clientes para pagar pelos serviços. Além disso, nosso tempo ocioso aumentou.
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