| 27/03/2006 13h05min
Se um desavisado deparasse com os preços dos produtos agrícolas de 2002 poderia supor estar diante de uma tabela de cotações atual. Os valores dos principais grãos colhidos no Rio Grande do Sul – soja, milho e arroz – retornaram aos patamares de quatro anos atrás, segundo dados da comissão de crédito rural da Federação da Agricultura (Farsul) e do Instituto Riograndense do Arroz (Irga).
Diante da crise, protestos pedindo ajuda do governo pipocam no Interior. E o próprio Banco do Brasil admite que a maioria dos produtores não conseguirá pagar o que deve por empréstimos contraídos no banco. Na raiz das dificuldades, estão uma produção mundial de grãos recorde, custos elevados e principalmente a desvalorização do dólar frente ao real nos últimos anos.
– O câmbio voltou ao que estava em 2001, levando para baixo os preços agrícolas, mas nossos custos continuaram subindo – afirma Elmar Konrad, presidente da Comissão de Crédito Rural da Farsul.
A crise é a imagem invertida do boom de preços verificado entre 2002 e 2004 e causado por um salto no dólar, aliado à seca nos Estados Unidos que reduziu a produção mundial de grãos. Nos últimos dois anos, o preço da soja no mercado internacional despencou 42%, e a cotação da moeda norte-americana caiu 25%. O valor pago ao produtor pela saca caiu 55% no período.
– O problema é que os custos de produção não acompanharam essa queda e caíram só 9% (entre a safra de 2004/2005 e a atual) – explica Tarcísio Minetto, economista da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado.
As contas da lavoura não fecham desde o ano passado. Somente em 2005, a renda do produtor caiu R$ 16,76 bilhões, em virtude de uma redução de 9,79% do Produto Interno Bruto da Agropecuária, de acordo a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
– A sociedade não sente de perto os efeitos porque a oferta de alimentos é grande, e a comida está barata. É uma crise de abundância e não de falta de produto – diz o economista da CNA Getúlio Pernambuco.
Para o analista de mercado Antônio Sartori, porém, os benefícios para o consumidor podem ter conseqüências negativas no futuro. Caso o produtor sem solução para as dívidas, a saída forçada tende a ser a redução da produção e da oferta - o que significa risco de inflação em médio ou longo prazo, com a alta no preço dos alimentos. Nesta safra, os agricultores brasileiros já reduziram a área plantada em 2 milhões de hectares (4,2% do total).
– Preços tão baixos no mundo todo são motivo de preocupação. Há risco de crise de oferta – alerta Mauro Resende Lopes, professor da Fundação Getulio Vargas.
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