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 | 14/07/2008 22h11min

Gravações revelam detalhes de tentativa de suborno a delegado da PF

Envolvidos na Operação Satiagraha tentaram corromper um delegado para livrar Dantas

Gravações de conversas telefônicas feitas pela Polícia Federal revelam como dois investigados na Operação Satiagraha tentaram corromper um delegado para livrar o banqueiro Daniel Dantas das acusações de crimes financeiros e de lavagem de dinheiro. As informações foram divulgadas no site G1.

Humberto Braz, o Guga, e o amigo Hugo Chicaroni, professor universitário, foram flagrados em encontros e telefonemas oferecendo propina para o delegado federal Victor Hugo Rodrigues Alves — toda a negociação foi monitorada com autorização da Justiça.

Em uma das gravações obtidas pelo Jornal Nacional, em São Paulo, Hugo Chicaroni e Humberto Braz tentaram manipular a investigação, segundo a polícia. O objetivo seria deixar de fora o banqueiro Daniel Dantas e parentes dele:

Hugo Chicaroni: 

— A história de só livrar três tá bom, tá ótimo.

Delegado: 

— Isso é importante, porque quanto menos puder... Precisa saber exatamente o que é. Não dá pra fazer milagre.

Hugo Chicaroni: 

— São as pessoas que trabalham com ele até onde eu sei. É o Daniel, a irmã e o filho...

As conversas também falam em propina. Hugo transmite ao delegado a oferta de suborno proposta, segundo ele, por Daniel Dantas e oferecida por Humberto Braz, assessor do banqueiro.

Hugo Chicaroni: 

— Ele falou: “Eu tenho 500 mil para tratar desse assunto".

Delegado: 

— 500 mil?

Hugo:

— É, 500 mil dólares.

Segundo a investigação, do dinheiro mandado por Humberto Braz, parte foi paga 20 dias antes da operação policial que levou os envolvidos para a cadeia, como mostra uma gravação feita na frente do prédio em que mora Hugo Chicaroni.

Hugo Chicaroni: 

— Tá na mão.

Delegado: 

— Então tá certo, não vamos nem conferir.

Hugo Chicaroni

— Não. Eu não conferi. Esses pacotinhos ele me entregou em sacos de supermercado. Eu só pus dentro de uma outra sacola e botei aqui.

Delegado:

— Quantos pacotes tem?

Hugo Chicaroni:

— São cinqüenta... Dá dez pacotes.


Numa segunda conversa entre os dois homens que diziam representar o banqueiro Daniel Dantas e o delegado federal. Fotos e fichas cadastrais de Dantas foram mostradas durante um almoço em que o assunto era propina.

Delegado: 

— Pode ver com calma que eu não vou poder deixar com vocês esses documentos. Tem sonegação, tem lavagem, tem evasão de divisa, tem outros crimes contra o centro financeiro, gestão fraudulenta. São vários crimes. Uma investigação dessas sempre começa pequena e cresce.

Logo em seguida, o assunto passa a ser propina. Hugo Chicaroni fala em US$ 1 milhão.

Hugo Chicaroni:

— Já que ele já ofereceu 500 mil, pede 1 milhão de dólares. Pra ele chegar em 700, 800.

Em relatório encaminhado para a Justiça, o delegado conta que Humberto Braz, assessor do banqueiro, reafirmou que o suborno de US$ 1 milhão não seria problema e que ele já estaria autorizado por Daniel Dantas para fazer o pagamento.

As interceptações revelam um telefonema do ex-deputado e advogado Luiz Eduardo Greenhalgh para o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho. O ex-deputado queria saber se a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) estava seguindo Humberto Braz no Rio.

Na conversa aparece o nome de Luiz Fernando, que seria o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa. Segundo o monitoramento dos delegados, o telefonema aconteceu às 18h do dia 29 de maio.

Gilberto Carvalho:

— O general me deu o retorno agora, é o seguinte: não há nenhuma pessoa designada na presidência na Abin com esse nome. A placa do carro não existe, é fria, tá? Eles aqui acham que a única alternativa é que tenha sido caso de falsificarem documento. Eles não consideram possível que seja da Abin. Eu não falei com o Luiz Fernando ainda, mas não tem jeito. A Polícia Federal não usa a PM, eles não se misturam de jeito nenhum, tá? Então eu acho que o mais provável é que o cara tava armando mesmo alguma coisa, mas com documento falso, que também no Rio é muito comum, porque daqui não tem, eu pedi, insisti, pedi que visse com máximo cuidado, tal.

Greenhalgh:

— Seria bom dar um toque no Luiz Fernando também, hein?

Gilberto:

— Eu vou dar, eu vou dar. Amanhã cedo eu tenho que falar com ele, vou levantar isso para ele também.

Greenhalgh:

— Tá, tá bom. Tem um delegado chamado Protógenes Queiroz que parece que é um cara meio descontrolado, viu?

Gilberto:

— Ah é?

Greenhalgh:

— É.

Gilberto:

— Ele tá onde, o Protógenes agora?

Greenhalgh:

— Tá aí, aí em Brasília.

Gilberto:

— Ah, aqui em Brasília.

Protógenes Queiroz é o delegado que comanda a investigação contra o grupo de Daniel Dantas.


Em nota, Gilberto Carvalho se manifestou sobre as conversas. Ele confirma que no dia 28 de maio foi consultado por Greenhalgh sobre uma perseguição a um cliente seu — Humberto Braz —, que até então desconhecia.

O motorista do carro que perseguia Braz teria se identificado como tenente da Polícia Militar e exibido documentos que diziam estar a serviço da Presidência da República. Gilberto Carvalho diz ainda na nota que confirmou para Greenhalgh que o tenente está credenciado na Presidência, mas o trabalho que fazia nada tinha a ver com Braz.

Por fim, Gilberto Carvalho afirma que não fez contato algum com o Ministério da Justiça nem com a direção ou qualquer integrante da Polícia Federal. Em nota, o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh disse que não houve ilegalidade - e reafirmou que hoje atua como advogado do banqueiro Daniel Dantas.


Clique nos nomes abaixo e veja os perfis
Quem é Dantas
Quem é Pitta
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Clique no gráfico abaixo para ver matérias, comentário da colunista Rosane de Oliveira e como foi a Operação Satiagraha:

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