Notícias

 | 19/05/2008 04h23min

Bacci promete novos nomes de suspeitos e testemunhas

Ex-secretário foi o primeiro a trazer a público denúncias sobre irregularidades no Detran

Adriana Irion  |  adriana.irion@zerohora.com.br

Desde a criação da CPI do Detran, o deputado federal e ex-secretário da Segurança Pública Enio Bacci (PDT) é um dos mais dispostos a falar no plenarinho da Assembléia Legislativa. Na sessão de hoje, ele promete dar novos nomes de suspeitos e de testemunhas para que a CPI avance nas apurações.

Bacci levará nesta segunda-feira aos deputados um arsenal que começou a reunir quando assumiu a pasta e tratou de complementar depois de ser demitido, em abril do ano passado, pela governadora Yeda Crusius. O deputado federal foi o primeiro a trazer a público denúncias sobre irregularidades no Detran. Abaixo, leia trechos da entrevista concedida ontem pelo pedetista a Zero Hora, por telefone:

Zero Hora — Depois de ser demitido pela governadora Yeda Crusius, o senhor prometeu encaminhar dossiê sobre irregularidades no Detran a vários órgãos. Fez isso?

Enio Bacci —
Não, porque a Polícia Federal estava investigando e não queria que levantasse a lebre. Mas fui o primeiro a defender a CPI, e meu partido se juntou ao PT. Desde que a CPI foi instalada, fiz vários contatos para saber quando seria chamado para levar munição a eles.

ZH — Por que o senhor quer tanto falar à CPI?

Bacci —
Vejo pessoas que presenciam fatos e silenciam. Não pode. Temos de tornar a política mais séria. Como deputado, tenho esse dever e quero dizer o que sei. Quero que esta CPI não acabe em pizza. Alguém me disse: "Mas tem gente do PDT envolvida". Se tiver, tem de ser punido exemplarmente. Acho que esse grupo (investigado na Operação Rodin) tem raízes em quase todos os partidos políticos, em várias instituições, no Executivo, no Legislativo, no empresariado, quem sabe até no Judiciário. É um grupo muito bem estruturado e com visão política. Planejavam eleger governadores para se fortalecer. E há forte indicação que esse grupo tenha ramificações em outros desvios: na Corsan, CEEE, CGTEE, Banrisul e até na fraude dos selos.

ZH — Como o senhor vai fundamentar as denúncias sobre a possibilidade de dinheiro desviado ter financiado campanha ao governo do Estado em 2006?

Bacci —
Tenho duas testemunhas que atuaram na arrecadação de dinheiro que podem dar fundamentos que levem a investigação mais profunda. Não podemos deixar de buscar essa linha de investigação. Vou servir como interlocutor dessas pessoas que querem falar e que podem dar linha que conduza eventualmente ao uso de parte desse dinheiro na campanha.

ZH — O senhor dará nomes de novas testemunhas?

Bacci —
De pessoas — duas ou três — que precisam ser investigadas, que estiveram na secretaria e têm ligações familiares com os comandantes do Detran. E de quatro pessoas que querem testemunhar. A CPI está ouvindo só indiciados, que não falam. Precisamos ouvir testemunhas. Elas têm conhecimento de dentro do governo, com acesso aos principais envolvidos: Lair Ferst, Antônio Dorneu Maciel, Flavio Vaz Netto e Carlos Ubiratan dos Santos. Elas estão dispostas a falar.

ZH — Em quanto tempo, depois de assumir como secretário, o senhor soube de irregularidades no Detran?

Bacci —
Na primeira semana, recebi diversas denúncias de contratos aparentemente superfaturados e irregularidades no Detran, como desvio de dinheiro. Davam noção de que havia um grupo que não fazia licitação para cobrar propina. Percebi que, no Detran, não era prática fazer licitação.

ZH — Como o senhor encaminhou o assunto?

Bacci —
Cerca de 15 dias depois de assumir, disse à governadora que o Detran tinha irregularidades, que tínhamos de fazer uma limpeza e que eu tinha informações de que a Polícia Federal estava monitorando a situação.

ZH — Como a governadora reagiu?

Bacci —
Estava o secretário Zachia (Fernando, então chefe da Casa Civil) junto. Nunca falei com ela sem ele estar junto. Ela ficou em silêncio e disse: "Enio, vamos pensar sobre isso". Eu propus colocar uma direção suprapartidária, com PSDB, PDT e PMDB, e chamar um fiscal da Fazenda para fazer auditoria nos contratos. Voltei para a secretaria pronto para fazer isso. No dia seguinte, o secretário Zachia ligou e me disse: "Enio, não mexa no Detran porque a governadora determinou que não é para ser mexido, e ela vai tratar pessoalmente". Pensei que fosse investigar minhas denúncias, fiquei na expectativa. Em outra oportunidade, quando o Detran já não estava na minha secretaria, eu disse a ela: "Ainda me preocupa a questão do Detran". Yeda me disse: "Secretário, é complicado, mas não posso perder o apoio do deputado José Otávio Germano".

ZH — O senhor entendeu que ela não poderia mexer no Detran para não desagradar a José Otávio?

Bacci —
Entendi que precisaria manter ou ter algumas indicações de José Otávio. Se ele pediu, não sei, mas ela tinha essa preocupação.

ZH — O senhor teve dificuldades para nomear pessoal de sua confiança?

Bacci —
Vou apresentar isso para à CPI. De 350 funcionários que a secretaria tem, só consegui colocar cinco: meu chefe de gabinete e mais quatro funcionários rasos. Teve pressão para manter Ana Pellini (diretora-geral da gestão anterior a de Bacci), Napoleão (Ronaldo Napoleão, chefe de gabinete de José Otávio). Não tive autonomia, fui boicotado desde o primeiro dia. Quando mandava expediente ao Detran pedindo informações de contratos, a resposta não vinha. Depois que saí, me contaram que era voz corrente lá que não cumprissem pedido meu, pois eu seria secretário com passagem rápida pela secretaria.

ZH — O senhor procurou o então presidente do Detran, Flavio Vaz Netto?

Bacci —
Não conheço, nunca troquei uma palavra com Vaz Netto. Nem com Bira (Carlos Ubiratan dos Santos).

ZH — Conhecia Lair Ferst?

Bacci —
Não, só pela imprensa.

ZH — Por que o senhor era contra a transferência do Detran para a Secretaria de Administração?

Bacci —
Não há explicação lógica. O Detran precisava de limpeza na corrupção, não tem nada a ver com a Administração. Só posso imaginar que a retirada foi uma forma de inviabilizar que eu continuasse investigando. Se eu continuasse lá, teria colocado essa gente na cadeia e não levaria 10 meses. O desvio era escancarado.

ZH — O senhor procurou a OAB para falar de uma ação para recuperar o dinheiro desviado. Do que se trata?

Bacci —
Entendo que todo esse desvio de recursos não foi coibido, e diante disso cabe ação cível contra autoridades que se omitiram. José Otávio disse que não roubou e que para ele não interessa se outros foram beneficiados. Isso caracteriza omissão. Na função em que estava, ele não podia permitir isso. E tem a questão específica da governadora. Ela disse que levaria o Detran para outra secretaria. Imaginei que faria a investigação. Não fez. Se tivesse ação forte, teria se economizado R$ 10 milhões (tempo entre a data em que Bacci disse ter avisado Yeda e o dia em que a PF deflagrou a Operação Rodin). Pela omissão, eles têm de responder.

ZH — O senhor disse que em uma semana de trabalho recebeu várias denúncias. José Otávio foi secretário da Justiça e da Segurança por quatro anos e disse não saber de nada. Qual é a sua avaliação?

Bacci —
É impossível. A pessoa, por mais alienada, distanciada e por menos disposição que tenha de saber das coisas, não conseguiria ficar lá sem, no mínimo, ouvir suspeitas. Poderia não acreditar. Mas nunca chegar aos ouvidos, é inacreditável, inaceitável. Os próprios funcionários do quadro levantavam suspeitas. É impossível que, por quatro anos, o secretário não tenha percebido ou ouvido nada. É uma situação inimaginável.

Mauro Vieira  / 

Deputado levará nesta segunda-feira à Assembléia um arsenal que começou a reunir quando assumiu a pasta
Foto:  Mauro Vieira


Comente esta matéria

Notícias Relacionadas

18/05/2008 22h22min
Oposição não deve obter votos para prorrogar CPI do Detran por 60 dias
18/05/2008 22h07min
Bacci será ouvido nesta segunda na CPI do Detran
15/05/2008 22h41min
CPI do Detran: Ipojucan Custódio nega envolvimento com a Pensant
15/05/2008 22h11min
CPI do Detran: Bohn Gass insinua irregularidades na CEEE
15/05/2008 21h09min
Carlos Rosa nega que seu escritório tenha feito questões para exames do Detran
15/05/2008 19h56min
Advogado diz que faturamento de R$ 5,6 milhões com Fatec é normal
 
SHOPPING
  • Sem registros
Compare ofertas de produtos na Internet

Grupo RBS  Dúvidas Frequentes | Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2010 clicRBS.com.br • Todos os direitos reservados.