O governo do RS divulgou na noite deste domingo a carta de demissão de Ariosto Culau do cargo de secretário do Planejamento e Gestão. Durante a noite houve uma reunião entre os secretários de Infra-Estrutura e Logística, Daniel Andrade, da Casa Civil, Cézar Busatto, o porta-voz Paulo Fona e a governadora Yeda Crusius, que aceitou o pedido de Culau, feito em caráter irrevogável. O posto será ocupado interinamente pela secretária-adjunta da pasta, Ana Maria Severo.

A governadora já havia reagido neste domingo à intenção da CPI do Detran em convocar o ex-secretário. Cumprindo agenda em Bento Gonçalves, Yeda sustentou que a Assembléia Legislativa não deve interferir nas questões de governo. A governadora havia argumentado que sua decisão de manter o secretário na pasta foi madura.

No sábado a Rádio Gaúcha ouviu os 12 deputados titulares da CPI. A maioria queria a convocação de Culau. Sete abriram voto a favor do requerimento e dois, contra. Três parlamentares ainda aguardarão para se posicionar. A oposição tentará votar o documento na segunda-feira, mas o mais provável é que seja apreciado somente na semana que vem.

A crise envolvendo Culau iniciou depois que ele foi flagrado, na noite de quinta-feira, bebendo chope com o empresário Lair Ferst, um dos indiciados pela Operação Rodin por envolvimento na fraude do Detran.

Confira a íntegra da carta:

Porto Alegre, 27 de abril de 2008.

Governadora Yeda Crusius:

Quero lhe agradecer pelo incondicional apoio e confiança nesta caminhada que começou para mim há mais de 15 meses quando me incorporei a sua valorosa equipe de governo. Um período tão intenso de trabalho e convívio que parece a experiência de uma vida inteira.

Busquei cumprir aquilo que me propus quando retornei ao meu Estado depois de vários anos, contribuir para a implantação de um Plano de Governo escolhido pelo povo e de um projeto de mudança e transformação nas mais diversas áreas da administração do Estado, trazendo na bagagem meu conhecimento e capacidade profissional.

Um dos principais projetos no qual me envolvi diz respeito à proposição de medidas para assegurar que o custo da carteira nacional de habilitação fosse reduzido e à mudança do paradigma de prestação de serviços de exames teóricos e práticos por parte do DETRAN/RS mediante a realização de licitação, rompendo um histórico de mais de dez anos de contratação de Fundações, sem licitar.

Tudo, sujeito a um processo transparente de coordenação dos diversos agentes responsáveis pela execução destas medidas. Nada disso seria possível se não fosse a sua decisão política de enfrentar o problema e as suas conseqüências. Quero mais uma vez registrar que o meu papel de coordenação frente a este processo se pautou única e exclusivamente pelo interesse público, estando em todas as fases seguidos os princípios da legalidade, impessoalidade, publicidade, eficiência, moralidade e probidade.

De fato, o resultado da ação do Governo aponta no caminho de buscar solução para uma das principais causas que deram origem à investigação realizada pela Polícia Federal, denominada Operação Rodin. Portanto, reafirmo não haver qualquer conflito entre a minha conduta profissional e eventual interesse privado, principalmente originário das minhas relações pessoais.

Não tenho palavras para lhe retribuir a confiança em mim depositada após ter lhe exposto os fatos amplamente divulgados pela imprensa. Reafirmo o pedido de desculpas pelo profundo erro de avaliação sobre o impacto político e de abalo da imagem pública que a minha atitude acarretou, logo em um momento onde tínhamos acabado de anunciar o fruto de uma ampla mudança de paradigma na administração, que tenho certeza será continuada.

As suas palavras e manifestações de apoio e reconhecimento tiveram um enorme significado para mim, as carregarei para o resto da vida. A elas se somaram a dos amigos e diversos líderes e agentes políticos, secretários, colaboradores e inclusive de jornalistas que reafirmaram a crença de que aquilo que expus não depõe contra a retidão do meu caráter e a isenção da minha conduta profissional, por mais que os pré e pós julgamentos de natureza política daqueles que não me conhecem tenham alcançado uma ampla exposição e repercussão pública.

Entretanto, Governadora, algumas feridas levam tempo para cicatrizar e o Estado tem pressa de sair do histórico imobilismo e confronto decorrente de discussões ideologicamente ultrapassadas e imprecisas, do privilégio do acessório em detrimento do essencial, da disputa partidária fragmentada e desengajada para um sistema político de efetiva coalizão de objetivos e propósitos, das versões para os fatos, do imaginário para o concreto. E este Governo, sob a sua liderança, também tem pressa de por em marcha os seus projetos estruturantes, de apresentar ainda mais resultados além daqueles já divulgados por ocasião do balanço de 15 meses de Governo, e dos quais me orgulho de ter participado ativamente.

Assim, por motivos eminentemente de foro íntimo lhe apresento em caráter irrevogável o meu pedido de demissão, após muito refletir sobre todos os elementos motivadores para minha permanência.

Tenho muito a agradecer a todas as secretarias e órgãos, no exercício da minha principal função, de coordenação de projetos estratégicos para a transformação de um plano em realidade. Em particular, nada disso seria possível se não fosse a extrema dedicação, competência e espírito público demonstrado por toda a equipe da Secretaria de Planejamento e Gestão, nos bons e nos maus tempos, em particular pela minha secretária-adjunta, Ana Maria Severo, e por todo o corpo diretivo. Não posso também deixar de registrar a minha dívida com os quadros técnicos da Secretaria de buscar o devido reconhecimento a esta carreira pela elevada capacitação e pelo seu papel de destaque para consolidar a necessária profissionalização da administração pública gaúcha.

Por fim, estarei mesmo que a distância, torcendo por todos e se possível contribuindo no que estiver ao meu alcance para o sucesso do seu Governo.

ARIOSTO CULAU

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