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 | 04/04/2008 02h45min

Silêncio de ex-coordenador da Fatec faz deputados partirem para o ataque

Quarto indiciado pela PF, Trevisan obteve liminar para não responder a perguntas

Atualizada às 03h58min

Quarto indiciado pela Operação Rodin a ser beneficiado com liminar da Justiça para não responder a perguntas da CPI do Detran sob risco de auto-incriminação, o professor universitário Dario Trevisan de Almeida surpreendeu os integrantes da comissão à 0h30min desta sexta-feira ao exercer o direito ao silêncio.

Trevisan respondeu apenas a perguntas pessoais como idade e profissão. Em seguida, encaminhou à mesa cópia de depoimento prestado à Polícia Federal (PF) e disse que não acrescentaria novas informações ao que já tinha dito.

— Permaneço em silêncio — disse.

Ex-coordenador do projeto Trabalhando pela Vida da Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência (Fatec), Trevisan confundiu a CPI. Uma decisão da juíza Simone Barbisan Fortes, da 3ª Vara da Fazenda Pública de Santa Maria, que preside o inquérito da Operação Rodin, determinou que todos os documentos da investigação federal, incluindo o depoimento de Trevisan à PF, permaneçam em sigilo.

Coube ao vice-presidente da comissão, deputado Paulo Azeredo (PDT), propor uma saída para o impasse. Ele sugeriu que a sessão fosse suspensa para que os deputados pudessem ler o depoimento e fazer perguntas com base nas informações prestadas, sem que fosse preciso recorrer ao texto escrito e se corresse o risco de afrontar a decisão da juíza.

A proposta provocou polêmica. O relator da CPI, deputado Adilson Troca, e a deputada Zilá Breitenbach, ambos do PSDB, disseram que não tinham segurança se a leitura do depoimento, mesmo em caráter reservado, estava em consonância com a decisão judicial e que não queriam ler o documento.

— Ele já disse que não vai falar e faz isso amparado na lei — disse Troca mais tarde.

Pouco antes da 1h, deputados deixaram o plenarinho para protocolar o ingresso do depoimento na CPI e permaneceram por 46 minutos na secretaria da comissão, no sexto andar da Casa, lendo o material. Nesse período, Trevisan permaneceu sentado à mesa do plenarinho com os advogados Daniel Gerber e José Henrique Salim Schmidt.

Ao retornar ao trabalho, o primeiro deputado a inquirir Trevisan foi Elvino Bohn Gass (PT). A oito perguntas sobre o suposto esquema de propina entre Fatec e Detran, seus participantes e outros detalhes sob investigação, Trevisan respondeu da mesma forma:

— Vou permanecer em silêncio.

— Quem sabe o seu silêncio possa significar conivência — retorquiu Bohn Gass.

Em seguida, Azeredo conseguiu arrancar uma resposta diferente de Trevisan.

— Gaúcho? — perguntou.

— Sim.

— De onde? — devolveu o deputado.

— Santa Maria.

Azeredo garantiu que a CPI iria "respeitar o silêncio" do depoente. Marquinho Lang (DEM) também optou por não questionar o depoente.

Raul Carrion (PC do B) foi um dos parlamentares da oposição que mais fustigaram Trevisan. Ao ter negadas respostas a suas perguntas, o parlamentar intercalava comentários como "quem não deve, não teme, e tudo indica que o senhor teme" e "o seu silêncio é comprometedor e fala por si só".

Em nova rodada de perguntas, Bohn Gass conseguiu romper o silêncio de Trevisan ao indagá-lo sobre como se sentia diante de seus alunos. Em tom de desabafo e prestes a chorar, Trevisan disse que criou na Universidade Federal de Santa Maria o Programa de Ingresso ao Ensino Superior:

— Eu tive a Justiça durante três anos atrás de mim por causa desse programa e hoje todas as universidades do país copiam, a última foi a USP. É um programa onde apliquei provas em mais de 400 municipios fora o restante do país. Eu cheguei no meu primeiro dia de aula e disse para meus alunos: eu fiz o vestibular de vocês, vocês me conhecem desde que entraram no primeiro ano do Ensino Médio, me acompanharam nesse programa que está em todas escolas do Rio Grande do Sul, e eu fui indiciado pela Polícia Federal por fazer um trabalho para a universidade, para a Fatec. Quando tiverem alguma coisa a me perguntar sobre esse indiciamento, sobre isso, nós podemos conversar em sala de aula, desde que eu possa fazer isso. E disse a mesma coisa no meu departamento.

O petista então perguntou se Trevisan se sentia injustiçado pela PF. O professor preferiu não responder. Pouco depois das 3h, a sessão foi encerrada.

ZERO HORA
Marcos Nagelstein / 

Trevisan (E) distribuiu cópia de depoimento à PF e disse que não acrescentaria novas informações
Foto:  Marcos Nagelstein


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