| 04/04/2008 02h45min
Quarto indiciado pela Operação Rodin a ser beneficiado com liminar da Justiça para não responder a perguntas da CPI do Detran sob risco de auto-incriminação, o professor universitário Dario Trevisan de Almeida surpreendeu os integrantes da comissão à 0h30min desta sexta-feira ao exercer o direito ao silêncio.
Trevisan respondeu apenas a perguntas pessoais como idade e profissão. Em seguida, encaminhou à mesa cópia de depoimento prestado à Polícia Federal (PF) e disse que não acrescentaria novas informações ao que já tinha dito.
— Permaneço em silêncio — disse.
Ex-coordenador do projeto Trabalhando pela Vida da Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência (Fatec), Trevisan confundiu a CPI. Uma decisão da juíza Simone Barbisan Fortes, da 3ª Vara da Fazenda Pública de Santa Maria, que preside o inquérito da Operação Rodin, determinou que todos os documentos da investigação federal, incluindo o depoimento de Trevisan à PF, permaneçam em sigilo.
Coube ao vice-presidente da comissão,
deputado Paulo Azeredo (PDT), propor uma saída para o impasse. Ele sugeriu que a sessão fosse suspensa para que os deputados pudessem ler o depoimento e fazer perguntas com base nas informações prestadas, sem que fosse preciso recorrer ao texto escrito e se corresse o risco de afrontar a decisão da juíza.
A proposta provocou polêmica. O relator da CPI, deputado Adilson Troca, e a deputada Zilá Breitenbach, ambos do PSDB, disseram que não tinham segurança se a leitura do depoimento, mesmo em caráter reservado, estava em consonância com a decisão judicial e que não queriam ler o documento.
— Ele já disse que não vai falar e faz isso amparado na lei — disse Troca mais tarde.
Pouco antes da 1h, deputados deixaram o plenarinho para protocolar o ingresso do depoimento na CPI e permaneceram por 46 minutos na secretaria da comissão, no sexto andar da Casa, lendo o material. Nesse período, Trevisan permaneceu sentado à mesa do plenarinho com os advogados
Daniel Gerber e José Henrique Salim
Schmidt.
Ao retornar ao trabalho, o primeiro deputado a inquirir Trevisan foi Elvino Bohn Gass (PT). A oito perguntas sobre o suposto esquema de propina entre Fatec e Detran, seus participantes e outros detalhes sob investigação, Trevisan respondeu da mesma forma:
— Vou permanecer em silêncio.
— Quem sabe o seu silêncio possa significar conivência — retorquiu Bohn Gass.
Em seguida, Azeredo conseguiu arrancar uma resposta diferente de Trevisan.
— Gaúcho? — perguntou.
— Sim.
— De onde? — devolveu o deputado.
— Santa Maria.
Azeredo garantiu que a CPI iria "respeitar o silêncio" do depoente. Marquinho Lang (DEM) também optou por não questionar o depoente.
Raul Carrion (PC do B) foi um dos parlamentares da oposição que mais fustigaram Trevisan. Ao ter negadas respostas a suas perguntas, o parlamentar intercalava
comentários como "quem não deve, não teme, e tudo indica que o senhor teme" e "o seu silêncio é comprometedor e fala por si
só".
Em nova rodada de perguntas, Bohn Gass conseguiu romper o silêncio de Trevisan ao indagá-lo sobre como se sentia diante de seus alunos. Em tom de desabafo e prestes a chorar, Trevisan disse que criou na Universidade Federal de Santa Maria o Programa de Ingresso ao Ensino Superior:
— Eu tive a Justiça durante três anos atrás de mim por causa desse programa e hoje todas as universidades do país copiam, a última foi a USP. É um programa onde apliquei provas em mais de 400 municipios fora o restante do país. Eu cheguei no meu primeiro dia de aula e disse para meus alunos: eu fiz o vestibular de vocês, vocês me conhecem desde que entraram no primeiro ano do Ensino Médio, me acompanharam nesse programa que está em todas escolas do Rio Grande do Sul, e eu fui indiciado pela Polícia Federal por fazer um trabalho para a universidade, para a Fatec. Quando tiverem alguma coisa a me perguntar sobre esse indiciamento, sobre isso, nós podemos conversar em sala de aula, desde que
eu possa fazer isso. E
disse a mesma coisa no meu departamento.
O petista então perguntou se Trevisan se sentia injustiçado pela PF. O professor preferiu não responder. Pouco depois das 3h, a sessão foi encerrada.
Trevisan (E) distribuiu cópia de depoimento à PF e disse que não acrescentaria novas informações
Foto:
Marcos Nagelstein
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