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Eleições  | 07/10/2010 05h59min

O momento agora é o Brasil, diz governador Leonel Pavan

Em entrevista ao Diário Catarinense, político revela entusiasmo com campanha eleitoral

Moacir Pereira, Natália Viana e Roberto Azevedo

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O governador Leonel Pavan (PSDB) quer continuar pisando no acelerador nos três meses que lhe restam à frente da administração de Santa Catarina. Empolgado com a agenda de inaugurações até o final do ano e com a conquista de financiamentos como o Microbacias 3, ele não quer perder tempo.

Depois da neutralidade adotada no primeiro turno, Pavan garante que continua à frente da campanha de José Serra e que o convite para Luiz Henrique da Silveira (PMDB) integrar a coordenação reforça ainda mais o grupo.

O entusiasmo do tucano só diminui quando são citados dois assuntos: Operação Transparência e o fracasso de se eleger governador. Apesar de garantir que os dois assuntos são páginas viradas, admite que as feridas ainda estão cicatrizando. 

Leia a seguir na íntegra a entrevista concedida ao Diário Catarinense.

O senhor tem falado com Sérgio Guerra e com José Serra?
Pavan — Falei com o Guerra no domingo à noite, três vezes na segunda-feira, duas vezes ontem e agora de manhã. E falei com José Serra duas vezes segunda e uma vez ontem. Eles estão muito otimistas, muito felizes, entusiasmados com as adesões que vem surgindo. Eu passei para ele algumas adesões confirmadas de deputados do PP, como o Kennedy Nunes e o Comin. Falei com o Joares Ponticelli, não falei ainda com o Reno Caramori, mas já está mais ou menos confirmado que estaria junto, e algumas suplências importantes do PP. Não falei ainda com Esperidião e Angela Amin, mas vou falar hoje (ontem) com o Sérgio Guerra e com o Serra, porque o Serra pediu para que eu fizesse todo o trabalho para aproximar seja qual for o partido. Vou conversar com todos. Falei com o Rogério Novaes (PV) e ele disse que vai estar reunido com o pessoal de Joinville, então sugeri a ele que o Luiz Henrique converse com ele. porque como a decisão sairá de Joinville, eles estão mais próximos. Algumas outras pessoas vou passar para o Luiz Henrique conversar e outras que já tenho liberdade eu vou conversar. A campanha agora deixa de ser partidária, por isso não vamos fazer uma coisa de esteve contra, esteve a favor. Agora é buscar o a favor, isto interessa a todos. Tenho certeza que nem Colombo, nem Luiz Henrique e nem Paulo Bauer irão rejeitar qualquer apoio a Serra. O momento agora é o Brasil.

Como o senhor viu este pedido do Serra para que Luiz Henrique da Silveira assuma a coordenação da campanha?
Pavan — Eu soube ontem pelo Luiz Henrique, que me ligou dizendo que também havia sido convidado para coordenar. Eu disse para ele que é importante, que quanto mais coordenadores e líderes é melhor. Mas quem lidera o PSDB sou eu, sou presidente do partido. Acho muito importante o Luiz Henrique estar no processo como coordenador, porque eu já sou do PSDB do Serra, o Colombo já é do DEM, que tem a candidatura como vice. Cada conquista que vier do PMDB é muito importante.

O senhor já deu alguma sugestão para a campanha de Serra no segundo turno?
Pavan
— Eu disse que acho que ele deve ir mais para a rua. Por onde passou, ele fez um arrastão. Ele esteve em Florianópolis, deu resultado. Esteve na região de Balneário Camboriú e em todas as cidades foi vencedor. Foi a Blumenau e foi vencedor. Então sugeri ao Sérgio Guerra que onde ele não foi, ele teve os maiores problemas, como, por exemplo, a região Oeste. Fiz uma pauta de visita ao Estado nesta quinta-feira ou no sábado, que seria o momento mais quente da Oktoberfest, com gente do Brasil inteiro. Me telefonaram para que o Serra desfilasse na centopéia no sábado. Por isso, ele irá a Chapecó e depois a Blumenau, sendo que se houvesse tempo seria interessante que ele passasse no Sul do Estado. Eles estão valorizando muito Santa Catarina, veja a questão do compromisso com a duplicação da BR-470 que ele já citou diversas vezes, não precisa mais nem escrever, ele está falando.

O senhor ainda acha que a neutralidade adotada nas eleições foi a decisão correta?
Pavan
— Eu fiz certíssimo. Quando ando nas ruas, as pessoas dizem que eu fiz correto, fiz com que a campanha tivesse um nível nunca antes visto no Estado, tranquila, sem ataques à administração. Foi tranquila porque o governo não se manifestou sobre uma candidatura. E se esta paz reinou, muito foi por que o governador não saiu para a rua dizendo sua posição. A minha postura fez ainda com que eu pudesse ir a vários municípios, administrados pelos mais diversos partidos, e fosse muito bem recebido. E possibilitou um feito histórico, a questão do Microbacias 3. Imagina ter o Luciano Coutinho, que é um dos homens fortes da Dilma, dentro desta casa, dez dias antes das eleições e assinar comigo a liberação de recursos. A minha neutralidade levou o governo para frente.

Alguém orientou o senhor a adotar esta estratégia?
Pavan
— Não, fui eu quem decidiu, só comuniquei à direção nacional do PSDB que ficaria neutro. Eu tinha que marcar o meu governo. Se eu tomasse uma posição política, sem estar disputando a eleição, eu iria encurtar meu governo. Minha agenda é extensa, não dou conta de atender todas as pessoas. Se partisse para uma eleição, eu teria que estar acompanhando o processo eleitoral. Não me disseram nem se eu estava certo e nem se estava errado.

A sua neutralidade, muitas vezes, soou para adversários como uma possibilidade de ter seu apoio. Era esta sua intenção?
Pavan
— Não, isso partiu deles. Eu nunca deixava transparecer nada, zero.

Mas o senhor deu algumas declarações favoráveis a Angela Amin (PP).
Pavan
— Isso aconteceu em Palma Sola, numa brincadeira. Estávamos eu e o Neuto De Conto (PMDB) conversando em uma roda e alguém perguntou porque nós dois não estávamos disputando as eleições. E eu disse que era porque "fomos corneados politicamente", numa brincadeira para o Neuto De Conto. Era uma conversa extrovertida. Depois entrei no carro do prefeito e havia um adesivo da Angela. Mas ele foi candidato único em 2008, tanto que na reunião havia gente de todos os partidos. E em quantos carros com adesivo do DEM eu entrei? Eu subi no palanque do Serra com o Colombo.

Optando pela neutralidade, o senhor acabou se blindando, evitando explorações de assuntos polêmicos como a Operação Transparência. Este também era um objetivo?
Pavan
— Eu não pensei nisso. Eu adotei esta estratégia para governar. Eu não sou candidato, então vou governar o Estado. Eu preciso deixar minha marca.

O senhor se sente traído pela tríplice aliança?
Pavan
— Eu virei a página. Eu fiquei muito magoado com o Eduardo (Pinho Moreira) de ele dizer o que disse na imprensa depois de uma conversa de cinco horas comigo. Eu cheguei a comunicar o Luiz Henrique que estávamos conversando. Mas tudo bem, isso passou também.

O senhor foi convidado para a reunião da tríplice e para a entrevista da tríplice aliança na última segunda-feira?
Pavan
— Não e nem havia por que me convidar.

E no segundo turno, o senhor entrará na campanha?
Pavan
— Agora a questão é o Brasil, é sim ou não. Não atrapalha o meu governo. Vou saber governar, quero encerrar bem.

Sobre seu futuro político, o senhor pretende se candidatar para a prefeitura de Florianópolis?
Pavan
— Quem não gostaria de ser prefeito da Capital, mas nunca eu ventilei esta hipótese. Surgiu a partir de pessoas que vieram jantar aqui, surgiram convites e ideias. Mas moro em Balneário Camboriú e aqui em Florianópolis há centenas de líderes que conhecem muito mais esta terra do que eu. Vou voltar para Balneário Camboriú, tenho meus negócios, que hoje estão sendo tocados pelos meus filhos.

O senhor pleiteia algum cargo num eventual governo Serra?
Pavan
— Não pensei nisso. Nunca, nem o Serra, nem Sérgio Guerra falou em me dar algum posto de destaque. Eu sei assimilar os recados que me são dados. Uma vez o Serra disse "eu não faço concessões, meu governo será um governo técnico". Isso não quer dizer que não posso assumir um cargo. Mas não posso ficar pleiteando, primeiro porque se eu ficar pensando nisso e eu não for, vou me sentir constrangido.

Ficar sem mandato o preocupa com relação à Operação Transparência, que desce do STJ para a primeira instância?
Pavan
— Não. O processo está com os advogados, vou continuar fazendo as defesas que vinha fazendo. O processo está cheio de nulidades. Sobre este processo, nunca eu ouvi uma pessoa na rua falar sobre este assunto. E eu temia por isso, eu esperava uma reação, era até natural, mas não houve.

O senhor se arrepende de não ter tomado posse em janeiro?
Pavan
— Sim, fui aconselhado por amigos, pela família e não tomei posse. Tinha passado o final do ano, aquela tristeza, eu estava meio desanimado. Vim conversar com o Luiz Henrique e disse que não iria assumir. Meus advogados queriam que eu assumisse. Num ato dei a palavra e não voltei atrás. Com isso não tive um ano de orçamento.

Como serão os seus três últimos meses de governo?
Pavan
— Parece que estamos iniciando o governo, tamanha é a velocidade. Tenho 136 escolas para inaugurar até o final do ano, estamos com quase mil ações de governo no Estado. Na quarta-feira (13) terei uma reunião com todos os secretários e vou dizer para que todos continuem este processo. Muda o governador, mas minhas ações continuam. Quero acelerar o processo do concurso público da segurança pública para ver se já em abril o Colombo já tenha os três mil policiais militares e os 600 policiais civis. Quase 700 soldados da PM irão se aposentar neste ano e se todos saírem, será um caos esta temporada. Pedi para que estudem a possibilidade de enviarmos um projeto de lei para a Assembléia para estes policiais ficarem mais três anos e por este período, eles subiriam um posto, teriam uma promoção antes de se aposentar. Vou deixar um governo azeitado, com dinheiro em caixa, com todos os compromissos cumpridos, com dinheiro vindo.

E a polêmica sobre a não inauguração do hospital de São Miguel do Oeste?
Pavan
— Isso é uma injustiça. Seria uma irresponsabilidade, tem ralo que não tem saída de água. A obra foi mal feita, tanto que a empresa faliu. Só tem uma forma de inaugurar aquilo, é ter uma entidade que toque o hospital. Mas nenhuma entidade quer entrar, porque o hospital está inacabado. Outra saída seria o Tribunal de Contas do Estado me autorizar a licitar a obra de novo. É cada injustiça. E o que eu fiz na Escola Bom Pastor, em Chapecó, que inclusive foi usada em campanha? A obra estava parada porque estávamos devendo R$ 5 milhões, fui lá, coloquei R$ 3 milhões e a construtora terminou a escola.

Sobre a transição, o senhor já nomeou alguém para liderar a equipe?
Pavan
— Não pensei ainda, mas vou indicar pessoas que conhecem bem o governo. O senhor está deixando várias ações em curso que deverão ser concluídas pelo próximo governo, como a questão da Penitenciária da Agronômica, a restauração da Ponte Hercílio Luz, o concurso da Segurança pública e a recuperação de algumas SCs.

O que o senhor recomenda como prioridade para o seu sucessor?
Pavan
— Continuar as ações na Segurança pública. Conseguimos uma melhoria muito grande nesta área, nós unimos as duas polícias e despolitizamos a Segurança pública, a transformamos em uma secretaria técnica.

Qual o senhor acha que foi a maior realização do seu governo?
Pavan
— Foram muitas, mas acho que a despolitização do governo, transformar em uma equipe técnica.

O que o senhor se arrepende de não conseguir ter feito?
Pavan
— O Centroeventos de Balneário Camboriú. Quando terminei o projeto para a licitação, o TCE não aceitou, dizendo que deveria ser feita uma nova licitação para a parte estrutural. A mesma empresa acabou ganhando, mas não podia fazer os dois projetos. Tivemos que fazer outra licitação. Isso me tomou 120 dias, mas bato estaca desta obra até o final do ano. Acho que o Colombo não pode esquecer desta obra, que será uma das maiores do Brasil. Hoje já teríamos lotado todas as semanas com eventos.

O senhor pretende aceitar a pensão vitalícia dos ex-governadores ou abrirá mão?
Pavan
— Só se a Justiça me tirar.

Com menos de um ano a frente do governo o senhor acha que conseguiu deixar sua marca?
Pavan
— Com esta aprovação que estou tendo, estou muito bem. Eu mesmo me surpreendi com a recepção que tive em cada lugar, não é pouca gente. Não sei se vai continuar agora, mas está muito bom. Mas nestes dois anos que posso estar fora, depende de manter ou não todo este prestígio.

Charles Guerra / 

Depois da neutralidade adotada no primeiro turno, Pavan garante que continua à frente da campanha de José Serra
Foto:  Charles Guerra


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