Eleições | 15/08/2010 21h39min
No roteiro que ele mesmo planejou, o governador de Santa Catarina, Leonel Pavan (PSDB), seria hoje um dos protagonistas da eleição catarinense. Depois de herdar o cargo de Luiz Henrique da Silveira (PMDB), estaria disputando a reeleição com a caneta na mão — uma vantagem sempre importante nesse tipo de disputa.
Fragilizado pela denúncia do Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) de que teria agido para favorecer uma empresa de combustíveis ainda como vice-governador e pelas disputas internas da tríplice aliança, Pavan acabou alijado da eleição, do roteiro que planejava e se tornou a grande ausência das sucessão.
Na quinta-feira, ele recebeu o candidato Raimundo Colombo (DEM) no Centro Administrativo e afirmou que vai ficar neutro no primeiro turno, apesar de o PSDB participar da coligação. Oficialmente, diz que sua prioridade é cuidar bem do governo, das atividades administrativas, entregar o Estado em dia ao sucessor. Mas quem convive com o tucano garante que o distanciamento é causado pela frustração de não ser candidato e pela mágoa com os próprios aliados.
— Ele se preparou para ser governador. De repente, quando a bola estava na marca do pênalti, foi sacado. É um sentimento de muita frustração. Não só dele, mas da família, dos amigos próximos — diz um tucano próximo a Pavan.
O desvio na rota começa em dezembro de 2009, quando o MP-SC denunciou Pavan e outras seis integrantes do governo estadual por irregularidades envolvendo uma distribuidora de combustíveis, a Arrows Petróleo do Brasil Ltda. A acusação contra Pavan era o recebimento de R$ 100 mil em propina para remover dificuldades fiscais que a empresa enfrentava junto à Fazenda estadual. Em 25 de março, às vésperas do Tribunal de Justiça votar se aceitava a abertura do processo, Pavan assumiu o governo em definitivo e a denúncia foi encaminhada para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, onde ainda não foi analisada.
Cargos
Dois dias antes da posse, o DEM anunciou que entregava os cargos no governo estadual. A justificativa era a necessidade de se desvincular do governo para viabilizar a candidatura de Raimundo Colombo. Parte dos tucanos avalia que a denúncia do MP-SC foi usada politicamente pelos próprios aliados para enfraquecer Pavan, culminando no desembarque do DEM.
Mesmo assim, com a caneta na mão e a poeira da denúncia baixando, Pavan começou a trabalhar para ser candidato. Dois dias antes de Eduardo Pinho Moreira (PMDB) aceitar ser vice de Colombo, Pavan convidou o peemedebista para o mesmo cargo em sua chapa. Além da recusa, leu nos jornais do dia seguinte Moreira classificar o convite como "piada". A última tentativa de encarar uma candidatura em chapa pura acabou abortada em plena convenção tucana, com a orientação nacional para que apoiasse Colombo.
— Ele não está chateado por não ser candidato. Está chateado com a forma como se deu a não candidatura — diz o deputado estadual Dado Cherem, um dos tucanos mais ligados a Pavan.
Leonel Pavan já dava sinais de sua neutralidade no primeiro turno antes mesmo do encontro de quinta-feira com Raimundo Colombo. Mesmo com a campanha eleitoral em curso, priorizou agenda administrativa, descolada dos eventos da tríplice aliança. Quando o presidenciável José Serra (PSDB) veio a Santa Catarina, dia 23 de julho, em evento que mobilizou as principais lideranças da coligação governista, Pavan estava na República Checa, em viagem oficial.
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