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Esportes  | 30/09/2011 08h58min

Clemer sonha em treinar o Inter e exalta o Rio Grande: "Foi a terra que escolhi para abraçar"

Diário Gaúcho traça um perfil do ex-goleiro multicampeão

Christiane Matos  |  christiane.matos@diariogaucho.com.br

No campo, ele foi um dos maiores vencedores da história do Inter. Agora, a meta é o sucesso na casamata. Aos 42 anos, Clemer Melo da Silva tirou as luvas e assumiu a prancheta. Já no primeiro ano como técnico de futebol, foi campeão gaúcho com a equipe juvenil do Inter, em agosto.

Líder nato e de personalidade forte, o ex-goleiro admite que seu maior sonho é treinar o time do coração:

— Vou brigar, trabalhar no dia a dia para que quando apareça uma oportunidade, eu possa estar lá.

Há 10 anos no Rio Grande do Sul, o maranhense já se considera gaúcho: adora chimarrão e um bom churrasco.

— Esta foi a terra que escolhi para abraçar, que me deu todas as alegrias — destaca.

Diário Gaúcho: No primeiro ano como treinador, ganhaste a Copa FGF Sub-17. Campeão na casamata é diferente?
Clemer:
Totalmente. Fico feliz por conquistar este título, com uma equipe que foi superior no campeonato todo. Sempre fui de prestar atenção no que os treinadores falavam, como tem de ser o esquema defensivo, o ofensivo, o meio-campo pra articular. Depois que parei, aprimorei, porque pensava em ser treinador. Estou começando com alegria, até porque é uma coisa de que gosto. Sempre tive esse perfil, sou um líder, sempre me cobrei muito e tenho certeza que isso ajuda no treino.

DG: Para ter uma carreira sólida como técnico, é ideal começar pela base, para adquirir conhecimento?
Clemer:
Não necessariamente. Se você tiver o conhecimento e o perfil, não. Trabalhar em categoria de base é diferente. Consigo ver antes o que vai ocorrer e tenho de saber passar aos garotos. Precisa de paciência, porque às vezes o garoto ainda está verde. É uma experiência boa para a carreira de treinador. De vivência no futebol, tudo o que posso, passo a eles.

DG: Clemer treinador é durão?
Clemer:
Não mudo muito, não. Fora do trabalho, brinco. No treino, cobro. Tem de saber separar. No jogo, fico nervoso porque sou emotivo, sempre quero ganhar. Se disputar um torneio de palitinho, quero ganhar. Eles (jogadores) sabem que cobro não para prejudicar nem menosprezar. Venho aqui acelerar o processo deles. Se, no começo da minha carreira, para me passar as coisas, eu tivesse um cara com a experiência que hoje tenho, teria sido uma maravilha. Eles têm esse privilégio hoje para que, lá na frente, não tropecem.

DG: Sonhas treinar o Inter?
Clemer:
Com certeza! Não é um sonho só meu, é de qualquer um. Hoje, o Inter é um dos maiores clubes do Brasil, internacionalmente conhecido. Claro, você deve ter capacidade e conhecimento. Vou brigar, trabalhar para que quando apareça oportunidade, eu possa estar lá. E quero aprender com os treinadores que estão aqui, como Dorival. Temos de pegar os ensinamentos dos bons, como Abel, Muricy, Joel Santana, com os quais aprendi muito.

DG: Como avalias o ídolo Falcão como técnico colorado?
Clemer:
Não acompanhei muito, porque tivemos um torneio no Espírito Santo e tive pouco acesso a eles. Mas Falcão é um grande profissional, meu amigo, um cara que prezo muito, respeitador. Às vezes as coisas dão certo, às vezes não. Treinador de time grande tem de ganhar. Independentemente se é ídolo ou não, vai ser cobrado. Falcão teve vários títulos como jogador, como Renato, no Grêmio. Te respeitam como jogador, mas como treinador só se ganhar.

DG: E o início de Dorival?
Clemer:
Chegou na hora certa. É um baita profissional, te recebe bem. Essa postura ajuda, principalmente com quem trabalha aqui e vai te dar dicas. Ele pediu para eu aparecer mais no profissional, falar sobre a base. É um cara de quem todo mundo gosta, e isso só traz coisas boas.

DG: Como foi a decisão de pendurar as luvas?
Clemer:
Em qualquer profissão é difícil, principalmente no começo. Quando saí dos gramados e fui ser preparador de goleiros foi para não me afastar bruscamente. Fui me acostumando, mas no início parecia que ainda jogava. No Mundial (2010), sofri muito, porque parecia que eu estava ali. Minha maior tristeza foi não ter ganho o Brasileiro pelo Inter. Em 2005, tomaram da gente, e noutras duas, fomos vices. Foi o título que faltou.

DG: Bateste na trave com a Portuguesa (em 1996, perdeu o Brasileiro para o Grêmio)...
Clemer:
É, mas dói não ter vencido com o Inter, o clube em que vesti a camisa, mesmo. Hoje sou torcedor. Gosto do clube, de assistir aos jogos. Por exemplo, tive cinco anos no Flamengo que não se comparam a três no Inter. Aqui, tudo foi diferente: a recepção, o sufoco no começo... Quando cheguei, o torcedor reclamava para mim: "Pô, quando vamos ganhar título importante? A gente atura o outro lado, vive de títulos antigos..." Já teve um que me disse que agora podia morrer feliz, porque ninguém mais fica buzinando ele. Vai passar cem anos e vão lembrar disso. Fico feliz por participar dessa história e de trabalhar no Inter com possibilidade de projeção.

DG: Há 32 anos o Inter não ganha o Brasileiro. Por que é tão difícil essa competição?
Clemer:
Acho que, para ganhar, tem de unir forças, fazer um grupo forte. Duro é que hoje, com a expressão que o Inter tem, joga títulos paralelos e, em todo torneio, tem de ganhar. Neste ano já ganhamos dois títulos, Gauchão e Recopa, Começamos o ano bem. Acredito que se o Inter não for campeão brasileiro tem total possibilidade de se classificar à Libertadores. Aí, ano que vem, vamos brigar de novo e a prioridade vai ser a Libertadores. É difícil priorizar os dois, porque são sacrificantes, mas acho que nada está definido no Brasileiro, e o Inter tem um baita time e uma baita comissão técnica para buscar o título.

DG: Em 2010, as críticas aos goleiros e a indefinição da camisa 1 respingaram no teu trabalho como preparador de goleiros?
Clemer:
Foi conturbado. Quando saí do gol, era grande a responsabilidade de assumir a camisa 1. Qualquer erro, o mundo vinha abaixo. Goleiro precisa de ritmo de jogo, de deixar o medo passar. Aí, veio Pato Abbondanzieri. Baita profissional, mas de uma escola a que o Brasil está acostumado.

DG: Como vês a afirmação do Muriel?
Clemer:
Tem tudo para dar certo. A gente sabe que faltam detalhes, mas ele pega jogando. É seguro, passa confiança aos jogadores. Além de ser um baita cara. Se cuida, não tem vício de bebidas, cigarro, cuida do corpo dele, é um cara família. Você nunca vai ouvir falar dele na noite. Só tem a crescer, e tenho certeza de que, como fiquei dez anos jogando, ele fica também.

DG: Foste convidado a integrar partidos políticos e a lançar candidatura. Pensaste nisso?
Clemer:
Ainda me procuram. Dia desses me ligaram, para concorrer a vereador. Da outra vez era deputado federal, queriam competição com Danrlei, pelo lado do Grêmio, e eu pelo Inter. Mas não me vejo político. Minha convicção de vida é outra. Não consigo ver as coisas ocorrerem e eu estar lá e ter de entrar num "plano de trabalho" - para não dizer esquema. Acredito muito em Deus, sou evangélico, e acho que haveria um conflito muito grande na minha vida.

DG: Fora do trabalho, o que gostas de fazer nas folgas?
Clemer:
Sou muito família. Saio com minha esposa, Elizabeth, e minhas filhas, Eliziê (14 anos) e Elizabel (11 anos). Vamos a restaurantes, viajamos pelo Interior. Gosto de ir à academia, passear em shoppings. E adoro churrasco e chimarrão. Acho que nenhum gaúcho tem tanta cuia como eu! Adoro também um bom vinho.

Quem é o vivente
Nome:
Clemer Melo da Silva
Nascimento: 20 de outubro de 1968, em São Luís (MA)
Clubes: Moto Clube (1987), Guaratinguetá (1988), Santo André (1989), Catuense (1989), Maranhão (1990-1992), Moto Clube (1993), Ferroviário (1993), Remo (1994-1995), Goiás (1995-1996), Portuguesa (1996-1997), Flamengo (1997-2002), Internacional (2002-2009)

Um gaúcho maranhense

Há uma década no Rio Grande do Sul, Clemer já se considera gaúcho. E não só da boca para fora. Além de apaixonado por Porto Alegre, o treinador garante ser um amante das tradições gaudérias.

Na Semana Farroupilha, Clemer foi conferir o acampamento, no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, para degustar um churrasco de fogo de chão. No seu apartamento, próximo ao Beira-Rio, ele também garante que a churrasqueira está sempre em brasa:

— Acho que faço um bom churrasco. É o que me dizem. Picanha, costela e uma ovelhinha não podem faltar.

Nascido em São Luís (MA), foi apresentado ao chimarrão logo que chegou a Porto Alegre. Então companheiro no Inter, o goleiro Luiz Müller iniciou-o na paixão pelo mate, que dura até hoje.

— Ele treinava comigo e tomava muito chimarrão. Como era inverno, eu tomava aquilo mais para me esquentar, porque achava amargo. Aí comecei a acostumar e hoje bebo muito. É comum, antes de dormir, eu tomar mais de uma térmica — conta.

Fã do Interior, sempre que consegue uma folguinha na agenda corrida do futebol, Clemer curte viajar com a família pelo Rio Grande:

— Gosto de hotel-fazenda, de andar a cavalo. Quando pego o carro, não tenho destino. Adoro andar pelas estradas e conhecer lugares novos.

Ídolos pensam na despedida

Ao voltar para o Inter, no papel de dirigente, o ídolo Fernandão cogitou um jogo de despedida junto com Clemer. O ex-goleiro aprova a ideia.

— Acho muito legal, no final do ano, chamar o torcedor para relembrar aquele time. Quanto mais jogadores daquele Mundial pudessem vir, melhor. Eu gostaria desta despedida. Seria legal ter também ex-jogadores campeões, como Manga, Figueroa, que começaram a história do Inter. Seria uma grande festa, e o torcedor iria gostar muito.

Títulos pelo Inter

Mundial de Clubes (2006)
Copa Libertadores (2006)
Copa Sul-Americana (2008)
Recopa Sul-Americana (2007)
Cinco Gauchões (2002, 2003, 2004, 2005, 2008)
Copa Dubai (2008)
Copa Suruga Bank (2009)

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