Com um grupo cheio de jogadores jovens, vários deles formados na base do clube, o Grêmio iniciou o Brasileirão à espera de reforços mais experientes. O técnico Renato nunca escondeu seu desejo por jogadores "cascudos". Mas bastou o Brasileirão para a bola começar a desmentir o técnico. Nas cinco rodadas iniciais, boa parte dos "cascudos" apresentou falhas. Enquanto isso, os "casquinhas" cresceram e passaram a arrancar elogios do chefe.

A maior evolução foi apresentada pela dupla de zaga formada por Mário Fernandes e Saimon, ambos com 20 anos, que atuou diante do Vasco, no último domingo, no empate em 1 a 1. Três jogadores experientes passaram por uma jornada ruim nesta partida: Lúcio, 31, substituído no intervalo por Escudero; Douglas, 29, errou muitos passes; e Gabriel, 30, perdeu um pênalti e também foi substituído. Os dois laterais ainda recuperam a melhor forma física após lesões musculares.

Do banco, Roberson, 22 anos, entrou no segundo tempo para fazer o gol de empate. Renato se rendeu ao desempenho dos guris do Olímpico:

— A garotada jogou bem, não comprometeu. O Vasco achou aquele gol, ninguém foi culpado — comentou o treinador após o jogo, lembrando a maneira como o adversário abriu o placar: com um chute de muito longe, que na verdade era para ser um cruzamento de Bernardo, e acabou entrando.

Com esta observação, o técnico também tratou de isentar o experiente goleiro Victor de qualquer falha no lance.

Antes do Vasco, o Grêmio foi ao Morumbi enfrentar o São Paulo. Perdeu por 3 a 1, em mais um jogo em que o camisa 10 tricolor cometeu uma falha. Desta vez, ela originou um dos gols do adversário. A torcida ficou na bronca com Douglas. Mas Renato defendeu o meia.

— O Douglas é assim, ele está ligado e daqui a pouco está desligado. Não é por essa jogada errada que vamos crucificar o Douglas — disse ele, na ocasião, comentando ainda que, por ser muito marcado, o jogador é forçado ao erro.

Também diante do São Paulo, Rafael Marques, 27, outro cascudo, foi expulso por se desentender com Dagoberto no segundo tempo. O zagueiro não escapou da multa pelo cartão vermelho. Com mudança de esquema e adversário forte, o único 100% do Brasileirão, o Grêmio não conseguiu jogar bem.

Dos experientes, o menos contestado e que mantém praticamente o mesmo nível em todas as partidas é o volante Fábio Rochemback, 29 anos. O capitão do Grêmio é, atualmente, o "xerifão" tricolor. A cobrança fica por conta de um melhor aproveitamento nas bolas paradas. Nos cinco primeiros jogos deste Brasileirão, nenhuma das falta batidas pelo jogador resultou em gol. O fundamento vinha sendo considerado uma das armas do time.

A gurizada começou a encher o comandante de orgulho diante do Bahia, na vitória por 2 a 0, no Olímpico, na terceira rodada. Saimon, Mário Fernandes - ainda na lateral - e Neuton foram destaques.

— O Renato sempre falou que precisava de jogadores experientes, mas nunca deixou de acreditar na gente. Ele sempre disse que a gurizada que tem no plantel tinha muitas condições de jogar — ressaltou Saimon.

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Aliás, o técnico gremista espera ver um crescimento ainda maior dos "casquinhas" com a chegada de mais "cascudos". O volante Gilberto Silva, por exemplo, fará sua estreia em julho.

— A tendência deles é crescer porque terão jogadores mais experientes ao lado. Vão passar mais confiança — ressaltou.

Com as boas atuações, Saimon e Mário Fernandes devem ganhar sequência e se firmar como dupla titular da zaga tricolor. Se Lúcio não voltar para a posição de origem, Neuton deve seguir na lateral-esquerda, mas Bruno Collaço, recuperado de lesão, vai tentar voltar ao time. Aos 21 anos, é mais um garoto do Olímpico.

No ataque, a ausência do mais jovem dos garotos, o atacante Leandro, 18 anos, é bastante sentida. Afastado por lesão muscular, ele atuou contra o Corinthians e parou. A expectativa é que ele retorne diante do Botafogo, no próximo domingo. O Grêmio ainda aguarda o retorno de André Lima e a estreia de Miralles no ataque.

Os pitacos dos comentaristas:

David Coimbra
Lúcio errou tanto que foi sacado no intervalo. Douglas diz que só joga com a bola no pé, mas, com a bola no pé, o que tem armado são os contragolpes do adversário. Gabriel é um dos laterais mais bem remunerados do país, e perde pênalti. Rafael Marques saiu do time e os guris Mário Fernandes e Saimon se consagraram no miolo da zaga. Será que os cascudos são tão importantes assim? Ou será que chegou a hora dos casquinhas? Afinal, o Santos e o São Paulo, os dois melhores times do Brasil, são times de casquinhas ilustres: Ganso, Neymar, Lucas, Casemiro... Os casquinhas do Grêmio estão pedindo passagem.
 

Diogo Olivier
Ser ou não cascudo é importante, mas não é o fundamental. O fundamental é ser bom. Até porque é um conceito relativo. Exemplo: quem é mais cascudo, Rafael Marques ou Saimon? Eu acho que é Saimon. Ele é mais jovem, mas rodou o mundo com a seleção brasileira, enfrentando situações que RM sequer imaginou passar na carreira. Ser cascudo e ruim não adianta nada. Aí é melhor um bom inexperiente. Parece óbvio, mas nem tanto. Não se pode perder este conceito de vista nunca.

Luiz Zini Pires:
É impossível fazer um time de futebol com 11 jogadores muito jovens. Eles sentem a responsabilidade. O ideal é mesclar. Usar os garotos, colocar ao lado os mais rodados, oferecer o experientes como referência. É do "beabá" do futebol. Mas não adianta escalar jogadores de má qualidade. Jogador ruim puxa o jovem para o lado escuro do futebol, a derrota. Renato sabe, ele já foi jovem, já precisou penar nas mãos de cascudos nem tão bons assim. Os clubes gastam uma fortuna com as categorias de base. Na hora de buscar alguém, mesmo para fechar o grupo, ficar no banco, eles procuram jogadores até na Série B. É um erro. Basta dar sequência aos jovens, eles não farão pior do que os "cascudos".

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