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Esportes  | 09/12/2010 08h10min

Como Duda Kroeff aprendeu a matar três leões por dia

No próximo dia 15, presidente entrega cargo para Paulo Odone, que assume no biênio 2011/12

Tatiana Lopes  |  tatiana.lopes@rbsonline.com.br

No comando do Grêmio durante dois anos, Duda Kroeff aprendeu a matar três leões por dia. Apesar de vários contratempos, o presidente faz uma avaliação positiva de sua gestão, destacando a profissionalização como um dos principais pontos do seu trabalho. No próximo dia 15, ele entrega o cargo para Paulo Odone após um final de temporada em que o time conseguiu sair da zona de rebaixamento do Brasileirão e terminar classificado para a Libertadores, em uma arrancada espetacular.
 
– Acontece muita coisa, toda hora. Toca o telefone, é um problema. Toca de novo, outro problema. Aqui não se mata um leão por dia, às vezes são três por dia – resume.


Foto: Ricardo Duarte


 
Duda Kroeff assumiu a presidência em 2009, após quatro anos de mandato de Paulo Odone, com o Grêmio na Libertadores. Na competição que era o objetivo da temporada, a equipe foi eliminada nas semifinais, pelo Cruzeiro.
 
Um dos principais problemas do ano foi a sequência de derrotas nos Gre-Nais, seguidas com a eliminação no Gauchão. Com isso, o técnico Celso Roth foi demitido. O interino Marcelo Rospide assumiu o comando da equipe até a apresentação de Paulo Autuori, que demorou mais de um mês para chegar.
 
Dentro de casa o time ganhava. Fora, sofria com as derrotas. A passagem de Autuori pode ser definida como um fracasso. Foram 36 partidas, com 13 vitórias, 11 empates e 12 derrotas. Um aproveitamento de 46%. No Brasileirão, o Grêmio ficou em nono lugar.
 
 
 
Erros e acertos
 
O ano de 2009 passou em branco, sem títulos. Depois da última rodada do Brasileirão, Silas, que estava no Avaí, foi anunciado como novo treinador na esperança de um 2010 mais promissor.
 
Na primeira competição do ano, um título. O Grêmio ganhou o Gauchão passando pelo Inter nas finais. Na Copa do Brasil, a equipe começou bem, chegou às semifinais, onde encontrou o Santos, um dos melhores times da primeira metade da temporada. E aí o Grêmio ficou pelo caminho. A eliminação foi um baque no grupo, que desanimou no meio do ano. Combinado a isso, uma espécie de intertemporada em Santa Catarina na parada durante a Copa do Mundo, em junho, atrapalhou a sequência tricolor.


Foto: Daniel Marenco


 
– Ganhamos o Gauchão. Foi a coisa que eu mais gostei, principalmente do jeito que foi, com aquele jogo no Beira-Rio, com vitória de 2 a 0, fazia tempo que o Grêmio não ganhava decisão em Gre-Nal – comenta.
 
No Brasileirão, como a prioridade havia sido a Copa do Brasil, o Grêmio ficou para trás. E só caiu na tabela em vez de começar a subir. A zona de rebaixamento ficou perto, até que o time entrou no buraco e de lá não conseguia sair.
 
O discurso de Silas ficou gasto e teve um momento em que a direção não conseguiu mais segurar o treinador. No dia 8 de agosto ele foi demitido, após a oitava partida consecutiva sem vitória. No Brasileirão, foram apenas duas em 13 rodadas. Junto com ele, o diretor de futebol Luiz Onofre Meira deixou o clube.
 
– Antes eu achava que tinha que insistir muito com um treinador. Hoje, em um plantel de grande qualidade, já acho que tem que trocar o técnico. Se um time altamente qualificado não está dando resultado, tem que trocar o treinador. Claro que não de três em três meses, é com coerência – completa.
 
Hoje, quando para para pensar, Duda lamenta não ter acertado a contratação do técnico Renato antes.
 
– Nós devíamos ter trazido o Renato logo que o Roth saiu, resolvemos esperar pelo Autuori. Hoje acho que foi um erro, mas na época parecia o correto. Se um time altamente qualificado não dá resultado, tem que trocar o técnico – diz.
 
Já sobre as contratações de jogadores, ele admite equívocos. Mas considera normal um clube errar e acertar na busca por reforços.
 
– Algumas contratações não foram o que a gente esperava, uma ou duas não deram certo, as outras deram muito certo. Em 2009 foi um pouco pior, a quantidade dos que não deram certo foi maior – lembra.
 
Dentro de campo as coisas não iam bem. Mesmo assim, o presidente lembra que pontos positivos ocorreram fora das quatro linhas.
 
– O Grêmio tem 100% do Douglas. A gente achava que ele era craque, usamos um dinheiro que estava sobrado e compramos ele. Ele é um jogador diferente, habilidoso. O Rochemback também foi um acerto, e é do Grêmio. Eu lembrava dele jogando no Inter, na seleção de base, achava ele muito bom, era superfã do cara. Olhei jogos dele na Europa, fazendo golaços de falta. Muita gente falava que ele era ex-jogador, mas a gente resolveu trazer. O Meira que acenou com as possibilidades de contratar Douglas e Rochemback – conta.
 
Na área das finanças, acordos com patrocinadores e novas receitas no marketing também ajudaram o Grêmio a não "se apertar".
 
– Conseguimos receitas novas de marketing, como a Midea (marca de condicionadores de ar) na camisa, fizemos um novo contrato com a Puma, triplicando os valores. Agora a parceria vai até 2014, essa foi a exigência para fazerem uma oferta tão boa. Tivemos oferta da Pênalti, da Adidas, da Olympikus, mas nenhuma chegou perto. Foi um contrato muito bom que a gente fez. E tem a Tim, com quem fechamos por último – comenta.
 
– Os licenciamentos aumentaram muito, essa parte de marketing cresceu muito nesses dois anos. E, por último, a vinda do Renato, que foi um grande acerto – acrescenta.
 
 
 
Renato, o maior acerto
 
É esse um dos grandes acertos da gestão Duda Kroeff. A contratação de Renato deu uma nova cara ao Grêmio. Com a saída de Silas, o clube conseguiu trazer o ídolo ao Olímpico e tudo mudou. Jogadores que já estavam desacreditados voltaram a atuar bem, novos reforços chegaram e deram conta do recado, e a zona de rebaixamento passou a ser zona da Libertadores.


Foto: Ricardo Duarte


 
– Noto os jogadores numa confiança total, a gente vê pelo ambiente, eles estão o tempo todo de bom humor. O Renato é muito carismático. O jeitão dele pega muito bem para o jogador – salienta.
 
– Só não sei como ele não fez sucesso antes como treinador. Acho que o Grêmio também fez bem para ele, não foi só ele que fez bem para o Grêmio – completa.
 
 
 
Aprendizado na presidência
 
Uma das maiores incentivadoras de Duda Kroeff no trabalho na presidência do Grêmio foi a esposa Luciana. Nos momentos bons e ruins, era ela que sempre estava ao seu lado.
 
– Tem momentos bem difíceis. Mas é legal, eu gostei. Minha mulher é muito parceira, ela ouviu nesses dois anos praticamente todos os programas de rádio de tv, ela se entusiasmou, foi muito companheira, foi minha assessora de imprensa. Isso ajudou muito – destaca.
 
O presidente não é presença constante nos treinos no Olímpico. Mas, em dia de jogo, ele quase sempre compareceu, tanto em casa como fora, acompanhando a delegação, participando de palestras no vestiário e torcendo com a torcida pelo time.
 
– Eu gosto de acompanhar o time, não vou muito aos treinos, mas acompanho. Nos dias de jogos eu gosto de estar desde o momento da palestra junto, vou no ônibus, vou no vestiário. E se aprende muito com isso também – diz.


Foto: Tatiana Lopes


  
 
A evolução
 
Nos dois anos de gestão, Duda percebeu uma grande evolução no que diz respeito à profissionalização do clube. Por isso, quando foi divulgado pela nova direção que a intenção era contratar Rodrigo Caetano para que ele voltasse ao Olímpico para ser o diretor executivo, o presidente ao viu necessidade. E ele explica o motivo:
 
– O futebol está muito bem organizado. Por isso até questiono se precisaria realmente trazer Rodrigo Caetano, por exemplo. Ele é muito bom, mas nós temos o Cícero (Souza, que segue no clube) aqui, que é excelente, e custa um décimo do preço. O clube está organizado, desde a base. Nesse ponto eu acho que o Grêmio se profissionalizou muito – avalia.
 
Duda aproveita para comentar sobre o centro de dados gremista, que atualiza informações gerais sobre jogadores, times, partidas, estatísticas, tudo o que envolve um profissional de futebol.
 
– Temos um banco de dados aqui com todas as informações de qualquer jogador. O futebol profissional do Grêmio evoluiu muito. Na parte administrativa o clube também evoluiu. Temos o programa de certificação ISO 9001, no quadro social, e estamos implantando em todas as outras áreas – comenta.
 
 
 
O esforço pela permanência do artilheiro
 
Na comemoração pelo título do Gauchão, no início do ano, Duda Kroeff fez uma declaração que chamou atenção sobre o que ele faria para manter Jonas no Olímpico.
 
– O Jonas fica aqui no Grêmio de qualquer forma, nem que seja preciso que eu venda a minha casa – disse, na ocasião.


Foto: Fernando Gomes


Ele não precisou vender a sua casa. Jonas acertou a renovação com o Grêmio até o final de 2011. Foi valorizado e quis ficar no Olímpico. Artilheiro do Brasileirão e do time em 2010, começam, mais uma vez, as especulações. As duas direções conversaram sobre o melhor a se fazer para manter Jonas no Tricolor por mais anos. Vender a casa não será o objetivo de Duda, mas um esforço deverá ser feito.

– Não precisa vender minha casa, aquilo eu falei na empolgação depois do título. E outra, a minha casa não está valendo tanto assim – diz.
 
– O que se pode fazer é o que se fez com o Victor. Valorizar o jogador e convencê-lo de que o Brasil é bom. Ele tem contrato até o fim de 2011, não é algo desesperador, no meio do ano que vem é que ficaria perigoso. Tem tempo, mas já é de começar a conversar sim. Ele sempre deixou claro que não gostaria de sair daqui para times pequenos na Europa. Agora, se pintar um Chelsea, um Real Madrid da vida, aí sim é dureza – acrescenta.
 
 
 
Transição de poder
 
A eleição para o Conselho Deliberativo e para a presidência transcorreram com tranquilidade. No entanto, algumas trocas de declarações, manifestando opiniões contrárias, entre as duas gestões, acabaram dando o que falar no início de novembro. Uma reunião no clube deu fim às polêmicas e tudo voltou a ficar em paz dos dois lados.
 
Uma das principais divergências foi sobre as dívidas que, com a gestão Duda Kroeff, teriam ultrapassado o limite.
 
– Aqui no Grêmio já foi muito pior, e comparando com outros grandes clubes do Brasil, o Grêmio está muito bem financeiramente. A nova direção não precisa ter grandes preocupações com isso. Dificuldade sempre tem, mas tem boas perspectivas – esclarece.
 
O presidente se defende dizendo que é normal gastar mais do que se arrecada para poder montar um grupo forte e brigar por títulos. Para amenizar os problemas, os clubes se vêem obrigados a vender algum jogador.
 
– Se gasta sempre mais do que se arrecada todos os meses. Chega o final do ano e tem um déficit, e aí tem que vender um jogador e corrigir. Enquanto não vender, a antecipação de receitas acaba sendo necessária. Isso sempre acontece – explica.

 

 

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