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Mundo  | 29/11/2010 14h17min

Vazamento de segredos diplomáticos é um duro golpe para os EUA, dizem especialistas

Diplomatas "vão evitar dizer o que pensam, mesmo em suas correspondências", afirma conselheiro

As revelações recentes do WikiLeaks representam um duro golpe para a credibilidade dos Estados Unidos e colocam em evidência, de maneira preocupante, o segredo — fundamento da diplomacia —, sem trazer até o momento informações sensacionais sobre as grandes questões internacionais, analisaram especialistas.

Após o enorme vazamento de documentos, os diplomatas "vão evitar dizer o que pensam, mesmo em suas correspondências. É uma revolução copernicana", revelou Dominique Moïsi, conselheiro do Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri). As revelações "introduzem um elemento de desordem muito profundo nos meios diplomáticos", acrescentou.

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Segundo especialistas, foi, em primeiro lugar, esta cultura do segredo o alvo do WikiLeaks, já que os documentos até agora divulgados não traziam informações revolucionárias.

O que se sabia, por exemplo, do ódio dos monarcas do Golfo contra o Irã foi expresso cruamente por suas bocas. Fez toda a diferença e isso pode ter consequências no Oriente Médio, considerou François Heisbourg, da Fundação para a Pesquisa Estratégica (FRS).

— Há pouca novidade — confirmou Daniel Korski, do Conselho Europeu de Relações Internacionais (ECFR).

Henning Riecke, do Instituto alemão de Pesquisa sobre Política Externa (DGAP), pensa apenas que "no futuro, os diplomatas devem falar menos abertamente", mesmo em circuitos com segurança.

— Mas a necessidade de uma análise clara na diplomacia continua elevada. Dessa forma, encontraremos outros meios de nos comunicar ou vamos correr os riscos — seguindo o modelo atual.

A consequência mais dura para François Nicoullaud, ex-embaixador da França no Irã, é a "ruptura do tabu" provocado pela publicação de telegramas levantando os perfis dos atores do cenário internacional. Mais do que os fatos, "se há algo verdadeiramente secreto são os julgamentos sobre as pessoas", potencialmente perigosos, afirmou.

Segundo Daniel Korski, a publicação pelo WikiLeaks destes documentos cria uma confusão entre confiança e transparência.

— A transparência é apenas um elemento da confiabilidade e a essência do trabalho diplomático continua confidencial e circunspeta, e isso não mudará — disse.

Mas após essas revelações, a diplomacia americana, principalmente, corre o risco de enfrentar uma crise de confiança.

— A primeira potência está nua! Da Arábia Saudita às capitais europeias, deve haver um levantamento de escudos contra a América. Não culpamos o ladrão, mas o roubo — previu Dominique.

A divulgação de centenas de milhares de suas correspondências diplomáticas pelo WikiLeaks reforça a ideia de que "os americanos são incapazes de conduzir uma ação discreta", destacou François Heisbourg.

Pascal Boniface, diretor do Iris (Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas) em Paris relativiza, no entanto, o impacto dessa divulgação em massa.

— É vergonhoso para os Estados Unidos sem ser um revés diplomático importante — considerou.

Mas as mais sérias repercussões podem vir mais tarde. As informações do WikiLeaks podem ter "uma influência substancial na vida internacional, mas também ricochetear sobre a vida interna de certos países", predisse François Heisbourg. Cada pessoa envolvida reagirá, suscitando outras reações. Além disso, elementos que parecem periféricos e pouco visíveis hoje podem ter desdobramentos muito mais graves, segundo ele.

Confira o que dizem os relatórios sobre alguns líderes

Abdullah
- O rei Abdullah da Arábia Saudita pediu aos EUA para atacar o Irã e destruir seu programa nuclear, segundo os textos vazados. Um memorando afirma ainda que o trabalho conjunto com Washington para conter a influência iraniana no Iraque "era uma estratégia prioritária para o rei e seu governo".

Silvio Berlusconi
- A respeito do primeiro-ministro italiano, o material detalha suas "festas selvagens" e revela uma desconfiança profunda despertada pelo mulherengo premier em Washington. "Ele é inefetivo como um líder europeu moderno", "um líder física e psicologicamente fraco" cujas "festas não permitem descansar o suficiente".

Vladimir Putin

- Da embaixada em Moscou em 2008 foram coletadas informações sobre o relacionamento entre o presidente russo, Dmitry Medvedev e seu premier, Vladimir Putin, observando que era "um Robin para o Batman de Putin". Ele é retratado como um político autoritário com um estilo pessoal machista.

Kim Jong-il
- O ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-il, também é alvo de críticas. As fontes diplomáticas o descrevem como um "velho cara" que "sofreu traumas físicos e psicológicos" como consequência de um problema de saúde.

AFP
 
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