| 14/05/2001 07h23min
O pecuarista Dorneles Gerloff, de Tuparendi, no noroeste gaúcho, cansou de rezar contra a chegada da febre aftosa e decidiu agir. No final de semana, enquanto os produtores da Fronteira Oeste disputavam as poucas doses de vacina contra a febre aftosa liberadas pela União até o momento, Gerloff se dedicava à imunização dos 220 ventres da raça holandesa que mantém na propriedade. Veterinário formado em 1970 pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Gerloff chegou ao limite da paciência e encomendou por conta própria, antes que a União autorizasse, 280 doses de vacina. Além de imunizar seu rebanho, repassou 60 doses a seis vizinhos, igualmente interessados em proteger seus animais contra a doença. A idéia é formar um cinturão em torno das terras de Gerloff, impedindo o surgimento da doença. As vacinas foram adquiridas em uma agropecuária de Dourados (MS), ao preço de R$ 179,20. Um valor considerado insignificante por Gerloff, se comparado ao patrimônio genético da propriedade. O pecuarista avalia o plantel em pelo menos R$ 200 mil e diz estar decepcionado com a politização da discussão em torno das medidas para proteger o Estado. – Não acredito mais em política. Fui do Partido Progressista Brasileiro (PPB) há mais de 10 anos. O ministro Pratini de Moraes transformou um assunto essencialmente técnico em uma briga política com o PT e deixou desprotegidos os produtores gaúchos. Então, fiz o que era preciso para defender o que é meu. Não me arrependo – argumenta o pecuarista. Na semana retrasada, antes mesmo de ser anunciado oficialmente o primeiro foco de febre aftosa no Rio Grande do Sul, Gerloff telefonou para um filho que mora em Dourados e fez a encomenda no próprio nome. O problema era encontrar alguém disposto a transportar as doses. A carga – um isopor com 28 ampolas de 50 mililitros da vacina trivalente, a uma temperatura de 4º C – foi trazido na cabina do caminhão de um amigo que viajara no dia 6 de maio.
CLAUDIO MEDAGLIA JR.