| 20/10/2009 07h12min
O saldo estava todo para o lado tricolor em 1977 - dos sete gre-nais disputados no ano, o Grêmio havia vencido quatro, o Inter dois, e ocorrido empate em outro. Entre eles, o 1 a 0 na disputa do título gaúcho, que quebrou com uma hegemonia de oito anos do Colorado no Estadual. Por isso, embora não valesse taça, o clássico 236, pelo Campeonato Brasileiro, significava uma espécie de revanche para a equipe do Beira-Rio naquele 6 de novembro. Além disso, a partida serviria para o lançamento do novo uniforme. O fardamento, entretanto, ficaria marcado, esquecido após o 4 a 0 do Grêmio em pleno campo rival.
Um vermelho intenso, brilhante, predominava na roupa do Inter, com poucos detalhes em branco na camisa e nos calções. O uniforme chamou atenção até do adversário - o meio-campo Iúra elogiou o fardamento, mas não perdoou: abriu o marcador aos 37 minutos do primeiro tempo ao mandar um balão da intermediária e enganar o goleiro paraguaio Benitez. O vento também teria influenciado na trajetória da bola. O ex-jogador lembra que o gol entrou para o folclore do clássico.
– Quando se torna lenda, deixamos acontecer. Jamais faria aquilo se não tivesse uma visão periférica da jogada. Eu atirei realmente em direção ao gol, claro que nunca se calcula onde ela vai cair. Acabou caindo nas costas do goleiro – destacou Iúra.
O Colorado voltou para o segundo tempo empolgado, mas um pênalti duvidoso em André, assinalado pelo árbitro Dulcidio Boschilia, acabou com as esperanças do time da casa. Tadeu Ricci cobrou e fez o 2 a 0. Com a vantagem no placar, o Grêmio foi paciente para ampliar e fechar a goleada com gols de Iúra e Tarciso. O Inter ainda teve Dionisio expulso na etapa complementar.
Após aquele jogo fatídico, o uniforme foi abandonado:
– Depois daquela goleada, nunca mais se viu aquele uniforme – declarou o roupeiro Gentil dos Passos em entrevista ao livro A História dos Gre-nais, de David Coimbra, Nico Noronha e Mário Marcos de Souza.
Batista, então jogador do Inter, disse que o uniforme era muito bonito e não concordou com a decisão de aposentar o fardamento:
– Abandonaram por causa dessas superstições, esses tabus do futebol. Eu gostava muito. Pelo impacto ficava muito bonito, o fardamento todo vermelho. Não agradou o resultado, mas até hoje persistem essas situações. Dá azar se o adversário jogar melhor que tu – comentou.
Fatores determinantes para a goleada
A Zero Hora da época destacava que o Grêmio chegava para o Gre-Nal 236 como uma equipe "formada e afirmada", enquanto o Inter ainda procurava "uma definição como time para depois pensar em afirmação". Batista concorda:
– Em 77 foi o ano da transição. O Inter desmanchou um time de muito tempo e isso foi decisivo. O Grêmio também estava em uma fase de transição, mas talvez eles tenham acertado na contratação de jogadores mais experientes – explicou.
Embora o segundo gol, originado de um pênalti duvidoso, tenha sido apontado com uma das causas principais para a desestabilização da equipe de Gainete, Iúra crê que a história do jogo começou mesmo quando o Inter entrou no gramado do Beira-Rio, aplaudido pela torcida, e vestido com um vermelho ainda mais forte, mais quente.
– A personalidade dos jogadores cresceu muito no momento em que o Inter entrou daquela maneira. A festa foi maravilhosa e ficamos acanhados em um canto. Isso deu motivação para que fizéssemos aquele placar – observou.
CLICESPORTESINTER (0) | GRÊMIO (4) |
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Benitez; Batista, Beliato, Gardel e Dionisio, Caçapava (Vasconcelos), Jair e Falcão, Valdomiro, Luisinho e Edu (Escurinho). | Corbo; Eurico, Vilson, Oberdan e Ladinho, Vitor Hugo, Tadeu Ricci e Iúra (Leandro), Tarciso, André e Éder. |
Técnico: Gainete | Técnico: Telê Santana |
Campeonato Brasileiro - 6 de novembro de 1977. Local: Estádio Beira-Rio. Árbitro: Dulcidio Boschilia. Gols: Iúra (2), Tadeu Ricci e Tarciso. |