| 11/08/2009 17h13min
A notícia sobre o doping de cinco atletas da equipe Rede Atletismo pelo uso de eritropoietina (EPO), na quinta-feira passada, e sobre o afastamento preventivo de outros dois na sexta, causou surpresa ao treinador e diretor-técnico da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt ) José Aroldo Loureiro Gomes, o Arataca, e também ao treinador da Sogipa e do grupo Percorrer, Leonardo Ribas.
Para Arataca, o choque maior se deu com relação à participação do técnico da Rede Atletismo, Jayme Netto, no caso. Netto assumiu a responsabilidade pelo doping.
– Meu sentimento foi de surpresa, pois se trata de uma pessoa do nível profissional de Netto. Ele não era desconhecedor de causa, pois é professor de educação física, é fisioterapeuta, tem mestrado, doutorado e é chefe de cadeira da Unesp (Universidade Estadual Paulista) – comentou o diretor-técnico da CBAt, ressaltando ainda que Netto já esteve em 10 mundiais e duas Olimpíadas.
O treinador Leonardo Ribas
concorda que a notícia é triste. Para
ele, os profissionais da área nunca pensam que um caso de doping pode ocorrer em território nacional.
– É triste e chocante, mas sabemos que existe este tipo de subterfúgio. Porém, nunca pensamos que vai ocorrer no nosso país.
Arataca também disse que o anúncio de doping prejudica a imagem do atletismo nacional no exterior.
– Viemos de uma Olimpíada na qual tivemos um ouro e várias colocações entre finalistas e semifinalistas, mesmo sendo uma delegação muito jovem. Ou seja, é uma perspectiva boa, um momento positivo no esporte. Mas isso foi uma ducha de água fria. Ninguém quer seu nome envolvido nisso.
Por outro lado, Arataca defendeu as ações da CBAt para coibir o uso de substâncias proibidas, informando tanto a atletas quanto a treinadores sobre perigos e proibições.
– Somos a única confederação com setor antidoping, com um grupo de executivos preocupados com isso, pois primamos pelo jogo limpo e justo.
Porém, estamos sujeitos a esse tipo de acontecimento. Mas isso
vem a provar que a confederação faz um trabalho sério frente ao problema. A confederação tem tomado atitudes dentro do que manda as normas nacionais e internacionais para punir pessoas ligadas a esse episódio. Fazemos exames antidoping todos os anos nos atletas durante e fora de competições – garantiu, explicando ainda que a CBAt e o Comitê Olímpico fazem palestras e entregam livretos antes das viagens das delegações com listas de remédios e substâncias proibidas.
Ribas também avaliou como positiva a postura da CBAt, que investe mais de R$ 600 mil por ano em testes antidoping, segundo Arataca.
– Por sorte, temos uma confederação muito competente para tentar diminuir isso ao máximo. Há uma dificuldade em achar quem usa essas substâncias. Esses casos foram divulgados quase na abertura do mundial, o que se torna negativo para nosso atletismo. O lado bom foi que a confederação pegou esses casos aqui no país e não lá. Foram testes flagrados no Brasil. Mostra o trabalho da
confederação em tentar
impedir o aumento desses casos – comentou Ribas.
Conforme já divulgado, os atletas já estavam fazendo aclimatação na Alemanha para o Mundial de Berlim quando souberam do doping confirmado por testes da CBAt.
Entenda o caso
Após o anúncio de doping de cinco atletas da equipe Rede Atletismo (Bruno Tenório, Jorge Célio Sena, Josiane Tito, Luciana França e Lucimara Silvestre) na quinta-feira (06/08), flagrados no exame antidoping pelo uso de eritropoietina (EPO), a CBAt afastou de forma preventiva (07/08) os velocistas Evelyn Carolina Oliveira Santos e Rodrigo Bargas na sexta-feira. O técnico da Rede Atletismo, Jayme Netto, assumiu a responsabilidade pelo doping.
Os envolvidos diretamente no caso de doping podem, além das punições no meio esportivo, ser presos por até um ano. Isto porque, depois que for julgado pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), o caso será encaminhado ao Ministério Público. Netto assumiu a
culpa pelo doping, mas disse ter sido orientado pelo
fisiologista Pedro Balikian. Os treinadores foram suspensos pela CBAt até o julgamento, sem data prevista.
Os técnicos Jayme Netto e Inaldo Sena podem ser enquadrados em dois artigos do Código Penal. Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto ou iminente faz parte do artigo 132. A pena é detenção, de três meses a um ano. A eritropoietina recombinante (EPO), substância encontrada no exame de Bruno Lins Tenório, Jorge Célio Sena, Josiane Tito, Luciana França e Lucimara Silvestre, pode levar à morte.