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 | 07/06/2009 04h55min

Os Van Gogh do Beira-Rio

Diogo Olivier, colunista online  |  diogo.olivier@zerohora.com.br



 
Delcir Sonda (E, com o irmão mais velho Idi) na final da Copa Sul-Americana

Entre tantas atividades recomendáveis para um domingo de inverno como este, a leitura é uma das mais produtivas. Como sair de casa pode resultar num resfriado daqueles, o aconchego do lar, além de mais quentinho, tem a vantagem de evitar aqueles comprimidos contra rinite, sinusite e outras "ites" oportunistas. Pode ser um romance, uma revista especializada (há revistas especializadas sobre tudo nas bancas) ou um jornal para se manter em sintonia com o mundo. Se a escolha recair sobre um jornal, uma boa opção é a reportagem assinada pelo Leonardo Oliveira, nosso colega aqui de Zero Hora.

Delcir Sonda é gaúcho de Erechim, colorado, começou dirigindo caminhões e, agora, "investe caminhões de dinheiro no Inter", como diz o Leo.

Trata-se de um personagem que se entranhou de tal maneira no Beira-Rio que é o caso de compará-lo a Theodorus van Gogh. Theo era o irmão mais novo de Vincent.

Que, como se sabe, morreu louco aos 37 anos e, mais tarde, após o mundo tomar contato com seus quadros, tornou-se um dos maiores gênios da pintura do século XX. Quem nunca ouviu falar de Van Gogh e suas pinceladas impressionistas nervosas e vivas de cor?

Pois não haveria Vincent sem Theodorus. Theo era um comerciante de arte respeitado. Trabalhou em Bruxelas, Londres. E Paris, onde tudo acontecia. Theo o sustentou. Convenceu o irmão, sempre deprimido e às voltas com suas obsessões teológicas, a levar a sério a pintura. Apresentou a ele Gauguin, Cézanne. O reconhecimento da genialidade de Vincent só veio após sua morte, em 1890, mas Theo pagou todas as despesas do irmão em vida, inclusive tintas, pincéis e cavaletes. Queria apenas que ele pintasse. O mundo deve muito a Theo van Gogh. Assim como o Inter deve muito (não no sentido financeiro, ao menos nesta frase) a Delcir Sonda.

Tirando a parte da loucura e das mortes tristes, Theo foi um mecenas. Se não tivesse investido no irmão, ele não teria pintado quadro algum. Sonda é o mecenas do Beira-Rio. Investiu em Sobis para mantê-lo no Inter até a final da Libertadores. Quem fez os dois gols da vitória sobre o São Paulo por 2 a 1: Sobis. O Inter só foi ao Mundial por ter conquistado a América. Quem marcou o gol do título da Sul-Americana, no ano passado? Nilmar. De quem é Nilmar? De Sonda, em grande parte. Este Inter finalista da Copa do Brasil, agora mesmo: tem em D'Alessandro o centro do meio-campo. Quem investiu no argentino em parceria com o Inter? Sonda. E Kleber, que é dele? Isso só para ficar nos exemplos mais nítidos.

Vale até a brincadeira: se Sonda é o Theo van Gogh do Beira-Rio, quem seria Vincent van Gogh, o gênio das artes? Fernando Carvalho, talvez.

É ele que tem pintado os times vencedores do Inter nos últimos anos. Não apenas com o mecenato exclusivo de Sonda, é verdade. Com 90 mil sócios, não dá para dizer que o clube depende só de seus investidores. Mas Sonda tem ajudado um bocado. Dia destes, no gramado suplementar, brinquei com Carvalho:

— Puxa, é jogador do Sonda para lá e para cá. Daqui a pouco ele vai terminar presidente do Inter.

A resposta de Carvalho, com a inteligência e a sutil ironia de sempre, revela bem a importância deste gaúcho de Erechim no ambiente colorado:

— Não pode — sorriu Carvalho. — Ele não é sócio.

Leia os textos anteriores da coluna No Ataque.

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