Conteúdo: unimedespacovida | 02/11/2009 17h09min
Psiquiatra e psicoterapeuta, Vitor Rodrigues comenta o tema do terceiro caderno da série Unimed Espaço Vida Estresse. Substantivo masculino. Med. Conjunto de reações do organismo a agressões de origens diversas, capazes de perturbar-lhe o equilíbrio interno. A palavra inglesa “stress” e que, em português, passou a se denominar estresse tem sido “vitima” de inúmeras distorções e generalizações.
Face a isto, resolvi partir do conceito do nosso “Aurelião” para fazer algumas observações. Por exemplo, quando se pergunta o que o estresse provoca já está se incorrendo em um erro, no mínimo, científico. O estresse, por definição, é uma reação, e não um fator que provoque algo. Estas generalizações, de que falo acima, podem provocar confusão conceitual.
Sabemos, entretanto, que popularmente o termo “estresse” está geralmente relacionado a situações emocionais, mentais ou psicológicas. Para fins práticos, todos estes adjetivos são sinônimos. E também é extremamente comum se atribuir esta reação, ou até um estado emocional crônico de sofrimento, às atribulações da vida moderna.
Sarcasmos à parte, eu me pergunto se enfrentar o desordenado trânsito de uma metrópole seria mais “estressante” do que a necessária, sob o ponto de vista nutricional, caça dos "homens da caverna"? Não esqueçamos de que, na imprevisível floresta, aparecem leões e tigres que poderão não ser os objetivos da caça, mas com elas convivem e até as disputam com os nossos ancestrais. Ou seja, será mesmo o estresse um fator da vida contemporânea? Mas é possível que, comparado com uma pacata cidade do interior, a grande urbe seja um fator provocativo da síndrome de que estamos tratando.
Eu vou me animar a dizer que a velha e boa equação etiológica de Freud, do remoto ano de 1895, nos traz elementos muitos importantes para entender este nosso atual estresse. O mestre da psicanálise chamou-a como explicação causal das neuroses. E um paralelismo é certamente possível. Para Freud, a coisa era mais ou menos assim: hereditariedade + vida intra-uterina + vivências infantis + fator desencadeante = doença (estresse?).
Vamos examinar estes elementos. Equação, segundo o Aurélio, é uma afirmação ou raciocínio em que duas ou mais coisas são consideradas iguais. Etiologia é a parte da medicina que estuda as causas das doenças e das síndromes. Portanto, a dita equação etiológica de Freud procura estudar o complexo conjunto de causas que tem como conseqüência a doença. Em nosso caso, estamos falando de estresse, ou seja, de pessoas que sejam mais ou menos suscetíveis ao estresse, face a toda uma situação de vida passada e presente.
Vejamos os elementos da equação. Freud denominou de constituição a soma da carga genética + as ocorrências da vida intra-uterina. As vivências psicológicas mais primitivas, denominadas vivências infantis, têm uma importância fundamental para a psicanálise, pois ficam fortemente marcadas na personalidade de cada um. Quanto mais dificuldades se acumularem antes da transição de uma para outra fase, mais fraca será a personalidade do adulto.
Alguém que perde um ente querido pode reagir de diversas maneiras. Faz uma reação adulta de luto, que será sofrido, porém, com o tempo, elaborado e absorvido pela personalidade. Isto, evidentemente, é uma tarefa do psiquismo muito complexa. Basta pensarmos na diferença entre perder um progenitor ou um filho. É completamente diferente. Portanto, acho que até o momento já podemos ter uma idéia da complexidade que é deixar-se abater ou não pelo estresse. Quando alguém perde um emprego, certo estresse emocional é plenamente compreensível. Porém, passados cinco anos e continuar atribuindo o sofrimento àquela ocorrência, já precisa ser examinado com um outro olhar.
As constituições caracteriológicas, na qual podemos inserir o otimista ou o pessimista, também não fogem muito deste modelo. Como se trata de situações mais crônicas e mais permanentes, eu subtrairia da equação etiológica o fator desencadeante (atual). Ou seja, não se é pessimista ou otimista simplesmente porque se quer. Se é assim ou assado porque se pode, ou seja, quando for possível. E este poder ou não poder não é apenas um ato de desejo consciente. Está relacionado com toda uma história de vida.
O que é ser otimista? Ser otimista é não fazer um plano de saúde porque – por raciocínios místicos – uma força superior não me trará doenças? Ser pessimista, por sua vez, é fazer três planos de saúde porque na hora da necessidade podem falhar? Se for uma questão de escolha da postura diante da vida, eu prefiro o realismo. Sempre tive o meu plano de saúde, sempre consultei, fiz exames, meus filhos nasceram no melhor hospital da cidade, enfim cirurgias necessárias foram realizadas. Sempre protegido pelo meu plano de saúde.
Para isto, foi necessária uma atitude realista: fazer-se um investimento para que os momentos de necessidade sejam vividos com tranqüilidade, pelo menos, financeira. Não é fácil, no entanto, ser realista. A sedução pelo otimismo – irreal e frustrante – ou pelo pessimismo – irreal e visando a uma prevenção da frustração – é muito grande. A tarefa de bem avaliar os ângulos negativos e positivos de um determinado evento, eu diria, dá mais trabalho do que “cair” para aquele lado costumeiro na qual se forjou a personalidade.
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