Conteúdo: unimedespacovida | 16/02/2010 16h45min
Respeite os mais velhos. Quem nunca ouviu essa frase? Em tom solene, com o dedo indicador em riste, uma ordem de cima para baixo, sem maiores explicações. E como parece ser difícil cumprir “ordens” sem entender o porquê.
Mas e se dissecarmos a frase? Será que ela não fica mais palatável? Mais carregada de sentido? Mais desafiante? E seu propósito mais recompensador? Eis a proposta deste texto: rejuvenescer essa frase tão velhinha.
O primeiro passo é repensar o que é o respeito, de modo a perceber o que há de refrescante nele – sim, porque se pensou em algo rígido, opressivo e mudo, pare! Caminho errado.
Dificilmente o respeito será recrutado se não acolhermos a diferença. Basta uma olhada ao redor para comprovar que, na atualidade, pipocam as diferenças: as chamadas minorias ganharam voz, há uma abertura – tímida em alguns momentos, exagerada em outros – para o que é diferente. Pronto, sem saída: se você, jovem ou mais velho, aprecia essa diversidade e se dispõe a preservá-la porque sente que o mundo será melhor assim, então, sua capacidade de respeitar será necessária. E isso pode ser difícil. Vai desistir? Professor e terapeuta, Pablo Mendes, doutorando em filosofia, reflete:
“Ser diferente é inevitável! Nossa época deixa latente este fato. Por isso, dialogar e respeitar as diferenças nunca foi postura tão pertinente como é agora. Mas exercer o respeito torna-se tarefa difícil quando estamos lidando com aquilo que nos incomoda, contraria, foge da jurisdição dos nossos hábitos e costumes, mesmo que tal questão alheia não seja atitude ilegal ou nociva a ninguém. Ser nobre de princípios e ações em momentos bons, totalmente favoráveis a nós é tarefa fácil. Difícil é fazer despertar a arte do respeito nos momentos em que somos afetados negativamente por aquilo que toca fundo em nossas fraquezas e intolerâncias.”
Para o professor, o respeito transforma. “O respeito agrega. É elemento essencial nas relações, pois sem ele não há como dialogar, compartilhar, trocar”, afirma.
Não se trata de impor essa ou aquela verdade, mas de construir uma terceira: “Jamais saímos ilesos de um relacionamento. Aquilo que nós somos afeta, contagia os outros a nossa volta. A cada diálogo e relação com respeito às diferenças, surgem novas ideias, pensamentos oriundos das mudanças sociais, do movimento contínuo da existência, da história. O respeito proporciona sempre a descoberta”, conclui.
O segundo passo: agora, é entender o que são “os mais velhos”. O que pensam, o que querem, do que gostam, do que riem, do que choram e por quê? Quanto mais afastado de “pré” conceitos sobre essa fase da vida, mais legítima será a tentativa de respeito. Pense em um exemplo simples: é comum ver um jovem casal, prestes a ter o primeiro filho, mergulhar em sites e livros que explicam a infância. Com os mais velhos, dá para perguntar direto (não que buscar informação seja ruim). É mais fácil respeitar o que admiramos.
E é bom lembrar: para “lá” todos iremos. “A maioria das pessoas, principalmente os jovens, não tem nenhuma noção do envelhecer, como se isso fosse “só para os outros, para mim não”. Se conhecemos bem todas as etapas da vida, se nos preparamos para as mesmas, a terceira idade se torna algo natural ao ser humano”, diz a geriatra Ana Amélia Cipriani Dias.
Além disso, conhecer essa fase da vida propicia a empatia, o que abre caminho para o respeito, a gentileza, o melhor convívio. “Ter consideração é a capacidade de se colocar no lugar do outro e ver o que ele precisa, o que sente e o que ele já fez. Nesse caso, gratidão também: quem tem capacidade de gratidão pelo que o mais velho já proporcionou, ao natural o respeita”, analisa Ruggero Levy, psicanalista e diretor do Instituto de Psicanálise da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre.
Para tudo o que foi dito até aqui, não fica errado pensar numa outra frase: respeite os mais novos. Mas, a rigor, a questão aqui não deveria ser uma disputa:
Respeite os mais velhos x respeite os mais novos.
A disputa existe e é, até certo ponto, necessária.
“O conflito de gerações é inevitável e ele sempre se renova. O jovem, no auge de seu entusiasmo, tende a querer desprezar o que é mais velho. Isso depende de um trabalho de amadurecimento, aprendizagem, da desilusão consigo mesmo, para reconhecer o valor de quem já viveu mais”, lembra Ruggero Levy.
Professor Mendes concorda: “tanto os mais velhos quanto os mais novos devem praticar o respeito. Pois o “antigo” contido na experiência das pessoas longevas compõem alicerces fundamentais para a formação humana.
Nesse sentido é inegável o quanto as pessoas longevas têm a ensinar às pessoas mais jovens, assim como a recíproca é verdadeira. Pois a atualidade, o tempo presente dependerá sempre do antigo e do novo combinados”.
A questão parece ser então, antes de mais nada, uma intenção, um meio, sem importar a quem: respeite. Respeitemo-nos. Sem dedo em riste, mas lado a lado, seja qual for a idade.
“Ao praticarmos este respeito às diferenças, ou pelo menos tentarmos com vontade e entusiasmo, ganhamos a preciosa oportunidade de aprender com nossos próprios erros e também com os erros alheios”, afirma Mendes.
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