| 01/02/2013 21h22min
O terror nas ruas, demonstrado com ameaças à população e nas chamas de ônibus incendiados, mais uma vez escancara a triste realidade embutida na sociedade: o envolvimento de adolescentes recrutados para servir de mão de obra de criminosos.
Garotos de 15, 16 e 17 anos, muitas vezes usuários de crack e cocaína, empunhando pistolas e revólveres como se fossem assaltantes experientes, estão sendo usados para cometer os atentados nas ruas em Santa Catarina.
Essa constatação é diagnosticada por policiais civis e militares que investigam o ressurgimento dos ataques em série no Estado, desde quarta-feira, orquestrados mais uma vez pela facção criminosa Primeiro Grupo Catarinense (PGC).
Uma das dificuldades para conter esse tipo de atentado é que os adolescentes se consideram impunes à legislação e ao ato infracional que cometem. "Não dá nada", é como costumam dizer nas viaturas e delegacias quando são apreendidos.
Na sexta-feira, sete tinham sido detidos em Florianópolis, entre eles um de 17 anos, após o ataque que destruiu um ônibus no Bairro João Paulo. Seis foram encaminhados à promotoria da Capital, onde até a noite de continuavam sendo ouvidos. A decisão de internação dependeria do Juizado da Infância e Juventude, que não havia tomado uma decisão até o início da noite.
— São filhos de pais presos, com família desestruturada. Alguns usam drogas e são sim aliciados por criminosos de facção — reconheceu a secretária da Justiça e Cidadania, Ada De Luca.
Os garotos cometem os ataques para não serem penalizados pelo PGC — cuja sentença pode ser a morte — ou por dívidas de drogas a traficantes. Outra motivação é simplesmente a vontade de entrar na onda, tumultuar e ganhar o status de bandidos juvenis.
Para agravar o quadro de alerta e tensão, houve a fuga de 12 adolescentes do Centro de Atendimento Socioeducativo de Itajaí, no Litoral Norte, na madrugada de quinta-feira. Entre os fugitivos, conforme policiais, há garotos associados ao PGC _ apenas três haviam sido apreendidos novamente na mesma noite.
— É uma batalha que travamos e que não está fácil. Eles são instrumento, sofrem pressão de criminosos e na verdade são vítimas disso tudo. Não há estrutura familiar. A lei também favorece para essa realidade e a grande maioria usa crack — ressalta o diretor do Departamento de Administração Socioeducativo (Dease), Sady Beck Júnior.
Relembre os ataques mais recentes:
Os ataques recomeçaram às 22h de quarta-feira, em Balneário Camboriú, também com um ônibus como alvo. Dois homens armados renderam o motorista, na Rua Dom Henrique, e atearam fogo ao veículo. Os bandidos usavam máscaras do filme Pânico. Um suspeito foi baleado, mas fugiu. O outro foi preso.
Uma hora depois, um ônibus da empresa Rodovel foi incendiado no Bairro Bela Vista, em Gaspar. Vinte minutos depois, no Bairro Figueira, outro veículo foi alvo dos criminosos.
Quase no mesmo horário, em Itajaí, um bar e mercearia localizado no Bairro Cordeiros, em Itajaí, também pode ter sido alvo. De acordo com testemunhas, garotos de bicicleta passaram pelo local na noite de quarta-feira, jogaram garrafas pet com gasolina e depois atearam fogo.
Confira o mapa das ações criminosas desde quarta-feira:
Visualizar Atentados em SC - 2013 em um mapa maior
Ainda em Itajaí, uma viatura da Coordenadoria de Trânsito da prefeitura foi incendiado por volta de 1h30min. O veículo estava no pátio da Secretaria Municipal de Segurança, na Rua Blumenau, quando alguém passou de carro e jogou um coquetel molotov.
Segunda noite de ataques
A delegacia de Camboriú foi atacada e o local isolado depois que uma granada caseira, feita com cano de PVC, foi arremessada. O objeto, que não chegou a explodir, foi encontrado em frente ao muro da delegacia. O fato ocorreu por volta das 23h30.
Cerca de uma hora antes, o incêndio criminoso de um ônibus no Bairro João Paulo, às 22h30min de quinta-feira colocou Florianópolis no cenário da retomada dos atentados terroristas em Santa Catarina. Dois rapazes fugiram em uma moto. Suspeitos de terem participado do crime foram detidos ainda durante a madrugada pela PM. Um deles tinha 23 anos e o outro era um menor, de 17 anos.
::: Confira a galeria de fotos dos atentados em Santa Catarina
Passava das 23h30 quando dois ônibus foram atacados em Palhoça. Um deles era da APAE de Balneário Camboriú que aguardava adesivagem e teve os pneus queimados. O outro, um veículo de turismo, foi queimado próximo a garagem da empresa Jotur.
No Norte da Ilha, dois ônibus da empresa Canasvieiras também foram incendiados por volta de 23h40min. Um atentado aconteceu na estrada Dário Manoel Cardoso, na praia dos Ingleses — onde um rapaz sofreu queimaduras de segundo grau — e outro foi na Rodovia João Gualberto Soares, na localidade do Canto do Lamim. O rapaz de 19 anos foi levado para o Hospital Celso Ramos em estado grave.
A madrugada de ataques terminou por volta das 5h quando uma base da Polícia Militar, em Canasvieiras, foi incendiada. De acordo com testemunhas, quatro rapazes teriam praticado o crime.
Órgãos de Segurança Pública passaram a sexta-feira em reuniões para tentar controlar a nova onda de atentados. As empresas de ônibus reduziram algumas linhas.
Transferências de líderes da facção pode estar por trás da série de ataques. O Comando Geral da Polícia Militar nega qualquer relação com ocorrido em novembro de 2012 ou com o PGC.
Clima de tensão na Capital
Pela Avenida Beira-Mar Norte, a principal da Capital, veículos com sirene aberta passavam de um lado a outro, a toda velocidade, com giroflex acionados. O voo do helicóptero por sobre os prédios também compunha o cenário que confirmava o reinício da onda de ataques do crime organizado.
Uma das barreiras foi montada
na Avenida Mauro Ramos
Foto: Cristiano Estrela/Agência RBS
Em pelo menos quatro pontos da cidade havia fiscalização militar na Capital na madrugada de sexta-feira. Embora não admitam que é uma estrategia para responder mais rapidamente a atentados em Florianópolis, os PMs realizaram, quatro barreiras na cidade, na ponte Pedro Ivo Campos, na Prainha, no bairro Agronômica e na Avenida Mauro Ramos.
Prisões
Até as 21h desta sexta-feira, pelo menos 11 pessoas foram detidas, suspeitas de envolvimento nos ataques. Destes, sete são menores de idade. No celular de um dos presos foi encontrada uma mensagem que autorizava os atentados.
Transporte público
Em uma reunião na tarde desta sexta, Setuf (Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros da Grande Florianópolis) e Polícia Militar decidiram que, por medida de segurança, os ônibus devem circular normalmente só até às 19h30 desta sexta-feira. Depois deste horário, apenas algumas linhas devem cumprir seus itinerários com escolta policial. No sábado e no domingo, o esquema continua e os ônibus devem circular até às 21h.
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