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 | 01/02/2013 20h01min

"Ele teve que atravessar as chamas", diz mãe da namorada de jovem queimado em ataque a ônibus em Florianópolis

Eron de Melo permanece na UTI do Hospital Governador Celso Ramos, na Capital

Atualizada às 23h47min Angela Bastos  |  angela.bastos@diario.com.br

O auxiliar de cozinha Eron de Melo, 19 anos, é a primeira vítima dos ataques a ônibus deste ano em Florianópolis. Com o rosto, parte de baixo das pernas e um dos braços queimados, ele permanece na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Governador Celso Ramos, na Capital. O rapaz está consciente. A equipe médica quer acompanhar a evolução do quadro, pois ele inalou fumaça.

Eron não aceitou falar sobre o assunto. Teme que por se tratar de crime organizado, possa sofrer algum tipo de retaliação. O Diário Catarinense conversou com a mãe da namorada do rapaz, Isolete Duarte:

Diário Catarinense - Foi o próprio Eron quem avisou sobre o que havia acontecido?
Isolete Duarte
- Sim, ele nos telefonou em seguida. Estava bem nervoso.

DC - O que ele falou?
Isolete -
Disse que iria descer, estava na parte de trás do ônibus e viu o fogo se alastrando. Pior é que a porta estava trancada.

DC - Como ele conseguiu sair?
Isolete -
Pulou a catraca, por isso se queimou. O fogo começou na frente e foi para trás, então, ele teve que atravessar as chamas.

DC - Por que não abriram a porta do ônibus?
Isolete
- A gente nem pode julgar o motorista, pois ele obedeceu ordens, parou o carro e tentou escapar com vida.

Jovem tentou sair, mas porta traseira estava fechada 

O ataque ao ônibus em que estava ocorreu pouco depois da meia-noite desta quinta-feira, na estrada Dário Manoel Cardoso, nos Ingleses, bairro onde mora. O rapaz havia saído da casa da namorada, no Rio Vermelho.

Era o último ônibus. Ele, o único passageiro. Duas paradas antes de chegar ao seu destino, os incendiários agiram. Um deles abordou o motorista, que rapidamente desceu. Como estava perto do ponto, Eron encontrava-se sentado na parte de trás. Ao ver o fogo, o jovem tentou sair, mas a porta traseira do ônibus estava fechada. Para se salvar, ele pulou a catraca e enfrentou as chamas que se alastravam rapidamente com os bancos sendo queimados.

A família de Eron mora em Bagé (RS) e foi informada pelos pais da namorada, uma adolescente de 15 anos, com quem se relaciona há um ano. Isolete Duarte, mãe da garota, contou o que ouviu de Eron sobre o ataque:

— Ele disse que foi tudo muito rápido. Era noite e ele não conseguiu ver muita coisa. Sabe que foi jogado um líquido e rapidamente o fogo se espalhou.

Foi o próprio Eron quem telefonou para a casa da namorada avisando do ataque. Inicialmente, ele foi levado para a UPA do Norte da Ilha. Mais tarde, transferido para o Hospital Governador Celso Ramos. Em observação, aguardou em uma sala de reanimação na emergência até que abrisse vaga na UTI no começo da tarde. Dependendo do andamento do quadro, o rapaz deva ser levado para o hospital Tereza Ramos, em Lages ou para o São José, de Joinville, que trata de queimados adultos. Nos ataques de novembro, também houve feridos. Com menor gravidade, se restringiu a trabalhadores das empresas de ônibus.

Relembre os ataques mais recentes:

Os ataques recomeçaram às 22h de quarta-feira, em Balneário Camboriú, também com um ônibus como alvo. Dois homens armados renderam o motorista, na Rua Dom Henrique, e atearam fogo ao veículo. Os bandidos usavam máscaras do filme Pânico. Um suspeito foi baleado, mas fugiu. O outro foi preso.

Uma hora depois e um ônibus da empresa Rodovel foi incendiado no Bairro Bela Vista, em Gaspar. Vinte minutos depois, no Bairro Figueira, outro veículo foi alvo dos criminosos.

Quase no mesmo horário, em Itajaí, um bar e mercearia localizado no Bairro Cordeiros, em Itajaí, também pode ter sido alvo. De acordo com testemunhas, garotos de bicicleta passaram pelo local na noite de quarta-feira, jogaram garrafas pet com gasolina e depois atearam fogo.

Confira o mapa das ações criminosas desde quarta-feira:


Visualizar Atentados em SC - 2013 em um mapa maior

Ainda em Itajaí, uma viatura da Coordenadoria de Trânsito da prefeitura foi incendiado por volta de 1h30min. O veículo estava no pátio da Secretaria Municipal de Segurança, na Rua Blumenau, quando alguém passou de carro e jogou um coquetel molotov.

Segunda noite de ataques

A delegacia de Camboriú foi atacada e o local isolado depois que uma granada caseira, feita com cano de PVC, foi arremessada. O objeto, que não chegou a explodir, foi encontrado em frente ao muro da delegacia. O fato ocorreu por volta das 23h30.

Cerca de uma hora antes, o incêndio criminoso de um ônibus no Bairro João Paulo, às 22h30min de quinta-feira colocou Florianópolis no cenário da retomada dos atentados terroristas em Santa Catarina. Dois rapazes fugiram em uma moto. Suspeitos de terem participado do crime foram detidos ainda durante a madrugada pela PM. Um deles tinha 23 anos e o outro era um menor, de 17 anos.

::: Confira a galeria de fotos dos atentados em Santa Catarina

Passava das 23h30 quando dois ônibus foram atacados em Palhoça. Um deles era da APAE de Balneário Camboriú que aguardava adesivagem e teve os pneus queimados. O outro, um veículo de turismo, foi queimado próximo a garagem da empresa Jotur.

No Norte da Ilha, dois ônibus da empresa Canasvieiras também foram incendiados por volta de 23h40min. Um atentado aconteceu na estrada Dário Manoel Cardoso, na praia dos Ingleses _ onde um rapaz sofreu queimaduras de segundo grau _ e outro foi na Rodovia João Gualberto Soares, na localidade do Canto do Lamim. O rapaz de 19 anos foi levado para o Hospital Celso Ramos em estado grave.

A madrugada de ataques terminou por volta das 5h quando uma base da Polícia Militar, em Canasvieiras, foi incendiada. De acordo com testemunhas, quatro rapazes teriam praticado o crime.

Órgãos de Segurança Pública passaram a sexta-feira em reuniões para tentar controlar a nova onda de atentados. As empresas de ônibus reduziram algumas linhas.

Transferências de líderes da facção pode estar por trás da série de ataques. O Comando Geral da Polícia Militar nega qualquer relação com ocorrido em novembro de 2012 ou com o PGC.

Clima de tensão na Capital

Independente dos autores da ação, a noite de quinta-feira fez os moradores de Florianópolis reviverem o clima instaurado na cidade durante os ataques de novembro do ano passado, quando o Primeiro Grupo Catarinense (PGC) comandou uma série de atentados por três dias em represália à linha-dura da direção da Penitenciária de São Pedro de Alcântara.

Pela Avenida Beira-Mar Norte, a principal da Capital, veículos com sirene aberta passavam de um lado a outro, a toda velocidade, com giroflex acionados. O voo do helicóptero por sobre os prédios também compunha o cenário que confirmava o reinício da onda de ataques do crime organizado.



Uma das barreiras foi montada
na Avenida Mauro Ramos
Foto: Cristiano Estrela/Agência RBS

Em pelo menos quatro pontos da cidade havia fiscalização militar na Capital na madrugada de sexta-feira. Embora não admitam que é uma estrategia para responder mais rapidamente a atentados em Florianópolis, os policiais militares realizaram, na noite desta quinta-feira, quatro barreiras na cidade, na ponte Pedro Ivo Campos, na Prainha, no bairro Agronômica e na Avenida Mauro Ramos.

No terminal da Trindade, o acesso e a saída de ônibus foram interrompidos quase no mesmo horário, sem explicação aos passageiros. 

Prisões

Até a tarde desta sexta-feira, pelo menos oito pessoas foram detidas, suspeitas de envolvimento nos ataques. Destes, sete são menores de idade. No celular de um dos presos foi encontrada uma mensagem que autorizava os atentados.

Transporte público

Em uma reunião nesta tarde, Setuf (Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros da Grande Florianópolis) e Polícia Militar decidiram que, por medida de segurança, os ônibus devem circular normalmente até às 19h30 desta sexta-feira. Depois deste horário, apenas algumas linhas vão cumprir seus itinerários com escolta policial. No sábado e no domingo o esquema continua e os ônibus devem circular até às 21h.

DIÁRIO CATARINENSE

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