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 | 02/10/2006 13h59min

Famílias de vítimas de acidente do avião da Gol sofrem com perdas

Parentes viajam para Brasília para obter informações

O desastre com o Boeing da Gol trouxe desolação a famílias do Rio Grande do Sul. Parentes da algumas das vítimas viajaram no fim de semana a Brasília para tentar obter mais informações sobre o desastre e o resgate no norte de Mato Grosso. Confira um pouco da história das vítimas gaúchas e daquelas que viveram no Estado.

Eleições adiantaram retorno de contadora
Eleta Cordero Pivotto, 55 anos, contadora de Faxinal do Soturno, estava em Manaus para um dos tantos cursos que dava a servidores da Receita Federal, seu local de trabalho há mais de duas décadas. Nascida na localidade de Val Veronês, em Faxinal do Soturno, na Região Central, ela sempre retornava para Brasília aos sábados. Dessa vez, por causa das eleições, resolveu antecipar seu vôo para sexta-feira à tarde.

A servidora da Receita, moradora de Brasília há 27 anos, saiu de Faxinal em 1976, quando se casou com o capitão reformado do Exército Nei José Pivotto, 53 anos, de Júlio de Castilhos. O casal também morou em Livramento e no Irã, onde Pivotto foi adido militar.

Mãe de dois filhos, Rodrigo, 27 anos, e Tiago, 20 anos, Eleta criou uma tradição de viajar para Faxinal pelo menos uma vez por ano, principalmente no Natal, para ver os familiares. No dia 13 de outubro, Eleta, o marido e um casal de amigos fariam uma viagem muito sonhada pela servidora: um cruzeiro pela Grécia. Era uma comemoração pelos 30 anos de casamento.

Professor antecipou vôo para ver o filho
Ao antecipar em um dia o retorno ao Rio Grande do Sul, o professor Hugo Otto Beyer, 49 anos, de Uruguaiana, inscreveu o nome na lista de desaparecidos do vôo 1907. Ele cumpriria o trajeto entre Manaus e Porto Alegre no sábado à noite, mas mudou a viagem para a sexta-feira. Queria rever o filho mais velho, Samuel Beyer, 18 anos, que embarcaria ontem para Alemanha a estudos.

- Isso mostra o apego dele à família. Como familiar, a única coisa que temos a fazer é crer que há sobreviventes. A chance é pequena, mas ainda não fechamos a possibilidade - afirma a mulher, Esther Beyer, vice-diretora do Instituto de Artes da UFRGS.

A inclusão de portadores de deficiência no ensino tradicional se tornou o tema preferido do professor, cujo currículo inclui o doutorado pela Universidade de Hamburgo e pós-doutorado em Educação Especial pela Universidade de Dortmund, ambos conferidos na Alemanha.

- Ele é uma pessoa muito dedicada, com vários artigos publicados em revistas do Ministério da Educação. Foi até chamado como consultor pelo MEC para levar a inclusão ao Brasil inteiro - conta Esther.

Este era justamente o tema da palestra ministrada por Beyer na Universidade Federal do Amazonas, para onde ele havia viajado na quarta-feira passada. Natural de Uruguaiana, de onde saiu na adolescência, Beyer é o vice-chefe do Departamento de Estudos Especializados da Faculdade de Educação da UFRGS.

Ontem, Esther e os filhos Samuel e Débora, de 11 anos, acompanhavam pela TV as novidades sobre o trabalho de resgate. A Gol pagou a passagem dos familiares e a estada dos que preferiram acompanhar em Brasília as notícias sobre o vôo.

- Ficamos muito abalados, muito chocados. Estamos tentando acompanhar tudo, embora o acesso às reais informações esteja difícil. O público em geral sabe mais que as próprias famílias. Ficaremos aqui até uma definição - garante Esther.

Empresário estava ansioso por voltar
Viagens pelo país sempre foram parte da rotina de Nelson Colognese 37 anos, empresário de Farroupilha. Seus familiares brincavam por ele ficar mais tempo no ar do que em casa. Colognese estava ansioso para voltar, depois de uma semana de viagem. Na sexta-feira, às 10h, ligou para casa e falou com a mulher, Delcira, 30 anos. Estava no aeroporto de Manaus e aguardaria o embarque. Foi o último contato.

- A gente viu o plantão na TV. Mas como acreditávamos que o Nelson estava em São Paulo ou no Nordeste, não ligamos as coisas na hora. Isso só ocorreu quando a mulher dele ligou e disse que ele estava no vôo - contou a cunhada do gerente de vendas, Viviane Olivo Colognese, 31 anos.

Há 10 anos trabalhando na Grendene, em Farroupilha, Colognese passou cinco anos como supervisor de vendas até se tornar gerente. Especialista em marketing e mestre em gestão empresarial, Colognese estava no Norte desde segunda-feira. Havia visitado clientes em Belém e Manaus.

André ia de Manaus para Brasília
Neto do ex-deputado estadual Hélio Fontoura, que militou no PTB na década de 60, André Luís Carneiro da Fontoura 31 anos, de Porto Alegre, cursou Administração de Empresas e entrou como representante comercial para uma empresa do Grupo Siemens. Casado, sem filhos, mudou-se para Brasília há cerca de cinco anos. Na sexta-feira, voltava de Manaus, onde estava a trabalho.

- Ele nos visitou em Porto Alegre pela última vez em dezembro. Ele é um rapaz muito forte, que gosta de pescar, por isso tenho certeza de que vai sair desta - disse ontem o avô, ainda convicto de que André sobreviveu à queda.

Segundo Hélio, o pai de André mora no Rio. A mãe, Eliane, vive em Curitiba, onde trabalha em uma clínica veterinária.

- É o meu neto mais velho. Até brinco com os outros que por isso é o preferido.

Consultoria na capital amazonense
Gerente da filial de Farroupilha da empresa de transportes Transpel, cuja matriz fica em Manaus, Ivan Copat, 38 anos, voltava para casa, em Bento Gonçalves, depois de três semanas visitando clientes e prestando consultoria na capital amazonense.

Casado com Juliana, 37 anos, pai de Alex, 15 anos, e Caíque, 12 anos, Copat entrou para a Transpel há sete anos. Desde 2005 viajava ao Amazonas a cada três meses. Morador do bairro Santo Antão, onde sempre viveu com a família, foi escolhido presidente da associação de bairro.

Ontem, parentes chegavam à casa de Copat em busca de notícias e para confortar a família.

Trabalho por dois anos em Rosário
O tenente-coronel Leonardo Ramalho Rodrigues Alves, 44 anos, foi comandante do 4º Regimento de Carros de Combate de Rosário do Sul, de fevereiro de 2004 a fevereiro de 2006. Casado e pai de dois filhos (um de 14 e outro de 16 anos), Alves nasceu no Rio Grande do Norte. Descrito pelos colegas da unidade de Rosário do Sul como excelente colega e aplicado militar, passou a ocupar uma função administrativa no Ministério da Defesa em Brasília. Alves tinha ido para Manaus a trabalho.

Acker teria reunião de família ontem
É com esperança e apreensão que a família do hamburguense Jaques Acker, 36 anos, gerente comercial, acompanha as notícias sobre as buscas entre os destroços do acidente. Parentes e amigos dele se apegam a orações e mantêm as esperanças de reencontrá-lo.

- Temos plena esperança de que ele pode ser um sobrevivente. É preciso aguardar até a última notícia - diz a ex-mulher de Acker, Adriana Denise Acker, 35 anos.

A informação sobre o desaparecimento do avião interrompeu os planos da família. Pouco antes de embarcar em Manaus, Acker ligou para o pai e o irmão. Informou que chegaria ao Estado na noite de sexta-feira e confirmou que, no sábado, reuniria a família em sua casa, em São Leopoldo. Planejava oferecer um almoço para o filho, Thales Daniel, 12 anos, os pais, Matias e Iriniria, e os dois irmãos, Charles e Jaqueline, que mora em São Paulo.

As constantes viagens para fora do Estado e o trabalho na NTC Moldes e Plásticos, em Caxias do Sul, faziam com que Acker procurasse aproveitar o tempo disponível para ficar com os parentes. O último contato foi na quinta-feira à noite.

- Ele perguntou como eu estava e falou do almoço que faria para todos nós - conta Thales.

Boa parte dos amigos do gerente comercial deixou mensagens de otimismo na página que ele mantém no Orkut. Desde sexta-feira, muitas mensagens de apoio foram postadas na página do hamburguense.

Acostumado a se deslocar a trabalho para fora do Estado, principalmente para São Paulo, Curitiba, Minas e Espírito Santo, Acker nunca se se incomodou com as constantes viagens de avião cerca de duas vezes por semana.

Comerciante foi ver o neto nascer
A possibilidade de acompanhar o nascimento do segundo neto levou a comerciante Lurdes Balbinot Panizzi, 53 anos, até Manaus. Moradora de Passo Fundo, ela viajou há cerca de 15 dias para a capital amazonense, onde acompanhou os últimos dias de gestação da filha Flávia, 27 anos. Casada com o também comerciante Oreli Panizzi, 59 anos, gerou outras duas filhas - uma que mora em Passo Fundo e outra em Joinville (SC).

Embora muito abalada pela notícia do acidente, no qual viajava sua mãe, a passo-fundense Fernanda, 29 anos, descreveu Lurdes como uma pessoa tranqüila e apegada à família. Segundo a filha mais velha do casal e uma sobrinha da matriarca, ela sempre se dedicou "com amor" à administração do bar e armazém Panizzi, localizado na parte da frente do terreno onde fica a residência da família, no centro de Passo Fundo.

Lurdes embarcou no vôo da Gol para Brasília, onde pegaria outro vôo até Goiânia. Um irmão a esperava no aeroporto na tarde de sexta-feira. Antes de voltar ao Rio Grande do Sul, ela visitaria familiares em Rio Verde (GO).

Na tarde de sábado, a esperança de que houvesse sobreviventes atenuava a dor na residência da comerciante. À medida que as horas passavam, e novas notícias eram divulgadas, o silêncio e a tristeza aumentavam. Ontem, já com a possibilidade de haver sobreviventes praticamente descartada, o clima era de desespero.

- Não sabemos o que fazer. A angústia é muito grande - desabafou Fernanda.

Filhos foram a Curitiba em busca de notícias
Ao ler o nome do engenheiro mecânico Rolf Ferdinando Gutjhar, 50 anos, na lista de passageiros do vôo 1907 da Gol, Werner Gutjhar logo se preocupou com dona Emma, 78 anos.

- A gente é forte e está conformado que é difícil ter sobrevivente. A preocupação agora é com a nossa mãe, pois meu irmão era a base da família - revela Werner, 40 anos, irmão de Rolf.

Nascido em Canoas e formado na Unisinos, Rolf trabalhou na empresa Icotron, de Gravataí. Em 1983, foi transferido para a Coelma, empresa do mesmo grupo, com sede em Manaus. Em 1991, deixou a Coelma e fundou a GK&B Indústria de Componentes da Amazônia. Há quatro anos, abriu uma filial em Curitiba, para onde se mudou com a família. Depois de enfrentar problemas cardíacos, Rolf voltou a administrar a matriz em Manaus, mas passava os fins de semana no Paraná com a mulher, Rosane, e a filha Eloísa, de quatro anos.

- Quando nosso pai morreu, há três anos, ele pagou o túmulo. Era o que mais ajudava a família. Nos reuníamos apenas no final do ano, pois ele costumava viajar muito ao Exterior - acrescenta Werner, que vive em Canoas, com outros três irmãos e a mãe.

Ontem, um dos sete filhos de Emma viajou para Curitiba, onde acompanharia as notícias ao lado da cunhada. Werner ficou em Canoas, com os demais parentes.

- Uma hora dizem que pode ter sobrevivente, outra hora que não. Nem que fosse a pior notícia, mas gostaríamos de ter uma certeza - desabafa Werner.

Visitas à família nas folgas entre os vôos
A comissária Sandra da Silva Martins, 29 anos, integrante da tripulação do Boeing 737-800, passou o final de semana de 23 e 24 de setembro na sua cidade natal, Esteio. Sempre que surgia uma brecha entre os vôos e a as aulas do curso de Pedagogia que fazia em São Paulo, era o que gostava de fazer. Ficava na casa da prima Aline Silveira, 27 anos, com quem foi criada como irmã.

- Minha mãe foi quem a criou, ela perdeu a mãe natural muito cedo. O pai dela ainda mora em Esteio. Por isso, somos muito próximas - disse Aline.

Fazia dois anos e meio que Sandra trabalhava como comissária na Gol. Antes, chegou a atuar na Transbrasil. Segundo Aline, era uma pessoa realizada, dedicada e com grande apego ao trabalho. Hoje, Aline e outros familiares irão a Brasília para buscar informações sobre o acidente e as buscas.

- Ainda temos esperança de que ela esteja viva - afirmou.

Também comissário de vôo, o alagoano Nerisvan Dackson Canuto da Silva se tornou um gaúcho por adoção. Funcionário da Gol desde fevereiro, Silva mudou-se para São Paulo há cerca de oito meses, mas mantinha amigos na capital gaúcha.

Planos de voltar a viver com a família no Estado
Para a família de Adão Adair de Melo Rodrigues, gerente de operações de 40 anos, ele está vivo até que as fontes oficiais confirmem o contrário. Por isso, os irmãos do gerente de operações das lojas Riachuelo não quiseram fornecer uma foto dele.

- Para nós, ele está vivo. Ainda há esperança. Estamos fazendo uma corrente positiva com o pessoal que o conhecia, principalmente em Santa Maria, onde o Adair é bastante conhecido - diz Luiz Rodrigues, irmão de Adair que aguardava por mais informações do acidente em um hotel de Brasília, ontem à tarde.

Nascido em Encruzilhada do Sul, Adair se mudou com a família para Santa Maria aos cinco anos. Só deixou a cidade aos 20 anos, para morar em São Paulo. Passou por Santos, pelo Nordeste e se instalou em Brasília. Rodrigues estava em Manaus a trabalho, numa viagem que costumava fazer semanalmente. Ele havia começado a trabalhar na Riachuelo, em Santa Maria, como empacotador.

Rodrigues sempre disse que queria voltar a morar em Santa Maria. Ele construiu há anos uma casa em Camobi, zona leste da cidade. Segundo familiares, a mulher de Rodrigues tinha muita vontade de voltar para a região. Queria ficar perto de Cachoeira do Sul, sua terra natal. O filho do casal, de 16 anos, se mudaria junto.

No sábado, Luiz e outro irmão viajaram para Brasília em busca de informações. Ontem, a angústia ainda tomava conta.

- Ninguém informa nada direito aqui (em Brasília). Estou com o coração na mão. Desde sexta-feira, só consegui dormir uma hora - disse Luiz Rodrigues, irmão de Adão. .


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