| 01/01/2010 19h10min
Muito se fala no Brasil que não há mais reflexo da crise econômica. Isso foi dito inclusive numa declaração do ministro Guido Mantega, há pouco tempo. Mas qual é a situação no campo? Na última reportagem da série sobre as fusões e aquisições no agronegócio você vai ver saber por que os produtores ainda estão endividados e qual a preocupação deles com a concentração de grandes empresas do setor.
Por essa, o suinocultor Mauro Biondo não esperava. Experiente na atividade - cria suínos há pelo menos 30 anos - ele nunca perdeu tanto como nos últimos meses. Biondo lembra direitinho a data em que o problema começou: primeiro de novembro de 2008. Caíram as vendas, o preço, e ele ficou endividado por causa da crise financeira.
– A gente tinha uma reserva de estocagem de milho e farelo de soja, mas foi tudo gasto. E ainda tivemos que recorrer ao banco, fazer financiamento para ver se a gente consegue manter o plantel, para não terminar com a
suinocultura, no caso – conta o
produtor.
Ele mantém todo o ciclo de produção, desde a cria até a entrega dos leitões pro abate, que saem da propriedade com 160 dias. Mas o que Mauro Biondo ganha não é suficiente para pagar as contas.
Em um galpão fica o que os produtores chamam de creche da granja. São leitões de 45 dias. Tem mais de 1,1 mil alojados. Lá, os produtores mantem ainda mil matrizes, que são a base do plantel. O impacto da crise foi tão grande que se todos os animais fossem vendidos hoje, não pagaria a dívida que os produtores tem no banco.
Marco Mariani, outro produtor do oeste de Santa Catarina, teve que se render a indústria no último ano. Deixou de ser independente na produção e se tornou um integrado. Ele recebe os animais, a ração, a assistência técnica e arca com a estrutura e mão de obra para produzir. Ganha menos que antes, diz ele, mas não teve muita escolha no último ano.
– Este ano nós trabalhamos um ano abaixo do custo de produção. Daí não tem quem aguente. Não tem como. Mesmo hoje (dezembro), deveríamos estar vendendo animais adoidado e num preço bom – lamenta Mariani.
Pra produzir um quilo de carne de porco, tanto Biondo, quanto Mariani gastam hoje em torno de R$ 2,30. Por este mesmo quilo, eles ganharam neste mês, no máximo, R$ 2,05. Além da preocupação com o preço, eles dizem que estão perdendo o sono agora com as mudanças que estão acontecendo no mercado. Eles acreditam que a fusão das duas maiores empresas do setor que eles trabalham, a Sadia e Perdigão, vai dificultar a possibilidade de barganha de preço. E aí o problema pode ser ainda maior.
– Você sabe que quanto maior as empresas, pior fica para nós, independentes, ou qualquer produtor, né. Elas ficam massacrando porque elas dominam o mercado. Não tem concorrência, daí elas fazem o que querem. Estão pagando o que querem para o produtor – afirma Mauro Biondo.
Noutro nível da cadeia, o da pequena indústria, os empresários não vêem o problema com tanta gravidade. Djalma Oliveira é diretor comercial da Djalma Gonzaga de Oliveira, uma empresa que tem participação no mercado de carnes bovinas com produção de 50 mil toneladas por ano. Ele diz que apesar dos negócios entre as grandes, ainda há muito espaço para as pequenas.
– Olha, apesar da consolidação ter sido muito grande nos últimos anos, as três maiores companhias do setor de bovinos não atingem 40% da capacidade de produção. Então ainda sobra 60% que é uma pulverização muito grande para o setor. E ainda onde existem muitos nichos a serem atingidos, tanto na área de matéria-prima como produto acabado – explica Oliveira.
O susto ou surpresa que causam as grandes decisões corporativas para quem depende do mercado é só no início, garante o advogado especialista em fusões Mário Nogueira. Com o tempo, a percepção e geralmente os resultados não são tão ruins assim.
– No primeiro momento, até pelo desconhecido, as pessoas tendem a reagir, não diria
mal, mas com suspensão. O que vai
resultar disso? Muitas vezes você vê que com o passar do tempo o resultado é positivo ou ele não oferece grandes mudanças, pelo menos não grandes mudanças negativas.
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