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 | 27/12/2009 21h08min

Quedas nas vendas externas atingem quase todos setores do agronegócio em 2009

Crise reduziu consumo em países compradores e reduziu exportações brasileiras

Núria Saldanha, São Paulo | SP

Em 2009 as vendas externas caíram em quase todos os setores do agronegócio. Foi uma espécie de efeito dominó – o prejuízo de um segmento virou problema para outro. O resultado ruim no mercado de carnes teve impacto negativo para os produtores de milho.

– Nós tivemos uma grande produção de milho aqui, e sofremos o impacto da crise nas exportações do complexo carne, principalmente no primeiro semestre. Esse impacto gerou excesso de carne e frango no mercado internacional. Levou a uma redução dos alojamentos de frangos na avicultura, o que traz reflexo sobre o consumo de milho. O primeiro semestre foi muito fraco em consumo de milho no Brasil e isso acabou refletindo sobre os preços no mercado interno, que é preponderante em 80% – afirma o analista de grãos André Pessoa.

Na soja, a demanda da China foi a salvação da lavoura. O país continuou comprando e os preços internacionais, que caíram na pior fase da crise, voltaram a subir. O problema foi maior na época do plantio. O crédito ficou mais apertado nos bancos e as tradings também reduziram a oferta de financiamento. Sem dinheiro para financiar a safra, o produtor ficou com os custos e com a incerteza. Seu Sylvio Curioni, de Campo Verde, no Mato Grosso, sente agora o efeito de uma decisão precipitada que tomou na hora do plantio.

– Como todos produtores, imagino, reduzimos insumos. Principalmente o adubo, que é o nosso grande trunfo na região de Cerrado, que para produzir bem precisa que seja bem adubado. E infelizmente foi um ano de reduzir as quantidades e consequentemente vem a redução de produção – lamenta o produtor rural Sylvio Segundo Curioni.

Cada hectare plantado pelo seu Sylvio rendeu cinco sacas de soja a menos do que a média da safra anterior.
 
Outro setor que teve prejuízo foi a citricultora. A crise derrubou as vendas de suco de laranja. O consumidor substituiu a bebida por outras mais baratas, como os refrigerantes, isotônicos e água aromatizada. A redução nos consumo ocorreu principalmente em países ricos, para onde o Brasil vende quase toda a produção.
 
– A crise pegou o sistema financeiro dos países ricos, e como a gente exporta 97% do suco que produz para Japão, EUA e Europa, é justamente onde a crise atingiu bem de forma radical. A recuperação, por sua vez, não é simples, porque são esses mercados que têm que apresentar recuperação, depende da recuperação financeira mas também depende de um comportamento de consumo que ainda não se verificou – explica Cristian Lohbauer, presidente da CitrusBR.

Os preços da laranja ficaram mais baixos durante quase todo o ano, e se recuperaram nos últimos meses por causa da notícia de uma redução de safra na Flórida, principal concorrente do Brasil no setor. Mas a Associação Brasileira dos Citricultores afirma que essa valorização ainda não chegou ao produtor.
 
– O preço da matéria prima vem despencando, enquanto o preço do suco ao consumidor vem subindo – alerta Flávio Viegas, presidente da Associtrus.

Se o suco de laranja perdeu espaço, o mesmo não aconteceu com uma bebida bastante popular. O consumo do cafezinho não diminuiu. Ao contrário, subiu 8% no Brasil, de acordo com a Abic, que representa a indústria. O crescimento foi puxado principalmente pelos cafés de qualidade.
 
– Nos restaurantes, hotéis, casas de café, as notícias foram de que o consumo de cafés especiais cresceu – comemora Nathan Herszkowicz, diretor executivo da entidade.

Mas o ano não foi de boas notícias para a cafeicultura. Os problemas apareceram no campo porque os preços internacionais caíram.

– A questão cambial dificulta muito hoje porque o café é cotado internacionalmente – explica o secretário de Agricultura de São Paulo, João Sampaio.

O Estado, que já teve o maior parque cafeeiro do Brasil, deve produzir menos no próximo ano. Como o lucro tem sido menor a cafeicultura paulista vem perdendo produtores.

– Com a rentabilidade muito baixa, a gente está prevendo um ano pior no ano que vem – ressalta o secretário.

Para a cafeicultura do restante do Brasil, 2010 promete ser um pouco melhor.

– Não é ano de safra cheia, como não temos estoque, a situação vai ficar apertada. Não acreditamos em falta de café, mas entre o que o Brasil exporta e consome, deve haver um equilíbrio – diz o analista do mercado de café e membro da câmara setorial do grão Eduardo Carvalhaes.

CANAL RURAL

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