O governo espera que em um mês as operações comerciais entre Brasil e Uruguai possam ser feitas nas moedas locais. O sistema de pagamento bilateral em moeda local ainda divide opiniões de especialistas.

O sistema vai permitir aos importadores e exportadores dos dois países realizarem pagamentos e recebimentos nas respectivas moedas, a exemplo do que já ocorre entre Brasil e Argentina desde outubro de 2008.

De janeiro a setembro deste ano, as operações comerciais brasileiras com o Uruguai somaram mais de US$ 1.8 bilhão. A principal vantagem da medida é a redução de custos por não utilizar uma terceira moeda, o dólar americano. Além disso, o acordo deve diminuir custos operacionais e evitar influências externas nos contratos bilaterais.

— Quando você já tem uma relação de paridade de tratamento das moedas sem precisar de uma terceira para indexar, você consegue aplicar apenas os mecanismos econômicos do bloco, em bem menor escala. Vai ter uma influência da cotação externa da soja para uma safra americana vai influenciar no preço, mas você tem que pensar em quanto vai estar o valor do dólar. Por exemplo, se for um final de período americano, ano fiscal americano, quando terminar é o momento que as empresas americanas vão fazer a emissão dos royalties, então, isso vai mexer na tarifa do dólar. Isso influenciaria no comércio entre Brasil e Uruguai dentro do Mercosul. Isso vai acabar na medida em que forem estabelecidos os contratos apenas em real e em peso uruguaio — defendeu o professor de relações internacionais da UnB, Rafael Duarte.

Entretanto, para Flávio Botelho, professor de pós-graduação em Agronegócio da mesma universidade, a medida deve ser vista com atenção pelo setor.

— O sistema de preços relativos começa a ficar confuso. Se não tomar cuidado com o comportamento da soja comparado com outras commodities, você pode ter uma ilusão: o preço em dólar pode causar a ilusão monetária de que ele está aumentando quando de fato ele está com problemas nesse novo momento da economia mundial — concluiu Botelho.