| 01/07/2009 18h58min
O G-8 não morreu, mas não tem mais poder de decisão sobre a crise do sistema financeiro internacional. A análise foi feita hoje, em Sirte, na Líbia, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e revigora o esforço que o governo brasileiro está fazendo para manter vivo o principal grupo do qual participa, o G-20.
Segundo Lula, a reunião dos sete países mais ricos do mundo, mais a Rússia (grupo dos oito, G-8), na Itália, marca a continuidade do G-8, mas "sem importância".
O G-8 se reunirá na próxima semana, entre 8 e 11 de julho, em Áquila, na Itália. O Brasil é convidado apenas para o segundo dia, quando às potências industrializadas se unirão os países emergentes. Há cerca de um mês, o governo tem se debatido para reduzir o peso internacional do G-8, lutando pela sobrevivência do G-20. Parte desse esforço foi realizado na Cúpula dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), realizada em Ecaterimburgo, na Rússia, há 15 dias.
As declarações de
Lula marcaram ligeira falta de sintonia com
ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Há 20 dias, em Paris, o chanceler havia afirmado que o G-8 - grupo formado por Estados Unidos, Canadá, Japão, Alemanha, França, Reino Unido e Itália, além da Rússia — "estava morto" desde a Cúpula de Londres do G-20, em abril.
Hoje, Lula se disse menos pessimista do que seu ministro, mas menosprezou a reunião das maiores potências.
— Do ponto de vista da representação política, para discutir a crise, o G-8 já não vale mais. Esse não vale mais — reiterou.
Lula disse não acreditar no futuro de um grupo que não conta com a participação de países emergentes como China, Índia e Brasil.
— O G-20 vai continuar, o G-8 vai continuar sem importância, porque não tem sentido: o mundo hoje não depende somente dos países ricos. Os países emergentes têm uma importância e uma ascendência na economia mais importante que os países ricos — sustentou.
Descontraído, Amorim o
interrompeu para afirmar:
— Salvou meu emprego,
presidente.
Sobre sua participação em Áquila, Lula disse que deve voltar a insistir na importância da conclusão do acordo da Rodada Doha, demonstrando satisfação pelo avanço da posição norte-americana sobre as negociações comerciais.
— Me parece que agora o Obama (Barack Obama, presidente dos EUA) já admite conversar. Os interlocutores norte-americanos já estão estabelecendo uma conversa e eu espero que a gente avance — sintetizou.
Lula discursou na abertura da cúpula
Lula prometeu ajudar a África a fazer uma "revolução verde" na agricultura, na abertura da Cúpula da União Africana (UA) na Líbia.
— A experiência do Brasil mostra que a produtividade entre pequenos fazendeiros e a produção sustentável de alimentos são essenciais para erradicar a fome — disse.
Lula, convidado a discursar na abertura do encontro, cujo objetivo é ajudar os fazendeiros da África,
disse que a cooperação "sul-sul" entre países em desenvolvimento era "como uma força de
ataque contra as distorções e iniquidades que persistem na ordem mundial". Ele também pediu um foco maior na produção de biocombustíveis, ressaltando o sucesso do Brasil com o etanol, feito a partir da cana-de-açúcar.
O líder líbio Muamar Kadafi, que é o anfitrião da cúpula na sua cidade natal de Sirte, disse que as ideias de Lula para os biocombustíveis são "interessantes, na medida em que não prejudiquem a produção de alimentos". Kadafi também aceitou, como representante da União Africana, um convite de Lula para organizar um encontro de ministros da agricultura de países africanos no Brasil.
Lula foi o convidado oficial do encontro. Dois outros convidados, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, cancelaram suas participações no encontro.
O líder líbio Muamar Kadafi e Lula na abertura da Cúpula da União Africana
Foto:
Sabri Elmehdwi, EFE