| 16/06/2009 17h47min
As quatro grandes economias emergentes que integram o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) pediram nesta terça, dia 16, um sistema de divisas mais diversificado, estável e previsível, mas não descartaram de vez o dólar.
No comunicado final após a primeira cúpula formal na cidade russa de Ecaterimburgo, nos Urais, o Bric defendeu um mecanismo mais democrático e transparente de tomada de decisões nas organizações financeiras multilaterais.
Participaram da cúpula o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os governantes de Rússia, Dmitri Medvedev; e China, Hu Jintao; e o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, cujos países concentram 40% da população mundial.
O grupo, que até agora só tinha realizado reuniões informais, pede mais voz e voto para as economias emergentes e em desenvolvimento nessas organizações, cujos dirigentes devem ser escolhidos através de um sistema de eleição aberta e transparente baseado nos méritos dos candidatos.
O documento ressalta que a reforma da arquitetura econômico-financeira mundial deve se basear no fortalecimento da gestão de riscos e nas práticas de supervisão financeira para evitar abalos nas bolsas de valores.
Além disso, lembrou da necessidade de uma sólida base jurídica e destacou a compatibilidade das atividades dos órgãos nacionais de regulação com os trabalhos de organismos internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (Bird).
Ao contrário do que se esperava, o comunicado final não faz referência direta ao dólar, apesar de Lula ter reiteradamente sugerido nos últimos meses desvincular a moeda americana nas trocas comerciais bilaterais. Medvedev apoiou essa postura, ao afirmar, horas antes de se reunir em particular com Lula, que o mundo precisava de novas divisas de reserva para estabilizar o sistema financeiro global e evitar novas crises.
– As atuais divisas de reserva, acima de tudo a principal delas, o dólar, não cumpriram suas funções – disse.
O presidente russo admitiu que a aparição de novas divisas de reserva "é um processo longo", rejeitou as mudanças superficiais e defendeu "vias alternativas" para resolver a crise.
No entanto, a China, que tem a maior parte de suas reservas de divisas em dólares, expressou pouca inclinação a aceitar a proposta do Brasil e a de países como Cazaquistão, que sugeriu a criação de moedas supranacionais para trocas regionais.
Por sua vez, o Bric pede no comunicado às economias desenvolvidas para "cumprir suas obrigações de alocar 0,7% de sua receita em conceito de ajuda aos países em desenvolvimento", conforme disseram as agências russas. Nesse sentido, pediu aos países mais ricos para "flexibilizar os prazos de pagamento das dívidas, o acesso ao mercado e à tecnologia por parte dos países em desenvolvimento".
Na esfera energética, pediram a "diversificação dos recursos energéticos e de suas vias de transporte, a garantia da segurança das rotas de passagem, a criação de novas infraestruturas e a canalização de novos investimentos ao setor".
O Bric também lançou outra declaração conjunta sobre segurança produtiva na qual defenderam um sistema internacional de comércio de produtos agrícolas "mais justo e racional" e "contra qualquer forma de protecionismo".
Os países pediram aos organismos de promoção do desenvolvimento que aloquem mais recursos ao campo a fim de estimular os habitantes dos países pobres a se dedicarem às tarefas agrícolas. Entre as propostas para equilibrar a balança no setor, o grupo propôs promover a produção e o uso de biocombustíveis para tirar de seu atraso secular as nações mais pobres.
O presidente russo assegurou na entrevista coletiva na qual colocou fim à cúpula que os quatros líderes do Bric tinham chegado a um acordo para "coordenar" no futuro as medidas contra a crise, incluindo as estabelecidas nas cúpulas do Grupo dos Vinte (G20, que reúne os países mais ricos e principais emergentes).
Ele ressaltou que os governantes tinham encarregado os ministros de Finanças e presidentes dos bancos centrais de seus respectivos países que "propusessem os parâmetros que terá a nova arquitetura financeira mundial".
Medvedev qualificou de "histórica" a cúpula, na qual todos os participantes pediram uma "ordem mundial mais justa" não só em matéria econômica, mas também política. Em Ecaterimburgo também foi decidido que a próxima cúpula do grupo acontecerá em 2010 no Brasil.
Os países do Bric concentram em torno de 14,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do mundo, 12,8% do comércio e 25% da superfície terrestre do planeta.
AGÊNCIA EFE
Da esquerda para direita: o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o da Rússia, Dmitry Medvedev, o da China, Hu Jintao, e o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, unem suas mãos enquanto posam durante a primeira reunião formal do grupo Bric
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Sergei Ilnitsky/Efe