| 11/05/2009 04h42min
Vinte e quatro horas depois de Yeda Crusius rebater em entrevista coletiva as denúncias contidas na matéria da revista Veja, Carlos Crusius também decidiu se manifestar. Ressaltando o fato de que sempre se preservou por entender que "marido" de governadora não deve falar, Crusius negou ter recebido dinheiro de campanha. Ponderou sobre o custo que tem pago por calar e lançou dúvidas sobre quem estaria por trás da onda de denúncias enfrentadas pelo governo desde seu começo, em 2007.
Vestindo calça jeans, camiseta e tênis, Crusius falou por cerca de 90 minutos com jornalistas de Zero Hora, na manhã de domingo. Disse querer descobrir que interesses Magda Koenigkan — viúva do ex-assessor de Yeda Marcelo Cavalcante — poderia ter para confirmar declarações que Crusius imputa como falsas. O professor aposentado também antecipou o estudo de medidas judiciais contra a empresária, que foi fonte da reportagem de Veja. Perguntado sobre se devia ser chamado de marido ou ex-marido de Yeda, Crusius, que
usava
aliança, afirmou que eles continuam casados. Abaixo, leia trechos da entrevista:
Zero Hora — Como o senhor avalia as denúncias de que teria recebido dinheiro de caixa 2?
Carlos Crusius — Vocês sabem que eu evito falar, aparecer, dar entrevista. Sempre evitei falar. Por uma razão muito simples, é que marido não fala. Primeira-dama não fala, marido não fala. Quem fala é a governadora, é a deputada. Sempre me preservei. Isso me traz um custo pessoal. Sempre aguentei no osso. Tenho aguentado com a Yeda, com a família, toda essa lama, essa coisa inacreditável que está acontecendo no Rio Grande do Sul, um negócio absolutamente inacreditável, desde o começo do governo tem sempre uma denúncia. São coisas que no fundo tu está sempre numa situação que tu tem de dizer que não fez alguma coisa.
ZH — O que motivaria essa onda de denúncias?
Crusius — Se vocês fizerem um retrospecto, vão ver que sempre vem
de um determinado lado, sempre vem de um determinado lugar,
que vocês podem identificar, é um negócio meio selvagem, meio irracional, sempre tentando atingir a pessoa da governadora. É um negócio meio enlouquecido, mas tem uma lógica e eu acho que essa lógica está aparecendo cada dia mais. Tem uma lógica, não é simplesmente querer desestabilizar o governo, não pode, é demais. Vocês têm capacidade para depois começar a juntar peças e ver o que está acontecendo no país.
ZH — O senhor acha que essa onda de denúncias tem a ver com algo nacional? Crusius — Acho também, mas enfim, isso é meu, não estou fazendo teoria de conspiração nenhuma.
ZH — O que o fez falar neste momento?
Crusius — Eu sempre fiquei quieto, isso dá um custo pessoal grande. Eu sou professor, eu tenho amigos, tenho alunos, tem milhares de ex-alunos que me conheceram, tenho vários colegas da universidade e de repente começa insinuações, é um custo pessoal altíssimo. Eu sei que a governadora paga
um custo maior ainda que o meu. Eu não estou
reclamando, só estou dizendo para vocês a situação é ruim. Agora, com esse negócio da Veja, a coisa ultrapassou todos os limites porque bateu em mim direto, mas é claro que não sou eu o visado, o visado é a governadora.
ZH — O que o senhor tem a dizer sobre as supostas gravações que a Veja cita?
Crusius — Já tinha aquelas denúncias do PSOL, uns vídeos que tinha, e eu tenho que dizer o que? Vocês não me mostram o vídeo, me mostra. Tanto na questão do PSOL como nesta questão da Veja, como todas as outras coisas aqui, o que eu quero deixar bem claro é o seguinte: não é que eu negue que exista de fitas e provas. Eu nego uma coisa mais fundamental, eu nego o fato, os fatos não existiram, eu não recebi um tostão do Marcelo. Eu não recebi R$ 400 mil do Marcelo, aliás eu nunca vi R$ 400 mil juntos assim na minha vida. Isto não aconteceu, como não aconteceu com aquela denúncia lá do PSOL, que tinha uma reunião e empresários e um cara passou não sei quantos
mil na mesa, que estava o Aod.
É absoluta loucura. Aí tu vai dizer "ah, mas tem uma fita". Me mostra a fita. É impossível ter uma fita onde eu esteja recebendo 400 mil do Marcelo. Se isso existir, é tão falso como uma nota de três pilas, é montado.
ZH — No caso da reportagem da Veja não seriam fitas com imagens, mas sim áudios de uma conversa entre Cavalcante e o lobista Lair Ferst.
Crusius — Não sei o que existe. Essa do PSOL, do vídeo, tudo bem se eu tenho um vídeo nosso aqui assim. Agora, o que não tem é eu te passando dinheiro. Vão dizer, "mas olha aqui, tem um vídeo do Crusius lá na campanha falando com não sei quem". Pode ser que tenha, falando, sei lá, com o Marcelo.
ZH — O senhor tinha contato com o Cavalcante na campanha?
Crusius — Nós chegamos lá. É claro que tu não sabes se eu recebi ou não o dinheiro, é evidente que tu tens direito a essa desconfiança, assim como todo mundo tem o direito. Mas não se pode é
pré-julgar. Aquelas denúncias do PSOL eu não quero nem falar.
Tem uma diferença entre aquilo e o que está acontecendo agora. É que lá são parlamentares que falam, então se tu processa o cara, aí tu sabe o que acontece, dois dias depois o Tribunal encerra o caso e recobre com o manto da imunidade parlamentar. Agora, este caso aqui eu repito 50 mil vezes, eu nunca recebi dinheiro do Marcelo, aliás eu nunca recebi dinheiro de caixa 2 nenhum, mas este especificamente eu nunca recebi. Esse tal de R$ 400 mil das fumageiras, vocês me desculpem mas quando eu li a descrição que essa moça fez, é um negócio cômico porque é uma sala, é um negócio cheio de fornecedores e credores enlouquecidos, aí o cara entra com 400 mil e em vez de pagar os caras, em vez de ir lá para o tesoureiro dar o dinheiro ele vem e dá para mim. Aí eu entro numa sala e saio da sala e digo, ó pessoal: "No money today", Mas escuta, mas pelo amor de Deus, o que é isso, isso é uma loucura.
ZH — Quem era o tesoureiro da campanha?
Crusius — Era o Rubens
Bordini. Na campanha tinha uma
regra: quem lidava com dinheiro, fazia arrecadação, o pagamento, era o Bordini. Eu podia chegar para ti e dizer "dá uma colaboração para campanha". Tu dizia vou te dar. "Não, para o Rubens Bordini".Tem aí o negócio das fumageiras, uma dizendo que deu 200 mil lá por dentro, com recibo.
ZH — Esse dinheiro foi para campanha, para o comitê ou para o partido, porque na campanha não aparece...
Crusius — Eu não tive tempo de ver isso, mas acontece o seguinte, o que tu deves ter visto é a prestação de contas da candidatura da Yeda, mas são comitês diferentes, porque o cara pode ter pago para o comitê do PSDB, para o diretório do PSDB e aí o PSDB repassa para o comitê da Yeda ou para outros candidatos. Pelo que eu entendi, o recibo seria do comitê, do partido, como eles dizem que têm um recibo bancário e eles mostraram o recibo bancário, aí deu. Eu nem quero entrar nesse troço porque não houve. Uma diz que não deu, outra sim, mostra o recibo
ZH — Pode existir uma cena de
o senhor reunido com fornecedores de campanha e dizendo não ter dinheiro para o pagamento?
Crusius — Não recordo. Se aconteceu, isso seria uma cena normal de companha. Não recordo porque não era pra mim que pediam isso. Passava muita gente lá naquele comitê e como a governadora disse ontem (sábado), é claro que pode ter uns vigaristas.
ZH — Era normal alguém chegar no comitê e oferecer dinheiro por fora?
Crusius — Não, para mim não.
ZH — Essa questão de caixa 2 não está generalizada no Brasil?
Crusius — Tem gente que chega lá insinuando coisas, tem oportunista, vigarista.
ZH — Lair Ferst era um desses oportunistas?
Crusius — Vamos falar da questão da Veja. Então, tu tem as fontes, tu tem essa moça e tu tem as fitas. O pobre do Marcelo não é mais fonte. Existem as fitas? Parece que existem as fitas, onde é que
estão, elas foram gravadas por quem? Precisa fazer perícia. Onde foram gravadas? Parece que foi num
barzinho, mas era uma gravação como? Ambiental? Era um gravador em cima da mesa, como estamos aqui às claras. Vamos pegar a fita e vamos periciar, vamos fazer uma perícia, vamos ver se tem corte, porque eu quero a conversa toda. Eu gostaria muito que o Marcelo tivesse vivo, porque eu tenho certeza que o Marcelo seria o primeiro a desmentir isso. Quero saber como foi a conversa, induzida, preparada, combinada? Alguma coisa eu ainda posso inferir com o exame dessa fita, mas o resto eu não posso mais.
ZH — Ele pode ter sido induzido?
Crusius — Pode. Caso exista, eu não sei se ele falou isso, mas mesmo se tenha isso eu não sei se é induzido ou se é combinado.
ZH — O senhor já tinha ouvido falar que o Lair fazia gravações?
Crusius — Já. Então, tem todos esses problemas com as fitas. Agora, tu tem uma fonte: a moça. Quem é essa moça? Nunca ouvi falar nessa moça.
ZH — A governadora disse que chegou a conhecer Magda. O senhor a conheceu
também?
Crusius — Parece que ela viu e não gostou muito. Um bom trabalho jornalístico é saber quem é essa moça.
ZH — O senhor já fez esse trabalho?
Crusius — Não vou dizer pra ti que eu sei quem é a moça, mas vamos ver. A moça tinha interesse em fazer isso? Qual é a situação da moça hoje?
ZH — A tentativa de desqualificar a fonte não pode passar a ideia de que há algo a esconder? O que pesa mais: a veracidade da fita, quem é a fonte ou o fato de o senhor poder garantir que aqueles fatos não existiram?
Crusius — Estou fazendo todas essas coisas. A primeira coisa que eu fiz foi garantir que o fato não aconteceu. Agora, tu vai me pedir uma prova? Como é que eu posso provar, me diz como eu posso provar, isso é uma prova negativa, como eu posso provar que não aconteceu? Entendeu? Eu estou falando que não aconteceu. É um ardil lógico, é por isto que é uma situação torpe, é
uma coisa diabólica, exatamente por isso, porque eu fico na situação de
dizer que não aconteceu.
ZH — Depois da morte de Cavalcante, a Magna teve contato com o governo, com o senhor?
Crusius — Comigo não, o que eu sei é que há umas entrevistas meio contraditórias dela. O que eu vou fazer agora é ver quais são as medidas judiciais que eu posso tomar. Vou ver o que posso fazer e vou fazer. Não estou dizendo que a moça seja isso ou aquilo. Tu tem uma pessoa que declara. Estou dizendo que aquilo que ela está declarando é falso. E ninguém mais do que eu tem essa verdade. E o Marcelo, esteja onde estiver, sabe disso também. Eu tenho curiosidade de saber quem é a moça. E posso chegar a coisas interessantes.
ZH — Em um e-mail seu, que circulou no dia da morte do Marcelo, o senhor culpava a oposição pela morte de Cavalcante. Na entrevista que deu no sábado a governadora falou em suidício induzido, numa referência à viúva. Não há contradição nessas duas posições?
Crusius
— Acho que não. A Yeda pode ter outras informações que eu
não tenho, certamente ela está mais bem informada que eu. Eu não sei nada sobre a morte do Marcelo, não sei. O que tudo indica é que foi suicídio. O que eu sei é que com o negócio aqui da CPI ele, que era frágil, se fragilizou mais. Ele tinha um grande orgulho de ser o embaixador do Estado, ele sentiu muito esse negócio.
ZH — A decisão da governadora de demiti-lo pesou para esse sentimento?
Crusius — Não sei. Mas ele aí encontrou essa moça e essa moça fez gato e sapato dele. Os relatos que se tem são muito ruins para ele. Ele degringolou. "Ah, mas foi por que saiu"? Não sei se foi porque saiu, se foi porque encontrou a moça, se foi o conjunto.
ZH — O senhor tem conhecimento de que a governadora tenha convidado o Marcelo para voltar a trabalhar na representação?
Crusius — Não tenho conhecimento e ela diz que não convidou.
ZH — Não lhe intriga o fato da
polícia não ter conseguido ainda detectar o que causou a morte?
Crusius
— Eles simplesmente estão politizando isso aí. Eles já sabem.
ZH — Qual seria o interesse da Polícia Civil de Brasília em politizar o assunto?
Crusius — Sabem que foi suicídio, estão alongando. Eu acho isso.
ZH — Qual era o papel de Cavalcante na campanha de Yeda de 2006?
Crusius — Era do gabinete da Yeda lá em Brasília e veio para cá exatamente porque ele tinha muitas relações com os políticos, veio para fazer esse meio de campo. Quem coordenava a campanha eram os presidentes dos partidos.
ZH — Qual era o seu papel na campanha?
Crusius — O meu papel era mais irrelevante do mundo, mas que eu acho que era fundamental. Onde eu participei? Em 2005, a Yeda disse: "olha eu não vou mais me candidatar a deputada, eu vou encarar um troço aqui". Nós tínhamos um grupinho que se reunia para examinar a situação do Rio Grande e
desse grupo fazia parte o Aod, ele era da FEE (Fundação de Economia e Estatística) e tinha todos os
dados sobre a economia do Rio Grande do Sul. A gente nãos e lembra mais como estava. Em 2005, o Aod vinha e abria os números assim e a gente só botava as mãos na cabeça: "quebrou". Acho que foi em novembro de 2005, num almoço, estávamos o Daniel Andrade, o Fernando Schüler, o Aod e eu, nós quatro, e eu disse que ela queria se candidatar. E disse: "vamos ser sinceros, o Rio Grande do Sul é viável, tem saída ?". Por que de repente a gente entra numa campanha pode perder, mas pode ganhar. E daquele almoço saiu o embrião das ideias, olha "só é viável se fizer isto". Começamos a montar o projeto, o famoso livrinho azul, e foi nisto sempre que eu trabalhei.
ZH — O senhor tinha uma visão geral do que estava ocorrendo na campanha?
Crusius — Não. É um negócio muito grande.
ZH — Se estivesse ocorrendo alguma falcatrua, o senhor estaria percebendo?
Crusius — É evidente, claro, mas tinha gente muito
responsável ali.
ZH — Tem um personagem que
surge nas denúncias do PSOL e reaparece na matéria da Veja, que é a Walna (Vilarins Meneses, assessora pessoal da governadora). Qual o papel dela na campanha? De onde ela vem?
Crusius — Quando a Yeda foi eleita na primeira vez, ela herdou o gabinete do Luiz Roberto Ponte e ficou com a Walna, ela era uma secretária, uma pessoa muito eficiente e foi a Yeda que trouxe ela para auxiliar na organização de agenda.
ZH — Teve papel na campanha?
Crusius — Ela auxiliou na organização da agenda.
ZH — Mas tinha ligação com questões de dinheiro?
Crusius — Eu não sei, acho que não.
ZH — Quando senhor soube da matéria?
Crusius — Um cara da Veja falou com a Yeda na sexta-feira. Ela me ligou. esse negócio está rolando há anos, vem lista de que tem isso, vai aparecer isso, pode aparecer o que quiser.
ZH — A governadora disse que tá esperando mais fitas...
Crusius — Isso que me intriga, sabe o que
me intriga? É que tem realmente um método, gente, pelo amor de Deus, ninguém é idiota, tem um método nesse troço, porque é assim ó, aparece um pouco, mas não aparece. E sempre esse negócio de vai vir mais, mostra tudo, pode mostrar, sem problema nenhum, mostra tudo. O que fizeram de fofoca, de insinuações, de conta no Exterior.
ZH — Qual era o papel do Lair na campanha?
Crusius — Acompanhava o Marcelo, na maioria das vezes. O Lair não tinha uma atribuição. Era um cara que ficava por lá.
ZH — Ele recebia por algum serviço?
Crusius — Acho que não. Ele ficava por lá, assim como várias pessoas que ficam lá.
ZH — Ele pode ter recebido algum dinheiro em nome da campanha?
Crusius — Não me pergunta isso. A primeira preocupação da Yeda, quando começou a campanha, ela disse "olha aqui, eu vou avisar a todos os empresários que só quem pode
pegar dinheiro é fulano e contra-recibo".
ZH — Como ficou a relação do Lair
com o governo depois da Operação Rodin (que desvendou a fraude do Detran)?
Crusius — Nunca mais vi o Lair. Aliás, só o vi uma vez sim, e o cumprimentei. Eu estava com Yeda no velório da filha do Feijó.
ZH — O senhor soube se ele tentou procurar pessoas do Piratini deppis do escândalo da fraude do Detran?
Crusius — Comigo, nunca tentou. Vocês podem não acreditar, porque eu mesmo não acredito, mas eu só soube que o Lair tinha firmas, tinha essas empresas, quando deu esse troço aí (da Rodin).
ZH — No auge da Rodin e da CPI do Detran, a governadora definia o Lair apenas com a palavra festeiro. No sábado, a governadora disse que Lair deve ter vendido por alto valor de mercado as fitas, o que seria, segundo ela, típico dele. Por que não falou isso desde o começo?
Crusius — O Lair realmente é um cara muito festeiro.
ZH — A governadora foi
criticada na CPI por ter dado essa declaração, de que o Lair era um festeiro. Por que não
disse antes o que realmente pensava dele?
Crusius — Nunca perguntaram a ela isso. Deixa eu dizer pra vocês, esse negócio de fitas tem muita gente por traz disso.
ZH — Duas pessoas que sempre são lembradas como estando por trás disso são o ministro Tarso Genro e o vice-governadora Paulo Feijó. O senhor acha que eles estão por trás disso?
Crusius — Não vou fazer comentário de nenhum dos dois. Eu acho que isso a imprensa podia ver. Rastreiem o que tem acontecido, desde o começo, desde que começou esse negócio da casa, dos 400 mil do Lair.
ZH — Na reportagem de Veja, Magda afirma que a governadora teria dito para Cavalcante durante a campanha: "Marcelinho, o Crusius quer pagar uma dívida antiga nossa." Vocês estavam naquele momento, no segundo turno, tratando da questão de quitar o financiamento de um apartamento em Brasília?
Crusius — O apartamento já estava quitado há
horas. Em relação à compra da casa, ninguém nesse Estado fez o que a
governadora e eu fizemos como casal. Ninguém fez como nós de abrir tudo, todas as nossas contas. Quem é que fez isso, qual foi o político que fez isso? Nós tivemos a coragem, a honestidade, a transparência de abrir tudo, estão lá, não só a declaração de imposto de renda, mas as transações bancárias. Não há o que falar do raio dessa casa, não há mais o que falar. O Ministério Público examinou tudo.
ZH — Quando é que começou a procura pela casa, foi no segundo turno?
Crusius — A Yeda e eu, no tempo em que ela foi deputada, sempre vivemos num apartamento pequeno (em Porto Alegre). Em Brasília, ela vivia também num apartamento. Esse apartamento de Porto Alegre, servia pra ela receber duas pessoas, três pessoas, mas no momento em que ela foi eleita, teve um problema. Ela não pode mais utilizar ele como morada, como residência da governadora porque é pequeno demais.
ZH — O senhor usou as suas economias na compra dessa
casa (localizada na Vila Jardim, na Capital). Por
que não mora lá?
Crusius — É uma questão pessoal que eu não vou entrar, mas é uma certa comodidade, é uma certa funcionalidade do casal, só isso. Eu tenho a chave da casa e ela tem a chave do meu apartamento.
ZH — Hoje, o senhor é marido ou ex-marido da governadora?
Crusius — Não quero entrar nesse assunto. Nós somos casados e continuamos casados, é isso.
ZH — Não estão separados?
Crusius — Não. Até hoje eu não fui comunicado de nenhum processo de separação e nem eu pedi.
ZH — O senhor não tem namorada nem ela tem namorado?
Crusius — Que eu saiba ela não tem namorado, e eu também não tenho namorada, embora digam que eu tenho milhares de namoradas, cada semana me aparece uma namorada. Ainda bem que não me apareceu namorados.
ZH — Como foi o episódio da extinção e sua demissão
do Conselho de Comunicação em janeiro?
Crusius — Ele não era um órgão de execução. Quando mudou a estrutura
da comunicação, eu disse para a Yeda que tinha de acabar o conselho, não tinha mais sentido. Devia ser ter sido extinto há muito tempo.
ZH — Houve o episódio em que o senhor discordou, diante de todos os secretários, das ideias apresentadas pela GAD, empresa contratada pelo governo para definir uma nova marca de gestão?
Crusius — Não houve uma discordância minha com a linha que o cara (Luciano Deos) estava sugerindo, só disse que a gente devia pensar mais um pouco sobre aquela sugestão.
ZH — A governadora chegou a dizer na ocasião, em frente de todos, que parecia uma discussão como as que vocês têm nos churrascos de domingo?
Crusius — Ela tem o direito de dizer assim: "Vamos discutir isso depois". Acho que ela fez bem porque ela imediatamente percebeu que tinha de fazer outro negócio na comunicação.
ZH — Secretários falam muito que o senhor dava um certo
equilíbrio na hora das discussões mais tensas do governo e que agora está
afastado. O senhor era uma pessoa influente?
Crusius — Existe um problema de gêneros. Isso eu senti muito, principalmente no primeiro ano de governo. As pessoas não estão acostumadas, elas não sabem como tratar com uma governadora, com uma mulher no governo. Às vezes, os caras me procuravam porque achavam que era mais fácil falar com um homem. Eu dizia: "Não, isso aí não tem nada a ver comigo". É verdade.
ZH— O senhor tem frequentando o Palácio Piratini?
Crusius — Quando é que tu me vês no palácio? Em cerimônias, mas não tenho nenhuma função no Palácio. Tenho uma função ainda no partido (presidente do Instituto Teotônio Vilela).
ZH — Sobre outras duas questões levantadas pela Revista Veja, de que a Agência DCS pagava despesas de Marcelo e recepções na casa da governadora e de que Yeda teria recebido a carta escrita por Lair Ferst, denunciando a fraude do Detran. O senhor tem conhecimento?
Crusius — Esse negócio da carta já está
esclarecido, o próprio Marcelo disse que não entregou.
ZH — E a questão da agência pagando contas?
Crusius — Nunca ouvi falar disso. Sabe quando conheci o pessoal da DCS? Uns três meses depois de começar o governo. Não sabia onde ficava a DCS.
ZH — O senhor foi para os EUA com a governadora, na Páscoa?
Crusius — Não tinha dinheiro.
ZH — Sua renda é da aposentadoria de professor?
Crusius — Nossa renda, a renda do casal, se compõe de aposentadoria de professor, da aposentadoria da Yeda e agora do salário dela como governadora, é essa a nossa renda, o patrimônio é o apartamento, a casa e o meu carro.
ZH — Que carro o senhor tem?
Crusius — Tenho um Fiat que era o da Yeda, que era o dela lá de Brasília.
ZH — O senhor fala com frequência com ela,
diariamente?
Crusius — Claro, diariamente, não
ZH — Depois de saber sobre a matéria da Veja, vocês
conversaram, se reuniram?
Crusius — Ela (Yeda) estava indo pra Chapecó. Ela me telefonou, falou "olha tá saindo um negócio assim, assim, procura ver".
ZH — Já havia ideia de falar com a imprensa no sábado, já havia uma decisão, o senhor sabe?
Crusius — Não sei. Ela ia dar uma coletiva e aí pensei: vou lá, mas se eu vou lá o que acontece? Todo mundo vem pra cima de mim. Então, vamos separar, e hoje está dando para separar o que é governo e o que é uma posição pessoal.
Crusius ressaltou o fato de que sempre se preservou por entender que "marido" de governadora não deve falar
Foto:
Ricardo Chaves