| 23/04/2009 19h05min
Num momento de crise econômica, o Brasil deve consolidar parcerias comerciais com os outros países dos BRICS (Rússia, Índia e China – o termo significa as inicias dos quatro principais países emergentes). Esta idéia foi defendida pelos especialistas que participaram de um debate sobre a situação atual dos quatro países do grupo, nesta quinta, dia 23, na Fecomércio, em São Paulo.
Neste ano a China virou a principal parceira de negócios do Brasil, ultrapassando os Estados Unidos. Em 2008, a balança comercial entre os dois países atingiu uma receita de US$ 36,4 bilhões. O Brasil ficou com um déficit de US$ 3,6 bilhões. A soja e os derivados estão no topo da lista de importação dos chineses: foram mais de US$ 5 bilhões de receita. Para o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Charles Tang, mesmo com a crise econômica, a balança comercial deve crescer neste ano.
– Eu ainda acredito em alta. Tanto é que o primeiro trimestre deste ano já mostrou uma alta e superou o primeiro trimestre do ano passado, inclusive na pauta da soja, também foi maior neste trimestre do que no ano passado, mesmo com a crise.
O consultor Ricardo de Carvalho acredita que as negociações da China com o Brasil sinalizam uma tendência. Ele também aposta na abertura do mercado chinês para outros produtos agrícolas, como as carnes.
– Eu vejo como um processo inexorável, é uma questão de tempo. A pergunta no ar é quanto tempo? Mas se a gente pensar em termos de oportunidades, são tremendas porque o mercado hoje é zero. Então você tem aí uma tremenda oportunidade para ser desenvolvida.
Nos BRICs, depois da China vem a Rússia como parceira do Brasil. E neste caso, o Brasil tem superávit. No ano passado, a receita da balança comercial entre os dois países foi de US$ 8 bilhões, com superávit de US$ 1,3 bilhão para o Brasil. Os produtos do agronegócio brasileiro têm papel de destaque nas exportações para o país do leste europeu. A carne bovina é a número um da lista. Mas a situação já não é tão favorável para a carne de frango.
No encontro, o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef), Christian Lohbauer, aproveitou para criticar a diminuição das cotas e aumento da tarifa para os embarques brasileiros. Fora isso, ele não acredita no BRICs como bloco econômico por causa das diferenças entre os países e a competição em diversos setores.
– Porque as agendas desses quatro países são muito diferentes em todas as esferas. Se você leva a discussão para o ambiente comercial na OMC, você já tem um país que não faz parte que é a Rússia. A gente viu na Rodada Doha como foi difícil manter Índia, China e Brasil no mesmo discurso. No fim, na última negociação, o Brasil teve que se deslocar da Índia e da China.
Para o presidente da Câmara Brasil-Rússia, Gilberto Ramos, apesar da balança comercial entre os dois países sofrer uma possível queda de pelo menos 15%, em 2009, as oportunidades continuam.
– Na verdade é uma relação de compra e compra. Todos os setores podem sair ganhando. A Rússia quase não compete com o Brasil naquilo que diz respeito ao que é produzido.
A Índia é a parceira mais fraca do Brasil no grupo. Cerca de US$ 4,7 bilhões foi a receita da balança comercial entre os dois países.
– A Índia é uma grande produtora de alimentos e vegetais, mas não faz um bom processamento. Nós precisamos de uma boa tecnologia, como o Brasil tem, com infraestrutura e tecnologia. Nós estamos tentando transferir esta tecnologia para a Índia – diz o diretor-presidente da Organização da Promoção de Negócios da Índia, Mário Marconini.
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