| 29/03/2009 09h10min
Uma pesquisa feita com plantadores de tomate indicou que 72,9% dos entrevistados têm consciência do risco a que estão expostos quando manipulam agrotóxicos, mas essa percepção não é suficiente para, segundo o estudo, “desencadear o processo de mudança de atitude”.
O trabalho, feito em seis municípios de Goiás, foi publicado na revista Ciência e Agrotecnologia e identificou também que muitos trabalhadores começaram na lavoura ainda na infância – com cerca de 10 anos de idade – e a grande maioria tem apenas o ensino fundamental incompleto.
De acordo com Sueli Martins de Freitas Alves, professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e uma das autoras do artigo, o estudo identificou em várias lavouras problemas no manuseio dos agrotóxicos. Os problemas, segundo ela, se iniciam no local em que são colocados os produtos que estão em uso, que é o mesmo onde estão os alimentos dos trabalhadores.
– Verificamos também que durante o preparo da calda de aplicação, em algumas lavouras os trabalhadores responsáveis pela tarefa não usavam os equipamentos de proteção individual indicados para o manuseio. Eles também não levavam em conta o horário de aplicação nem a direção do vento, além de não usar os equipamentos de proteção individual e observar o intervalo de reentrada na lavoura – disse.
A pesquisadora aponta que os problemas identificados são consequências não só do uso inadequado dos agrotóxicos, mas decorrentes de diversos outros fatores que interferem diretamente nas condições e no ambiente de trabalho.
– Ressaltamos, contudo, que esses problemas podem ocorrer em maior ou menor intensidade, dependendo da assistência técnica e do preparo que os trabalhadores têm para manusear esses produtos – destaca Sueli.
Segundo o estudo, diversos determinantes socioeconômicos estão relacionados com a amplificação ou a redução do impacto da contaminação humana por agrotóxicos, com destaque para o nível educacional, habilidade de leitura e escrita e renda familiar.
Os dados da pesquisa foram colhidos a partir das visitas de campo realizadas de dezembro de 2004 a outubro de 2005, em seis municípios de Goiás, Estado que, em 2005, foi o maior produtor de tomate do Brasil. Foram entrevistados 96 trabalhadores.
Pouca proteção
De acordo com a pesquisa, os problemas no uso de agrotóxicos são decorrentes do modelo de produção agrícola adotado e da estratégia de introdução e difusão dessa tecnologia.
– Esperar que, em curto prazo, os tomaticultores utilizem tecnologias alternativas não é uma previsão realista, pois essas tecnologias necessitam ainda de maior apoio técnico para poder alcançar os níveis desejados de produção agrícola e viabilidade comercial – afirmou Sueli.
O estudo avaliou diversas etapas do processo de manuseio dos agrotóxicos, como a preparação da calda, horário e intervalo de aplicação de agrotóxicos, equipamentos para aplicação e equipamentos de proteção individual e a percepção de riscos.
Cerca de um terço dos entrevistados afirmou não ter horário definido para as pulverizações. Outro ponto importante foi perceber que a velocidade do vento e o horário de aplicação dos agrotóxicos são fatores para os quais os trabalhadores não têm muita preocupação, com exceção de quando está ventando muito.
– Observar a direção e a velocidade do vento é importante para evitar que o vento traga a névoa tanto para o rosto e o corpo do trabalhador como para as barracas que são utilizadas para descanso e alimentação – explicou a pesquisadora.
Quanto aos equipamentos de proteção individual, o estudo identificou que em apenas 30% das lavouras foram encontrados equipamentos de proteção individual fornecidos pelos proprietários das lavouras.
Em relação à percepção de risco, os trabalhadores foram divididos em duas categorias, os que percebem o risco, porém continuam usando os agrotóxicos, e aqueles que não percebem o risco ou não acreditam nele.
Na primeira categoria ficaram 72,9% dos entrevistados. Desses, 51,4% não usavam equipamentos de proteção individual, 25,7% usavam e 22,9% usavam outro tipo de proteção. Na segunda categoria, apenas 7,7% usavam equipamentos adequados.
Outro dado que chamou a atenção dos pesquisadores foi que 58,4% dos entrevistados trabalhavam com agrotóxicos há mais de 15 anos.
AGÊNCIA FAPESP