| 23/02/2009 02h59min
Depois de mais de 38 anos de união conjugal, o casamento político da governadora Yeda Crusius e do economista e professor Carlos Augusto Crusius dá sinais de que chegou ao fim. No dia 22 de janeiro, os dois tiveram um confronto público numa reunião do primeiro escalão na qual foi discutida uma nova marca para o governo. Seguiu-se a dissolução do Conselho de Comunicação do governo, presidido por Crusius, e seu afastamento da administração.
O casal já morava em casas separadas – ela na residência da Vila Jardim, ele no apartamento de Petrópolis que compartilhavam até pouco depois da eleição –, mas nunca admitiram a separação.
De Canela, onde passa o Carnaval, Yeda mandou dizer pela assessoria que “isso é assunto da vida privada” e que trata apenas das questões de governo. Nas últimas semanas, multiplicaram-se os indícios de que a parceria se rompeu. Integrantes do governo e amigos passaram a admitir em público o fim do casamento. Ontem, a coluna Painel da Folha de S.Paulo
referiu-se à
separação.
Enquanto presidiu o Conselho de Comunicação, Crusius circulou livremente pelo Palácio Piratini. Era dos poucos que podiam entrar sem bater no gabinete da governadora. Os dois participavam juntos de compromissos sociais, como o casamento de Paula Araújo, da filha da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, em abril do ano passado. No dia 19 de dezembro, dançaram em frente à Praça da Matriz ao som da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa).
Identidade do governo foi estopim da ruptura pública
Depois do incidente na reunião de janeiro, em que Crusius contestou o trabalho do GAD Design – encomendado a sua revelia –, as relações do primeiro-casal mudaram para pior. Naquele dia, em encontro do primeiro escalão no Centro de Treinamento da Procergs, Crusius reagiu à proposta de uma nova marca para o governo, apresentada pelo diretor-presidente do GAD, Luciano Deos. O consultor propôs o adjetivo “diferente” como pilar da
nova marca do governo. Crusius pediu a palavra e,
de forma enérgica, disse que os ex-governadores Olívio Dutra (1999-2002) e Germano Rigotto (2003-2006) também podiam ser considerados diferentes.
A atitude surpreendeu secretários, que defenderam a proposta. Crusius reagiu, mas Yeda o interrompeu:
– Não, não e não. O que é isso? Não tem réplica nem tréplica. O assunto está encerrado. Se não há consenso, vamos discutir melhor fora daqui.
Em consequência, Yeda extinguiu o conselho, e Crusius perdeu o cargo. No dia 28 de janeiro, a governadora respondeu de forma contundente a uma pergunta sobre a relação política com o marido:
– Vocês querem a política de cama, mesa e banho? Qual é a que vocês querem? Eu não vou falar sobre isso.
Economista era considerado um dos ideólogos do governo
Na condição de presidente do Conselho de Comunicação, Crusius ficava no lugar reservado às autoridades e era anunciado pelo cerimonial junto com os
secretários. Nas últimas posses, tem participado discretamente, como qualquer
convidado. Às vezes, sai antes do fim da solenidade. Na última, a de Berfran Rosado na Secretaria do Meio Ambiente, no dia 17, sentou-se na área reservada aos jornalistas. Estava abalado com a morte do ex-assessor Marcelo Cavalcante. Horas depois, encaminhou a companheiros do PSDB uma carta na qual culpava a oposição pela morte de Cavalcante. No Piratini, a carta – embora de caráter pessoal – foi considerada um equívoco, à medida que politizava um episódio que o governo optara por tratar com discrição. A governadora teria ficado irritada com o conteúdo da mensagem.
Crusius teve papel fundamental na campanha de 2006, na montagem do governo e no primeiro ano da administração. Era considerado um dos ideólogos do governo.
Num dos últimos registros antes do rompimento, Yeda e Crusius dançam ao som da Ospa diante do Piratini
Foto:
Jefferson Bernardes, Palácio Piratini, Divulgação