| 18/02/2009 12h55min
Os efeitos da crise internacional, que causaram o "dezembro negro" em relação à taxa de crescimento do Brasil, devem ser interrompidos por ações governamentais já em curso, como a desoneração fiscal iniciada em 2006, e os recursos de crédito recentemente anunciados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A afirmação foi feita hoje pelo diretor Marcio Wohlers, da Diretoria de Estudos Setoriais (Diset) do Ipea, ao apresentar o 17º Comunicado da Presidência do Instituto "Crise Internacional: reações na América Latina e canais de transmissão no Brasil".
— Medidas monetárias tomadas isoladamente não levam ao arrefecimento da crise (...) Talvez o mais interessante seja, principalmente nos países mais periféricos, a elevação dos gastos sociais e das transferências de renda aos mais pobres — diz o estudo.
Segundo o estudo, a América Latina tem implementado políticas tradicionais, tanto na área monetária como na área fiscal, para
combater a crise. Confira abaixo o
detalhamento por país:
Argentina
· redução das exigibilidades em divisas estrangeiras em termos de contrapartidas para operações que induziram à utilização de reservas cambiais;
· recompra automática de títulos emitidos pelo Banco Central com vencimento em seis meses, desde novembro de 2008;
· triplicação dos créditos para os bancos locais;
· aumento de 30% na oferta de crédito para o setor privado;
· reestatização da previdência, elevando a garantia aos trabalhadores do país.
Uruguai
Adotou várias políticas de reação à crise, no entanto, o foco foi concentrado em ações monetárias, fiscais e setoriais. Por exemplo:
· recomprou de títulos de empresas ou bancos com opções de recebimento em morda local ou em dólares dos EUA;
· requisitou ajuda financeira ao
BID e ao Banco Mundial para prover fundos ao Estado;
· elevou o crédito, com ênfase em exportação, para pequenas e médias empresas.
Paraguai
Tem atuado fortemente na área monetária. Sua política combina:
· redução de compulsórios para depósitos em moedas nacionais ou estrangeiras (desde o início de outubro);
· diminuição da taxa referencial de juros em 1% em outubro e 0,5% em novembro;
· criação de uma linha de liquidez para instituições financeiras com garantias de recompra.
Chile
· operações de recompra de títulos públicos com período de 60 a 90 dias;
· flexibilização nos requerimentos relativos às reservas; e
· leilões públicos para prover liquidez em dólares para os bancos locais.
México
· corte da emissão da dívida pública de longo prazo e criação de uma linha de crédito com juros diferenciados para prover liquidez aos mercados;
· criação de linhas de financiamento de curto prazo para o sistema bancário;
· autorização temporária para que os bancos providenciem liquidez para os seus
próprios fundos de investimento;
· recompra de títulos de médio e longo prazo;
· estabelecimento de uma linha de financiamento para a troca de títulos de longo prazo por outros de curto prazo.
Brasil
O conjunto de medidas continua concentrado nas questões monetária e de crédito
· redução das exigências quanto a depósitos compulsórios;
· agilização das operações de redesconto; e
· autorização de compra do portfólio de pequenos e médios bancos para garantir crédito em moeda estrangeira.
· venda de dólares no mercado à vista;
· leilões de venda de moeda estrangeira com compromisso de recompra;
· criação de uma modalidade de empréstimos em moeda estrangeira, garantidos por títulos soberanos negociados no mercado internacional ou por operações de exportação, com o objetivo de financiar
as exportações; e
· redução do compulsório para bancos que adquirirem dólares com acordos de recompra.
· autorização
para o Banco do Brasil e para a Caixa Econômica Federal adquirir instituições financeiras em dificuldade;
· anuncio de criação de um banco de investimento pela Caixa Econômica Federal para comprar ações de empresas imobiliárias, assim como de outros setores; e
· capitalização do BNDES para elevar o crédito para as empresas.