| 16/02/2009 16h08min
O sucesso dos filmes que falam do campo, como 2 Filhos de Francisco, que conta a vida dos cantores Zezé de Camargo e Luciano, impulsionam mais um lançamento: a regravação do longa metragem O Menino da Porteira chega aos cinemas em março, com o cantor Daniel no papel principal.
Boiadeiro há 35 anos, Ademir da Silva aprendeu as lidas do campo com o pai. Durante duas décadas levou o gado da fazenda Santa Maria, em Votorantim, para engordar na fazenda Pingo Dágua, em Araçoiaba da Serra, interior de São Paulo. Pela estrada de terra, Ademir puxava 180 cabeças de gado de uma só vez, e demorava um dia inteiro para percorrer 20 quilômetros.
– De vez em quando a gente caía do cavalo, perdia os bois na estrada, mas dá saudade – revela o boiadeiro.
Mas de puxar boi na estrada só restaram as lembranças. A cidade cresceu e alcançou a fazenda Santa Maria. As estradas de terra foram substituídas pelo asfalto e, há 15 anos, Ademir da Silva não pode mais levar o gado.
O trabalho do peão foi substituído pelos automóveis. São necessários nove caminhões para carregar a boiada que Ademir puxava de uma só vez. Para o dono da fazenda, Marcos Oréfice, a pecuária se modernizou, o transporte do gado ficou mais seguro, mas não tem mais o mesmo brilho do passado, quando a boiada ficava na mão do boiadeiro.
– É muito triste para todos nós, que estamos ligados desde criança. Ficou mais seguro, ficou mais ágil (hoje em dia os frigoríficos estão espalhados pelo Brasil inteiro, então se pode comprar o gado mais longe. O gado perdia peso quando ia por terra pra chegar no frigorífico, tinha que descansar pra ser abatido. Mas é questão de modernidade porque o romantismo, como eu digo, acabou.
Na cidade, a vida do homem do campo costuma fazer sucesso. Em 1976, o filme brasileiro O Menino Da Porteira, com o cantor Sérgio Reis, levou cinco milhões de pessoas aos cinemas. Mais de 30 anos depois, o clássico volta às telonas com o cantor Daniel no papel
do boiadeiro Diogo.
– É um boiadeiro que ele tem realmente uma carga muito grande, o passado dele é muito triste, passou por várias turbulências. Por esse motivo tem aquela coisa de ele ser um pouco fechado, compenetrado, falar pouco. No laboratório, convivi com alguns boiadeiros, com o pessoal tocando gado, fiquei em cima de cavalo grande parte do ano passado – conta Daniel.
Natural de Brotas, em São Paulo, Daniel tem uma ligação muito forte com gado e cavalos. A origem caipira foi decisiva para que o cantor aceitasse viver, no cinema, um boiadeiro. Na cidade natal de Daniel foi gravada grande parte das cenas de o menino da porteira. O cavalo que ele usou no filme foi adquirido especialmente para o papel, e se tornou um grande companheiro do cantor:
– Me identifiquei com o cavalo de uma certa forma e ele comigo, tanto que hoje eu chego na fazenda e chamo ele, e onde ele estiver, ele vem. E o cavalo sofreu como eu sofri, teve queda de resistência talvez pela mudança de
local. Pegou micuim, pelou a
cara dele inteira, ele emagreceu muito... engraçado, eu olho pro cavalo e me vejo. Mas hoje o cavalo está bonito, com pelo fino, liso... mas eu, não tem jeito mais!
O boiadeiro da vida real Ademir da Silva assistiu à primeira versão de O Menino da Porteira. Gostou do que viu, e espera encontrar na regravação do filme a parte mais emocionante do trabalho de um peão:
– O estouro da boiada é o mais bonito.
O menino da porteira estréia no dia 6 de março nos cinemas.