| 14/02/2009 16h20min
No mercado ainda em formação de energias alternativas ao petróleo, os países latino-americanos são vistos como potenciais fornecedores de etanol e outros biocombustíveis, enquanto as economias asiáticas, devido ao grande crescimento econômico e à carência de recursos energéticos para mantê-lo, seriam os principais consumidores.
É o que destaca um estudo publicado na Revista Brasileira de Política Internacional, de autoria de pesquisadores do Departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB), que apresenta as perspectivas latino-americanas e asiáticas em combustíveis renováveis.
A partir de uma revisão da literatura especializada e de dados primários fornecidos por órgãos multilaterais, nacionais e privados, o estudo descreve como a indústria vem se estruturando e como os países deverão se inserir de forma competitiva no novo mercado. O trabalho aponta que, por motivos ambientais e tecnológicos, o Brasil é tido, na maioria dos estudos analisados, como o país que lidera o setor de bioenergia no mundo.
– Mesmo reconhecendo a importância da cooperação brasileira com os Estados Unidos, atualmente o maior produtor de etanol do mundo, há um grande potencial de cooperação e comércio entre os países latino-americanos com os do leste e sudeste asiático – disse Gilmar Masiero, professor da UnB e um dos autores do estudo.
Em março de 2007, quando o então presidente dos Estados Unidos George Bush visitou o Brasil, foi assinado um memorando de cooperação na área entre os dois países, que são responsáveis por 70% da produção mundial de biocombustíveis.
Os Estados Unidos, segundo o estudo, produzem etanol a partir do milho de forma menos eficaz do que a cana-de-açúcar brasileira e a produção, além de ser fortemente subsidiada, é protegida com elevadas taxas restritivas à importação do etanol brasileiro.
– Esse acordo expressa a intenção dos dois países de cooperar no desenvolvimento e na difusão dos biocombustíveis em uma estratégia de três níveis: bilateral, com terceiros países e global. Atualmente, outro importante produtor e consumidor de biocombustíveis na forma de biodiesel produzido a partir de produtos agrícolas é a União Européia, sendo Alemanha e França os maiores produtores mundiais desse recurso energético – destacou Masiero.
A cooperação dos dois maiores produtores de etanol (Estados Unidos e Brasil) somada aos interesses de grandes produtores e, ao mesmo tempo, dos grandes consumidores de biocombustíveis, deverá impulsionar ainda mais o desenvolvimento de um mercado global dessa fonte renovável de energia.
De acordo com o estudo, além da liderança brasileira na produção e comercialização dos biocombustíveis, outros países latino-americanos começam a desenvolver essa importante fonte de energia renovável. Na Colômbia, por exemplo, a necessidade de diversificação do consumo de energia e da produção agrária, junto com a possibilidade de criação de novos empregos no campo com a substituição das plantações de coca, tem impulsionado o país a investir no setor.
As expectativas de expansão da produção bioenergética também são grandes na Argentina, que por ser muito dependente de combustíveis fósseis também procura diversificar sua matriz energética: tanto o setor privado como o público têm investido em pesquisas para obtenção de tecnologias, em incentivos na produção agrícola e no uso de combustíveis mistos.
A total dependência externa do Paraguai por petróleo e sua economia predominantemente agrária, aponta o artigo, também fazem desse país um forte candidato a desenvolver uma forte indústria de biocombustíveis.
– Hoje, a mistura de 24% de etanol na gasolina é obrigatória e 15 novos projetos vêm sendo desenvolvidos pelo governo do país, alguns relacionados à utilização de sebo animal para a produção de biodiesel – aponta o artigo escrito por Masiero e Heloisa Lopes, graduanda em administração pela UnB.
O estudo da UnB ressalta ainda a importância dos países asiáticos no desenvolvimento da emergente indústria dos biocombustíveis. Do ponto de vista da produção e do consumo, a China e a Índia seriam os principais atores no mercado de biocombustíveis, sendo, respectivamente, o 3º e 4º maiores produtores mundiais de etanol e o 5º e 6º maiores produtores de biodiesel.
A indústria automobilística chinesa, uma das que mais crescem no mundo, também deverá impulsionar a expansão de iniciativas voltadas à produção e ao consumo de biocombustíveis.
– O mesmo processo está ocorrendo com a Índia, onde a rápida expansão de sua indústria automobilística pressiona o país para reduzir seus 70% de dependência enérgica do exterior, além de que a vasta extensão territorial do país e sua larga tradição agrícola possibilitam imaginar que suas ainda incipientes iniciativas na área do biodiesel e etanol se expandam rapidamente – disse Masiero.