| 06/02/2009 19h31min
A proximidade da safra de cana-de-açúcar faz analistas reverem as previsões para o setor sucroalcooleiro. Apesar da recessão econômica mundial, as perspectivas são boas para 2009. Porém, não dependem só do mercado.
A fragilidade financeira do setor vai além da crise mundial, diz o consultor econômico Julio Borges. Ele lembra que desde 2007 a situação já não era boa, pois os preços estavam baixos. Em 2008 o cenário começava a melhorar, e se agravou com a crise. Mas o especialista afirma que não se pode atribuir o desempenho de agora exclusivamente a isso.
– O setor já começou o ano de 2008 com debilidade financeira caracterizada. A crise global veio criar restrição de crédito, o que aprofundou esse quadro – explica.
No campo, os reflexos logo apareceram. Em Goiânia, das sete usinas com dificuldades financeiras, uma das mais antigas teve que parar a produção. A movimentação nos últimos dias é de fornecedores e arrendantes tentando
negociar a dívida, que ainda não teve o
valor divulgado. O último pagamento feito pela Centroalcool foi em outubro do ano passado. Agora os produtores criaram uma comissão para negociar.
– O mais importante é que todos têm que fornecer o produto para a sustentação da usina. Isso faz com que ela tenha que realizar estes contratos a contento dos produtores – pondera o consultor jurídico da Federação de Agricultura de Goiás (Faeg), Augusto César de Andrade.
Para o etanol, a previsão é de equilíbrio por causa da demanda do mercado interno. O efeito certo da crise é uma mudança na postura das empresas, com maior controle dos custos. E no mercado foi confirmada uma tendência também em outros setores: a fusão de grandes grupos.
– Essa fragilidade financeira da usina, isolada ou mesmo do grupo perante o interesse e o poder de compra das grandes companhias, faz com que haja uma atração forte para estes grandes grupos entrarem ou aumentarem sua participação na produção de açúcar
e álcool no país – analisa Borges.
Conhecedor do mercado e produtor, o presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp, Roberto Rodrigues, concorda que a fragilidade financeira vai mesmo além da crise. Ele diz que o que falta é uma visão estratégia para o setor: planejar melhor, definir investimentos e estabelecer mercados. A segurança do setor sucroalcooleiro, diz o ex-ministro da Agricultura, não depende só de quem produz cana ou de quem a beneficia para o mercado.
– Essa visão estratégica não é apenas um problema do setor. A crise precisa também ser tratada pelo governo com um pouco mais de carinho em relação à cadeia sucroalcooleira. É preciso que haja uma irrigação de recursos para financiar estocagem, mais capital de giro, mesmo até com um pouco mais de prazo, e alguma carência para as usinas poderem sair do buraco e pagarem o fornecedor de cana – diz ele.