| 24/01/2009 18h20min
O governo do Paraná pretende retomar políticas públicas para trabalhar a técnica do plantio direto na palha com mais qualidade. A visão que se tem na Secretaria da Agricultura e do Abastecimento é que o sistema se expandiu em todo o Estado, do pequeno ao grande produtor, mas falta disciplina no campo para executar de forma correta o conjunto de técnicas recomendadas.
Para construção dessa política pública, o secretário da Agricultura e do Abastecimento em exercício, Herlon de Almeida, reuniu-se com representantes da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha, da Itaipu Binacional, da Embrapa/Soja em Londrina, Instituto Agronômico do Paraná, Instituto Emater de Extensão Rural e do Departamento de Desenvolvimento Agropecuário.
O objetivo é estimular o agricultor paranaense a retomar as práticas adequadas que foram abandonadas ao longo dos anos. Segundo Almeida, o Paraná já foi referência em plantio direto na palha e hoje pretende retomar essa condição através do lançamento do programa Gestão Integrada em Microbacias, que será lançado pela Secretaria da Agricultura e do Abastecimento.
Foi formado um grupo que vai traçar o diagnóstico do plantio direto na palha no Paraná, identificando problemas para sugerir as políticas públicas necessárias. Segundo Almeida, o próximo passo é envolver os agricultores através das instituições representadas por eles como federações de agricultores, de trabalhadores rurais na agricultura e de cooperativas, para o programa ganhar dimensão em todo o Estado.
O sistema de plantio direto na palha, que se difundiu para todo o Brasil e para o exterior, começou no Paraná em 1972, numa pequena área em Rolândia, do agricultor Herbert Arnold Bartz. O sistema ganhou notoriedade a partir de 1976, quando o agricultor Manoel Henrique Pereira, conhecido como Nono, começou a difundir essa prática em sua fazenda na região de Ponta Grossa. Hoje ele recebe visitas diárias de missões estrangeiras que querem conhecer de perto o conjunto de práticas do plantio direto na palha.
A Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha, entidade presidida por Nonô, foi convidada a levar as técnicas recomendadas para os países da África. No Paraná, essa prática está presente em 4,7 milhões de hectares somente com as culturas de verão soja, milho e feijão. Isso corresponde a 83% da área cultivada na primeira safra de verão. Só a soja, cerca de 90% da área cultivada é plantada com a técnica do plantio direto na palha, informou o Departamento de Economia Rural (Deral).
Segundo a Emater, em 35 anos desde o início do plantio direto no Paraná, a prática se intensificou entre 1984 e 1994 quando a área ocupada com as técnicas recomendadas aumentou 3,5 vezes.
– Atualmente falta disciplina na condução do processo do plantio direto – disse Nonô.
Segundo ele, o agricultor precisa voltar a fazer corretamente o conjunto de práticas recomendadas, como a rotação adequada de culturas, terraceamento, murundus, não plantar em morro abaixo e outras técnicas.
Para o coordenador de Meio Ambiente da Itaipu Binacional, Nelton Friedrich, a empresa vê com grande preocupação o abandono dessas técnicas pelos agricultores, pois isso está comprometendo a qualidade da água do reservatório em Foz do Iguaçu. Segundo Friedrich, atualmente o rio Paraná, que forma o reservatório de Itaipu, recebe mais de 6 milhões de toneladas de sedimentos por ano em adubos, fertilizantes, agrotóxicos, resíduos industriais e dejetos humanos, de animais e de indústrias.
Friedrich atribui esse acúmulo de sedimentos à contribuição dos rios Ivai e Piqueri, no Paraná, e Iviema, no Mato Grosso do Sul.
– Esse excesso de sedimentos não prejudica a geração de energia por Itaipu, mas compromete a qualidade da água do reservatório, que é utilizada para o abastecimento de Foz do Iguaçu e outras cidades do Oeste – disse.
Ele explicou que quanto mais sedimentos vão para o reservatório, maior a disseminação de algas e plantas aquáticas, que denunciam o excesso de solo agricultável levado pelas chuvas e de dejetos despejados pelos rios.
– Por isso, a Itaipu vai participar ativamente da construção dessa política pública – afirmou.
Para o pesquisador da Embrapa/Soja, de Londrina, Julio Franchini, se houvesse a prática de plantio direto com qualidade no Paraná, as perdas provocadas pela estiagem, que hoje estão estimadas em torno de 30% das culturas de verão, poderiam ser reduzidas à metade. A cobertura do solo com a palha, recomendada pelo sistema de plantio direto, retém a água no solo e as plantas resistem mais à falta de chuvas.
– Em casos que a produtividade da soja caiu para 1.500 quilos por hectare em função da estiagem, ela poderia seguramente estar entre 2.000 a 2.200 quilos por hectare, se a técnica do plantio direto tivesse mais qualidade – afirmou o pesquisador.