| 16/01/2009 19h06min
Na próxima segunda, dia 19, o Ministério do Trabalho vai divulgar o levantamento do desemprego em dezembro de 2008. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já adiantou que os números devem ficar acima da média histórica. A indústria de transformação e a agropecuária foram os setores que mais demitiram. Os dados são preocupantes já que, segundo o ministro Reinhold Stephanes, quase quatro mil municípios – dos 5,6 mil brasileiros – dependem diretamente do sucesso da agricultura.
Para muitas culturas agrícolas, fim de ano é período de entressafra e costuma ocorrer redução do emprego no setor. Mas desta vez está difícil considerar comum o que aconteceu em 2008. A estimativa do governo é que 600 mil postos de trabalho foram fechados no último mês – o dobro da média histórica do período.
Outro levantamento parcial mostra que 513 mil trabalhadores pediram seguro desemprego em dezembro, quase 5% a mais do que no final de 2007. A tendência já começou em novembro, quando na agropecuária, 50,5 mil trabalhadores foram dispensados.
O desaquecimento no emprego tem uma explicação principal: a falta de crédito causada pela crise financeira. Com recursos escassos, países importaram menos e, consequentemente, o Brasil reduziu as exportações. Além disso, as agroindústrias precisaram se adequar ao novo cenário. Faltou dinheiro para investir, plantar, colher, moer, abater e contratar.
– O agronegócio está sentindo muito a falta de crédito. Os frigoríficos, o pessoal que cria aves, boi e suínos, a agroindústria e a parte de esmagamento de óleos estão se ressentindo – diz o presidente do departamento de Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Benedito da Silva.
De acordo com o Sindicato da Indústria de Alimentos de Campo Grande (MS), frigoríficos deram férias coletivas a pelo menos seis mil empregados. Para o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), o movimento é normal.
– Alguns frigoríficos reduziram escala de abate, deram férias coletivas. Tem havido até pontualmente alguma demissão, mas nada significativo. Está perfeitamente dentro do que é normal no setor no período da entressafra, que é de baixa atividade – afirma Roberto Gianetti da Fonseca.
Nas indústrias de trigo a situação também se agravou no fim de 2008. Faltou crédito para importar matéria-prima. O principal moinho do país precisou dar férias coletivas pela primeira vez em 42 anos.
– Isso é um fator muito complicador para o setor de alimentos porque não se imagina que vá haver queda de demanda, mas infelizmente houve e demos 20 dias de férias coletivas. Acredito que alguns outros moinhos também o fizeram – contou o presidente do Moinho Pacífico, Lawrence Pih.
Na cadeia produtiva do leite, o desemprego não está na indústria, mas sim no campo.
– Quem está sendo prejudicado são os fornecedores de matéria-prima, ou seja, o produtor de leite, que não está recebendo. Em algumas regiões de São Paulo e Goiás chega a haver dois meses de atraso. Isso causa um problema muito sério principalmente porque os produtores acabam abatendo vacas e desempregando, e o funcionário rural não tem habilitação para trabalhar na cidade – explica o presidente da Leite Brasil, Jorge Rubez.
O impacto foi ainda pior no setor sucroalcooleiro, que já estava em crise em função dos baixos preços do açúcar e álcool.
– Faltou dinheiro para todo mundo. Alguns grupos pararam de pagar fornecedores, outros já pediram concordata e o mercado está muito tumultuado. É difícil sair vivo no meio desse tiroteio, e é o produtor quem está tomando mais tiro do que todo mundo. Aqui na região já tivemos que entregar quase dois mil hectares para usina porque não conseguimos saldar os prejuízos – conta o presidente da Associação dos Fornecedores de Cana da Região de Campo Florido (MG), Silvio de Castro Junior.
CANAL RURAL