| 03/01/2009 08h10min
O pirarucu, um dos símbolos da bacia amazônica e o maior peixe escamado de água doce do mundo, é também a maior fonte de renda de grande parte das famílias ribeirinhas da Região Norte do país. No entanto, a pesca extrativista vem reduzindo fortemente os estoques naturais desse peixe. Para encontrar soluções sustentáveis que diminuam o impacto ambiental e gerem mais renda para a comunidade, foi criado em 2007 um projeto cujo foco é descobrir melhores práticas de criação do pirarucu em cativeiro.
Trata-se do Projeto Integrado de Desenvolvimento do Pirarucu da Amazônia, realizado em seis estados do Norte do país (Acre, Amazonas, Amapá, Rondônia, Roraima e Tocantins). Sua proposta é buscar respostas como a melhor forma de engorda do peixe, o aumento de reprodução em cativeiro, formas de manejo, e até mesmo verificar como seria sua comercialização. O projeto de conhecimento e tecnologia vai desenvolver metodologias e manuais para facilitar o cultivo do peixe por produtores interessados.
Em cada Estado foram montadas três unidades de criação do peixe, que servem para a observação dos pesquisadores. Em Rondônia, por exemplo, nas unidades que ficam em Pimenta Bueno, a 500 quilômetros da capital, Porto Velho, os resultados já começaram a aparecer. De três mil alevinos em cativeiro, a produção aumentou para 30 mil por safra, que vai de novembro a fevereiro.
O consultor do projeto, Martin Halverson, afirma que a parte mais complicada tem sido a reprodução dos peixes em cativeiro. Segundo ele, trata-se de uma espécie que forma casais para se reproduzir e, por isso, não dá para, em um primeiro momento, intervir aplicando hormônio para que o peixe desove, como é feito com muitas criações de outras espécies.
– Temos que respeitar a natureza do peixe e intervir para acelerar o processo. Estamos trabalhando como verdadeiros cupidos, formando os casais – conta.
No quesito relacionado à engorda dos peixes, os resultados são satisfatórios. Nesse experimento são testadas diferentes rações. De acordo com o zootecnista e consultor do projeto, Jacob Kehdi, o pirarucu se alimenta normalmente de tilápia ou lambari.
– Nesse processo, o peixe cresce, mas são formados poucos indivíduos grandes. Com a ração, os resultados são mais positivos – destaca.
Ele exemplifica comparando as duas alimentações.
– Numa represa de 10 mil metros podemos ter, em um ano, dez peixes de 20 quilos se o pirarucu se alimentar de lambari. Mas, nesse mesmo espaço, se a alimentação for de ração, podemos ter 600 peixes de 10 quilos – diz.
Da primeira unidade implantada naquele Estado foi feita uma despesca em novembro de 300 animais, para um festival gastronômico do pirarucu.
– O objetivo do evento é despertar e estimular o consumo e mostrar a variedade de pratos que podem ser criados com esse pescado regional – conta Roberta Figueiredo, coordenadora regional do projeto pelo Sebrae/RO.
Esse tipo de promoção do pirarucu também foi realizada em Roraima. Lá houve um curso de beneficiamento do pescado.
– Trabalhamos os diferentes tipos de corte, como costela, filé e medalhão. Também repassamos aos empresários como fazer subprodutos do peixe, como salsicha, empanados e pirarucu defumado – explica a técnica responsável pelo projeto nesse Estado, Itamira Soares.
Em Roraima também foi realizada uma oficina gastronômica com 42 pessoas, entre donos de restaurantes, hotéis e encarregados de cozinha.
– As pessoas só conheciam o pirarucu do extrativismo e por isso encontramos essa forma de divulgar o peixe criado em cativeiro, alimentado com ração e ecologicamente correto – diz Itamira.
Na oficina foram feitos carpaccio, medalhão, canelloni e lasanha de pirarucu.
– Foi uma forma de mostrar que é possível criar pratos simples com um peixe exótico – completa.
A carne do pirarucu pode trazer bastante renda para o agronegócio da Região Amazônica, especialmente se a criação do peixe se dá com baixo custo e alta produtividade. O filé do peixe é vendido a R$ 25, o quilo. Bem lucrativo, perto do filé de tambaqui, outro peixe da região, que alcança R$ 6, o quilo. Pelo projeto, também é realizado um estudo de mercado. A idéia é ceder a carne do pirarucu para que chefes renomados tenham contato com o peixe criado em cativeiro e possam testá-la em diferentes pratos. O mesmo processo é feito com supermercados, para que avaliem se terão público para o peixe, se comprariam e que valor pagariam pelo produto. Esse trabalho ocorre em seis capitais do país: Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belém e Curitiba.
O pirarucu destaca-se na culinária por ter carne saborosa e desprovida de espinhas. É uma espécie valorizada no mercado nacional e em países como Japão. O aproveitamento do peixe é grande. O rendimento médio de carne é de 57% do animal. Além disso, o rendimento de couro é de 10% do animal e pode ser empregado na produção de bolsas, sapatos e cintos.
Os estudos realizados nesse projeto serão concluídos em 2010.
– A partir daí possibilitaremos que muitos piscicultores tenham informações sobre as melhores formas de criação do pirarucu em cativeiro, como manejo, alimentação, reprodução e abate.
Teremos também dados sobre lucratividade e comercialização – destaca Roberta.
O coordenador nacional de projetos de Aqüicultura e Pesca do Sebrae Nacional, José Altamiro da Silva, ressalta que o projeto leva em consideração que a piscicultura se identifica com a cultura da população dos estados envolvidos.
– Por isso, é uma forma de introduzir essa atividade econômica nas comunidades ribeirinhas e do interior que dependem da pesca artesanal, que é sazonal e está cada vez mais decadente. Com os resultados das observações realizadas ao longo do desenvolvimento do projeto, será possível implantar uma atividade sustentável – completa.
Para Altamiro, o desenvolvimento e ampliação de um sistema intensivo de produção de peixes, principalmente o pirarucu em cativeiro, podem mudar radicalmente a economia dos seis Estados envolvidos.
– Isso potencializa os resultados futuros do projeto, se atentarmos para o fato de que, com o domínio da tecnologia da reprodução do pirarucu em cativeiro, bem como com o aperfeiçoamento de ração específica para sua engorda, irá favorecer sobremaneira qualquer produtor que queira cultivar a espécie, uma vez que, além da tecnologia aprimorada, os custos com a aquisição de alevinos e ração deverão ser reduzidos – destaca.
SEBRAE