| 09/12/2008 21h50min
As alterações do Código Florestal brasileiro que estão sendo discutidas pelo governo federal ganharam repercussão também na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, em Poznan (Polônia). Ambientalistas dizem que as propostas precisam acompanhar a mensagem dos cientistas reunidos no encontro, que é de preservar florestas e reduzir emissões de carbono.
O frio não impediu discussões acaloradas, em especial sobre um mecanismo para garantir dinheiro a quem preserva e recupera as florestas. Ambientalistas brasileiros aproveitaram para criticar as propostas do Ministério da Agricultura, que quer flexibilizar o Código Florestal no país. Na semana passada as ONGs se retiraram das negociações, em sinal de protesto. No entanto, elas prometem continuar fazendo pressão no Executivo e no Legislativo. Querem conseguir até apoio dos ruralistas para normas mais rígidas.
– Nós reconhecemos que a legislação hoje não reflete muitas vezes certas necessidades e a realidade do campo. Entretanto, não dá pra gente esquecer que está o mundo inteiro na Polônia discutindo os efeitos das mudanças climáticas, que o Brasil e os próprios agricultores já vêm sentindo. Não dá pra desconsiderar o papel que uma legislação florestal consistente tem a cumprir neste caso – alerta Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental.
– Você tem todo um setor de agropecuária, com muito boas empresas, muito interessantes e outras nem tanto. Infelizmente, quem está ganhando este debate hoje é este setor mais retrógrado, que não está acompanhando a evolução da atividade agropecuária nem a evolução da sociedade global como um todo, que exige que o país tome uma posição – opina Alexandre Prado, da ONG Conservação Nacional.
No Brasil, a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) concorda que é preciso estar atento às mudanças climáticas, mas ressalta que uma reformulação do Código Florestal precisa manter a competitividade dos produtores.
– Temos uma grande quantidade de área degradada que pode melhorar e não precisamos desmatar para ter mais produtividade. Precisamos é de regras. É preciso separar o que é produtor, grileiro, desmatador e madeireiro. Hoje se fala em desmatamento e o que vem à mente da sociedade é o produtor rural – diz o técnico da Comissão do Meio Ambiente da CNA, Nelson Ananias Filho.
De acordo com ele, a entidade está aberta ao diálogo e quer uma alternativa para a coletividade, mas defende que as alterações na norma ambiental respeitem a realidade brasileira.
– Grande parte do PIB brasileiro está concentrado no agronegócio. Não se pode cortar com um fundo ambientalista a atividade que mais gera divisas para o país.
Em nota, o Ministério da Agricultura disse que não apóia a anistia a desmatadores. A pasta afirma que defende desmatamento zero e ressalta ainda que as alterações no Código Florestal estão apenas em debate e nenhuma decisão foi tomada.
CANAL RURAL