| 30/11/2008 08h10min
Tecnologias e processos produtivos do etanol de segunda geração estão sendo estudados, mas isso não implica que devam substituir as de primeira geração, especialmente em países com muita disponibilidade de terras para o cultivo da cana-de-açúcar.
– Ainda temos muito a melhorar com relação à primeira geração de biocombustíveis no Brasil. Sabemos que as tecnologias de segunda geração são mais complexas e difíceis que as da primeira e, se hoje podemos produzir biocombustíveis usando tecnologias mais simples, por que deveríamos seguir o caminho mais complicado? – questionou o diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, na Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, na semana passada, em São Paulo.
O etanol de segunda geração, pesquisado em diferentes países, deverá ser produzido, no caso brasileiro, a partir da celulose presente no bagaço e na palha da cana-de-açúcar (tecnologia de lignocelulose), por meio da utilização de ácidos (hidrólise
ácida) ou enzimas (hidrólise
enzimática).
Brito Cruz, que participou do evento na sessão especial “O papel da pesquisa científica na área de biocombustíveis”, organizada pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), falou sobre a importância da biologia molecular na atual corrida pelo ganho de produtividade da cultura da cana-de-açúcar.
– Apesar de o Brasil ser líder mundial em biocombustíveis, até o momento as usinas do país pouco aplicaram o conhecimento atual em genômica para desenvolver melhorias genéticas na cana. E temos muitas oportunidades para ganhar produtividade utilizando as novas descobertas que provêm da biologia molecular – afirmou.
Ao mesmo tempo, as tecnologias da segunda geração dos biocombustíveis, quando estiverem estabelecidas, deverão permitir o aumento do número de países que serão produtores de sua própria energia. Mas, segundo Brito Cruz, elas não vão substituir a primeira geração.
– As duas gerações deverão trabalhar em paralelo –
indicou.
O diretor científico da Fapesp
apresentou à platéia do evento, que recebeu delegações de pesquisadores e representantes governamentais de 92 países, alguns programas da Fundação que apóiam projetos de pesquisa na área, como o Projeto Sucest, criado em 1999 e também conhecido como Projeto Genoma da Cana, que estabeleceu condições para o conhecimento de variações de expressão gênica em diferentes variedades de cana-de-açúcar.
O banco de dados do projeto, que envolveu mais de 200 pesquisadores de cerca de 40 instituições de ensino e pesquisa, reúne informações sobre o seqüenciamento de aproximadamente 240 mil fragmentos de genes (ESTs) da cana - ou etiquetas de seqüência expressa.
Brito Cruz também destacou o Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), que tem entre seus temas de pesquisa o aprofundamento dos aspectos funcionais da genômica de cana-de-açúcar.
– Esses projetos estudam, por exemplo, alguns genes relativos ao conteúdo de sacarose na cana, o que pode tornar a
produção nas usinas mais eficiente –
disse.
Segundo ele, os estudos apoiados pela Fapesp analisam também, por exemplo, como obter cana-de-açúcar mais resistente a secas, uma vez que a expansão do cultivo no Brasil também deverá ocorrer em áreas de pastagens com pouca disponibilidade de água.
– Muitos genes de interesse já foram mapeados e, em conjunto com a indústria, os pesquisadores acadêmicos deverão utilizar esse conhecimento para trazer melhorias genéticas à planta – afirmou Brito Cruz.
Potencial do etanol
Tendo como base resultados de estudos recentes que utilizaram dados da produção de etanol de milho em Iowa e Nebraska, nos Estados Unidos, Richard Murphy, especialista em bioenergia do Imperial College London que também participou do debate, ressaltou, entre outras importantes questões sobre o futuro dos biocombustíveis, o enorme potencial ambiental do etanol.
– Trabalhos recentes mostram que o etanol permite uma redução de cerca de
50% nas emissões de gases que promovem o efeito estufa, em
comparação aos gases emitidos com a utilização de combustíveis fósseis – disse ele.
– Essa é uma grande mudança em relação às informações que a comunidade científica tinha há um ou dois anos, quando imaginávamos que essa redução girava em torno de 15% a 20% – afirmou Murphy, que integra o grupo de trabalho do Plano de Pesquisa sobre Bioenergia do Reino Unido.