| 24/09/2008 11h56min
Ao contrário do que tem ocorrido com outros produtos agrícolas, o mercado de carne tem sido pouco afetado pela crise financeira internacional. De acordo com analistas do setor, nem mesmo a valorização do dólar tem influenciado as cotações.
De acordo com a Scot Consultoria, enquanto a arroba subiu 23,5% no primeiro semestre, a moeda americana caiu 8,7%. Já neste semestre, a situação é inversa. A cotação da moeda americana teve valorização de 11,4% até a metade de setembro enquanto a arroba do boi gordo caiu 2,8%.
Isso ocorre porque o mercado de carne ainda tem sido bastante influenciado pelos fundamentos econômicos (a relação entre oferta e demanda). Assim, é a expectativa de baixa oferta para o ano que vem que condiciona as cotações, que permanecem com tendência de alta.
Na avaliação da consultoria MBAgro, além de não haver expectativa de impacto imediato da crise no mercado de carne, uma valorização crescente do dólar poderia beneficiar as exportações. Mais um fator de alta nos preços. Em entrevista ao Agribusiness Online, nesta quarta, dia 24, o consultor de pecuária da MBAgro, César de Castro Alves, ressaltou que há dois lados.
– A taxa de câmbio mudou de patamar nesses últimos dias. Saímos de próximo de R$ 1,60 para bater R$ 1,80 e até R$ 1,90. Essa condição é melhor para as exportações porque, na conversão da receita, temos mais reais vendendo a mesma quantidade. Mas, por outro lado, esse efeito cambial pode diminuir a capacidade da indústria de conseguir um repasse de preços lá fora.
Alves explicou ainda que o impacto da alta do dólar não foi imediato porque a maior parte dos contratos é de longo prazo. A influência mais a curto prazo ocorreria apenas sobre “negócios pontuais” realizados nesses últimos dias.
– Normalmente os contratos são de longo prazo e precisaria que esse cenário se mantivesse para ocorrer o efeito sobre a economia real. Agora, na fazenda, para o produtor, essa turbulência deve passar bem a deriva, porque os preços no mercado interno vão continuar a ser formados pelo que é estrutural ao setor. Todo esse evento financeiro tem mais impacto na indústria e no crédito.
No caso da indústria, César de Castro Alves afirmou que o setor frigorífico no Brasil é mais dinâmico para lidar com situações como a atual crise financeira internacional. Os que estiverem mais fortes e capitalizados sofrem menos com a turbulência.
– Vão conseguir driblar via repasse de preços aqui dentro e lá fora. Os que estão em condição menor, pela própria estrutura do mercado, vão continuar sangrando.
Recuperação do rebanho
César de Castro Alves disse acreditar que o setor pecuário brasileiro passa, atualmente, por um processo de recuperação do rebanho. Mas ressaltou que, apesar do abate de matrizes ter diminuído, essa recomposição dos plantéis ainda é tímida.
– Como a diferença entre a arroba do boi e a do bezerro ainda é muito grande e o bezerro ainda está muito valorizado em relação ao boi, é difícil que haja uma dinâmica crescente, que leve os produtores a investir.
Segundo o analista de pecuária da MBAgro, há um tempo atrás, comprava-se mais de dois bezerros com um boi gordo. Atualmente, está na proporção de dois para um. Com isso, as dificuldades são maiores para quem não promove a chamada recria ou não confina o gado.
– Ele tem dificuldade em comprar o boi magro. Nesse ano, o bezerro continua subindo, agora caiu um pouquinho. O boi também caiu, mas a diferença ainda é grande. Ou o boi continua subindo ou o bezerro ajuda um pouquinho caindo pra gente ter um estímulo maior para recomposição do rebanho.
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