| 13/07/2008 09h44min
A franco-colombiana Ingrid Betancourt acha que dar detalhes em público sobre seu seqüestro a embruteceria, segundo uma entrevista publicada hoje pelo jornal britânico The Sunday Times.
Na entrevista, a ex-refém das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) conta a odisséia que viveu durante mais de seis anos na floresta colombiana.
Em suas declarações ao jornal britânico, Ingrid — lúcida e serena — se recusa a entrar em detalhes sobre o que aconteceu durante o seqüestro, pois acha que fazer isso em público a embruteceria.
A franco-colombiana disse que só denunciará os fatos "se servir para ensinar algo às pessoas", mas dá um pequeno exemplo para ilustrar o poder dos carcereiros.
— Estava amarrada a uma árvore, após minha quinta tentativa de escapar e, depois de um momento, pedi ao guarda que me deixasse ir ao banheiro. Ele me disse: se quiser fazer, faça aqui, na minha frente.
— Pensei que antes morreria do que fazer isso. É algo pequeno comparado
com o que sofri, mas, entenda, eles decidiam tudo — disse a ex-candidata à Presidência da Colômbia, que foi libertada pelo Exército colombiano junto com mais 14 reféns em 2 de julho.
Ingrid, que atualmente está em Paris com a família, lembra sua alegria quando estava a bordo do helicóptero que a levaria para casa, mas, ao mesmo tempo, não conseguiu evitar sentimentos fatalistas, como que "cairia".
Durante os três primeiros anos de cativeiro, os carcereiros a obrigaram a usar uma pesada corrente com cadeado no pescoço, além de amarrarem-na a árvores repetidamente.
A ex-refém expressou sua simpatia pelas mulheres guerrilheiras, às quais considera vítimas exploradas e que lhe mostraram solidariedade em vários momentos, como ao dar-lhe escondido um grampo para o cabelo.
Ingrid contou como soube por acaso da morte do pai, ao encontrar um jornal que tinha servido para embrulhar couve, e revelou que teve sentimentos quase suicidas.
Sobre o futuro, a franco-colombiana afirma
que não quer fazer nada para ferir a família, que disse ser contra que ela volte à Colômbia, onde temem que possa ser assassinada.
— Dizem que têm o direito de decidir, porque sofreram muito e não querem estar finalmente tocando a felicidade para que, de repente, eu seja assassinada. Têm medo — contou.
Veja como foi o resgate
EFE
Secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, durante encontro com Ingrid Betancourt, libertada após passar mais de seis anos seqüestrada pela guerrilha
Foto:
Maya Vidon, EFE
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