| 23/05/2008 06h53min
Na hora de vender o leite, a família Manfroi não tinha muita escolha. Até um ano atrás, apenas uma empresa mantinha linha de coleta na estrada vicinal que dá acesso ao local em que os pequenos produtores vivem, no interior do Rio Grande do Sul. Hoje, a situação é melhor.
– Já tem linhas da Coagrisol, da Elegê e da Unibom. Na Expodireto (feira agropecuária), um cara da Italac falou comigo e disse que poderiam ter linha aqui também – relata Juliano Manfroi, que mora na propriedade com a mulher, Adriana, e os filhos Mateus, cinco anos, e Gabriel, dois anos.
O pecuarista conta que desde que ingressou na administração do negócio, há seis anos, nunca a atividade leiteira viveu momento tão bom. E diz que, por conta de investimentos que fez quando recebia R$ 0,28 pelo litro, aumentará a produção dos atuais 8,2 mil litros por mês para até 13 mil. Os lucros virão com a atual cotação, de R$ 0,70 por litro na região.
É neste clima que será aberta a Expoleite, que começa quarta-feira, dia 28, e vai até domingo, no parque Assis Brasil, em Esteio, no Rio Grande do Sul. A feira ocorre dentro da programação da 4ª Feira Nacional de Agronegócios do Sul (Fenasul).
A disputa pelo leite na propriedade dos Manfroi é exemplo do que vem ocorrendo em todo o Estado por conta dos investimentos de empresas no setor lácteo. A inauguração neste ano de novas plantas da Nestlé e da CCGL, além da ampliação da Cosulati e outros empreendimentos, aumentará a capacidade instalada de processamento de leite da indústria gaúcha de 9,5 milhões para cerca de 14 milhões de litros por dia até o fim do ano, estima Ernesto Krug, presidente da Associação Gaúcha de Laticinistas.
Os produtores vêm respondendo à necessidade: a produção passou de 7,7 milhões de litros diários em 2006 para uma estimativa de 9,7 milhões este ano. O ritmo de crescimento, no entanto, é insuficiente para suprir a demanda, o que pode levar a preços ainda maiores, preocupa-se Darlan Palharini, executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul. A cotação do leite no campo já subiu 41% nos últimos 12 meses.
Para dar conta da sede das indústrias, uma das alternativas é ampliar o rebanho comprando vacas do Exterior. No ano passado, houve autorização federal para importação de 5.662 novilhas leiteiras uruguaias, ou 213% mais do que no ano anterior, segundo a superintendência gaúcha do Ministério da Agricultura. Outra alternativa é o aumento da produtividade. A média nas propriedades estruturadas no Brasil é de duas a três vezes menor do que a de estabelecimentos semelhantes na Argentina, devido à genética do gado e à alimentação incompleta, informa Krug.
A alta das cotações, no entanto, tende a estimular investimentos em nutrição. O diretor da Federação dos Trabalhadores na Agricultura, Amauri Mioto, afirma que as pastagens de inverno estão sendo incrementadas, recuperando as perdas em produtividade que algumas regiões tiveram com seca nos últimos meses.
– Há
um processo bastante intenso no
Interior de fomento das indústrias aos seus produtores, incrementando o volume de produção – completa Jorge Rodrigues, presidente da Comissão de Leite da Federação da Agricultura.