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 | 26/03/2008 10h05min

Cristina Kirchner enfrenta primeira grande crise de seu mandato

Panelaço é auge de greve dos agropecuários, que já dura duas semanas

Passados pouco mais de três meses desde que chegou ao poder, a presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, enfrenta grave crise gerada pelo conflito no campo, que se estendeu às cidades, onde milhares de pessoas promoveram o primeiro panelaço em massa contra o governo.

Poucas horas depois de Cristina ter anunciado sua decisão de se manter firme e não negociar com os produtores agropecuários, em greve há duas semanas, milhares de pessoas foram às ruas das principais cidades do país para protestar contra a presidente.

Batendo panelas e frigideiras, milhares de argentinos bloquearam o tráfego no centro de Buenos Aires e marcharam pacificamente pela capital gritando palavras de ordem contra Cristina, dando início ao primeiro panelaço enfrentado pela governante argentina.

A mobilização chegou à Praça de Maio, em Buenos Aires, onde milhares de pessoas se concentraram por horas, e à frente da residência presidencial da Quinta das Oliveiras, nos arredores da cidade.

Perto da meia-noite, grupos de manifestantes peronistas que apóiam o governo enfrentaram os moradores com gritos de "Pátria sim, Colônia não" e os obrigaram a abandonar a Praça de Maio, em um clima de tensão que não contou com intervenção policial.

Manifestações similares aconteceram em outras importantes cidades do interior do país, como Córdoba, Tucumán, Mar del Plata e Rosário.

Os protestos trazem à memória dos argentinos um dos períodos mais negros de sua história recente, o colapso econômico e político de 2001 e 2002, quando o "panelaço" se consolidou como forma de protesto popular e terminou derrubando o então presidente Fernando de la Rúa.

O estopim para iniciar essa grande manifestação urbana foi a falta de jogo de cintura de Cristina para resolver o conflito gerado pelos produtores agropecuários, que hoje completam 14 dias de greve devido ao aumento dos impostos às exportações, embora o mal-estar nas cidades seja reflexo de uma série de problemas não resolvidos.

A lista inclui a inflação não reconhecida pelo governo - de até 20% segundo analistas independentes e de 8% segundo fontes oficiais -, a recém-iniciada falta de abastecimento de produtos básicos, como carne e leite, e a falta de segurança.

A crise no campo, a mais grave enfrentada por Cristina em sua curta gestão, coincide com uma queda de popularidade de nove pontos percentuais em março (47%) em relação à aprovação de 56% que a governante tinha em janeiro, segundo a última pesquisa da empresa Poliarquia.

Em meio aos protestos, a presidente optou por deixar de carro a sede do governo, segundo a imprensa local, e não em helicóptero, como costuma fazer, após realizar uma reunião com o ministro da Economia, Martín Lousteau, e com o chefe de Gabinete, Alberto Fernández, e cujo teor ainda não foi divulgado.

Diante do silêncio presidencial, alguns peronistas provinciais começaram a se distanciar do duro discurso de Cristina e aumentou o número de políticos opositores que pediram diálogo para a resolução do problema.

– É necessário um tom muito conciliador em um momento perigoso – afirmou o analista local Reinaldo Sietecase.

Segundo o analista, "pode-se dizer que estamos frente ao maior erro político do casal Kirchner desde 2003".

Para Sietecase, a atual situação "era previsível, porque é uma reação contra uma maneira de exercer o poder e na última eleição, nas grandes cidades, o povo votou contra Cristina".

Cristina sucedeu seu marido, Néstor Kirchner, na Presidência em 10 de dezembro passado, após vencer as eleições gerais de outubro com 45,29% dos votos.

AGÊNCIA EFE

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