| 07/03/2008 06h51min
Com 11 países confirmados, o Rio Grande do Sul será testemunha de um dos capítulos finais de 40 anos de trabalho para a erradicação da febre aftosa na América do Sul. A 35ª Reunião da Comissão Sul-Americana Contra a Febre Aftosa (Cosalfa), que ocorre de segunda a sexta-feira, dia 10, em Porto Alegre (RS), ganha peso nesta reta final da eliminação da doença, prevista para 2009. Chaco e Bolívia são os pontos mais frágeis, por isso a cooperação de fronteira é fundamental, analisa Sebastião Costa Guedes, presidente do Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC) e membro do Grupo Interamericano para Erradicação da Febre Aftosa (Giefa), parceiro do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (Panaftosa), promotor do encontro.
Zero Hora - Qual será o principal foco da 35ª Reunião da Cosalfa?
Sebastião Costa Guedes - Medidas necessárias para completar a erradicação e evitar a reintrodução.
ZH - Quais são as principais deficiências a serem sanadas na América Latina para erradicar a doença?
Guedes - Adequação da estrutura de vigilância sanitária e colaboração internacional para as áreas críticas carentes, entre as quais o Chaco, com territórios na Argentina, Bolívia e Paraguai, e a fronteira da Colômbia com o Equador. A Venezuela é área crítica, mas possui recursos.
ZH - O senhor acredita que o embargo dos europeus à carne brasileira fortaleceu a urgência de se erradicar a aftosa?
Guedes - O embargo europeu se deveu única e exclusivamente a problemas com rastreabilidade. Nas auditorias dos últimos anos, a União Européia alertava para as falhas. O Brasil recebe elogios nas questões de sanidade animal e de saúde pública, onde a evolução é clara.
ZH - Como está o andamento do projeto de erradicação no bloco?
Guedes - Estamos na fase final e vejo com otimismo a possibilidade de erradicar a doença no Cone Sul e iniciar a arrancada final ao norte da região andina, onde a Colômbia desenvolve um programa de muito êxito. A Venezuela e o Equador precisam ser estimulados para acelerar o processo. O Grupo Interamericano para Erradicação da Febre Aftosa está procurando complementar recursos com doações de países livres para viabilizar o programa nas áreas carentes. É o momento ideal para o ataque final à aftosa. O grupo tem estimulado a participação privada no desafio. Há 30 anos, tínhamos 17 mil focos anuais no continente. Em 2007, tivemos 52 registros da doença, sendo que a maioria na região andina.
ZH - Neste cenário, qual a posição do país?
Guedes - O Brasil melhorou muito sua vigilância desde os últimos focos em outubro de 2005. Temos, entretanto, que reforçá-la e ampliar a cooperação em nossa Fronteira Oeste, bem como definir a prevenção e a vigilância na calha do Rio Amazonas e no Nordeste.
ZH - Como o senhor analisa a situação sanitária do Rio Grande do Sul. Já há segurança para a retirada da vacinação?
Guedes - O Rio Grande do Sul desenvolve um programa com êxito, envolveu ações estatais específicas para prevenção da doença na agricultura familiar e assentamentos, desde que o vírus, procedente da Argentina, foi reintroduzida em 2001. Acredito que se o governo sul mato-grossense no início da década tivesse seguido o exemplo gaúcho não teriam ocorrido os focos de 2005. A discussão a respeito da retirada da vacinação deve ser feita com epidemiologistas, que avaliarão a circulação viral, a vigilância e o controle de fronteiras.
ZH - O que deve ser priorizado nesta discussão?
Guedes - A estrutura de defesa e prevenção dos países vizinhos também deve entrar na avaliação pela extensão de nossas fronteiras. O entrosamento com os vizinhos precisa ser muito valorizado nesta questão, para não repetirmos 2001, quando o Uruguai e o Rio Grande do Sul pagaram custos enormes.
ZERO HORA