| 24/01/2008 12h59min
O medo de uma recessão na maior economia do planeta afeta as economias de todos os países. A decisão inesperada do Federal Reserve (Banco Central norte-americano) de reduzir o juro básico do país de 4,25% ao ano para 3,5% derrubou os principais mercados do mundo. Mesmo assim, analistas vêem efeitos positivos para o mercado agrícola brasileiro.
Esse foi o maior corte promovido pelo Fed desde 1984. As medidas emergenciais foram tomadas para estimular a economia dos Estados Unidos e evitar uma nova recessão. Para o analista Antônio Bueno, o grande problema da crise é que ninguém sabe realmente o tamanho do rombo.
– O presidente do Banco Central americano disse que o rombo pode ser de 400 a 880 bilhões (de dólares), uma variação de 100%. Ao fazer essa infeliz declaração, ele afirmou que não sabe o tamanho do rombo. Acabou criando um pânico – declarou Bueno.
A situação de extrema instabilidade derrubou bolsas de valores do mundo
inteiro, mas, por enquanto, ainda não afetou as
cotações das commodities agrícolas. Desde o início das turbulências no mercado norte americano, em julho do ano passado, o índice dos derivativos agrícolas composto por soja, milho e trigo subiu quase 50%.
Para André Nassar, diretor-geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais, o cenário de recessão nos Estados Unidos não deve afetar a demanda por produtos agrícolas nem trazer impactos diretos nos preços mundiais das commodities. O principal efeito a curto prazo seria a migração do capital que está aplicado nas bolsas para os derivativos agrícolas.
– Essa migração é boa na medida em que ajuda a sustentar os preços agrícolas que agora para o produtor brasileiro é muito importante – disse Nassar, que ainda completou:
– A médio e a longo prazos, os preços agrícolas devem cair no futuro, mas não por problema de demandas, mas porque a oferta se recupera.
Para a União da Indústria da Cana-de-Açúcar
(Unica), a crise norte-americana também não
deve afetar o mercado sucroalcooleiro e pode até ter um efeito positivo para o Brasil.
– Havendo essa alteração no preço dos patamares do milho, pode haver uma mudança no preço do produto que é feito a partir do milho que é o etanol e isso pode viabilizar a exportação brasileira de etanol para o mercado americano. O reflexo está mais no Brasil do que no mercado brasileiro – afirmou Antonio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da Única.
Uma preocupação eminente é que uma possível recessão afete a economia chinesa. O país é o grande comprador mundial de commodities e o maior importador da soja do Brasil. Com a desaceleração da economia, os chineses acabariam consumindo menos.
– Há um risco hipotético de ocorrer algum problema financeiro com a China, mas eu não acredito que vá acontecer, mesmo porque os bancos centrais do mundo inteiro vão correr para ajudar – conclui Antônio Bueno.