| 05/11/2007 08h15min
Com território menor do que o gaúcho, renda individual anual em torno de US$ 7 mil e sistema financeiro liberal, o Uruguai já foi a Suíça latino-americana. O apelido recebido no fim do século 19 e carregado com orgulho até os anos de 1990 perdeu o brilho europeu porque os indicadores socioeconômicos foram decaindo, em parte pelas crises alternadas dos vizinhos Brasil e Argentina.
Agora, o país tenta uma guinada em sintonia com as novas regras da economia global. Seu novo modelo é Cingapura, um dos tigres asiáticos que, ainda menor, tem uma economia quatro vezes maior.
– Sabemos que não somos um porta-aviões. Mas queremos ser uma lancha veloz. Em muitas situações, é mais vantajoso ser pequeno e ágil – diz o vice-ministro da Indústria, Energia e Minas, Martin Ponce de León.
A virada começou há cerca de três anos, quando o governo do presidente Tabaré Vázquez tomou a decisão política de atrair investimentos industriais, em contraposição aos muitos anos em que se pensou no país essencialmente como centro financeiro. O atual governo, segundo Ponce de León, elegeu quatro áreas para comandar a conversão - agropecuária, indústria, turismo e logística - com ênfase em inovação. Faz parte da estratégia a meta de doar a todos os estudantes um microcomputador até o fim do próximo ano.
– Esse é um exemplo do que se pode fazer em um país pequeno – afirma o vice-ministro.
Ponce de Léon diz que a estabilidade democrática, a clareza nas regras econômicas, o baixo nível de corrupção e a localização geográfica são as principais vantagens competitivas do país. Mas o Uruguai, além de não fazer nenhum tipo de distinção entre empresas de capital nacional ou estrangeiro, apresenta atraentes cartões de visitas para os forasteiros.
O mais sedutor é o sistema de admissão temporária, mecanismo que permite importação com custo zero de equipamentos e matéria-prima para a produção de bens a serem exportados. Outro atrativo é o acordo de livre comércio com o México, que garante acesso privilegiado à segunda maior economia latino-americana.
Fábricas preparam novas unidades no país vizinho
A Camil, empresa fundada em Itaqui, no Rio Grande do Sul, fecha em breve a compra da Saman, maior beneficiadora de arroz do Uruguai. Outro desembarque é do grupo Bom Gosto, também gaúcho, que investe US$ 30 milhões em uma fábrica de leite longa vida, queijo e laticínios em San José, a 90 quilômetros de Montevidéu. A planta deverá entrar em operação no fim de 2008. Começará empregando 150 funcionários - serão 500, quando implantadas todas as linhas de produção.
– A carga fiscal é menor, e o Uruguai, pela qualidade de seus produtos, já tem mercados internacionais abertos – diz Wilson Zanatta, diretor-presidente da Bom Gosto.
Segundo o advogado Marcino Fernandes Rodrigues Jr, especialista em direito empresarial internacional e presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Turismo Brasil-Uruguai, o país está se preparando para ser uma grande plataforma de exportação e um grande pólo de distribuição do Cone Sul. Além disso, está incentivando a inovação tecnológica, concendendo benefícios para indústria do setor.
Outros indicadores contribuem para um bom prognóstico sobre o desenvolvimento local. Zanatta observa que o aumento de área plantada para culturas destinadas à bionergia favorecerá produtores de alimentos e economias com perfil para o agronegócio. Dos 10 produtos exportados pelo Uruguai, nove são do setor primário.
O país vem recebendo investimentos em plantas de celulose. A chegada da finlandesa Botnia já alterou a economia da região de Fray Bentos, onde se instalou.
LÚCIA RITZEL/ZERO HORA