| 05/11/2007 06h26min
Nesta semana, os preços internacionais do petróleo ensaiam uma arrancada rumo a um limite-tabu, o dos US$ 100 por barril, que assombra pelo risco de que a escalada iniciada em abril passe a comprometer o ritmo de crescimento global. Até agora, a dezena de recordes quebrados dia sim, dia não pelos preços representava apenas um valor nominal mais elevado do que o outro.
Desde sexta-feira, dia 2, porém, quando cruzou a barreira de US$ 95 em Nova York, a cotação passou a trafegar na faixa considerada pelos especialistas como a mais alta da história pelo valor real, isto é, corrigido em dólares. Desde o início da década de 80, logo depois do segundo choque do petróleo, não se viam níveis tão altos. Acelerada pela expansão econômica e incendiada por tensões políticas, a escalada dos preços parece não ter teto.
– O cenário é de que em breve o petróleo cruze os US$ 100, não parece ter como evitar isso, a menos que algumas coisas importantes aconteçam – avalia Giusepe Bacoccoli, da Coordenação de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) e ex-funcionário da Petrobras.
Entre as "coisas importantes" a que Bacoccoli se refere, estão problemas históricos, como a instabilidade no Oriente Médio. Neste ano, as escaramuças entre os povos da região ganharam contornos ainda mais dramáticos, como a interminável violência no Iraque, lembra o especialista:
– Essa guerra virou um problema sem saída, com os Estados Unidos entrando numa situação de Vietnã.
Crescimento de emergentes como China preocupa
Não bastasse essa tempestade de areia sobre o solo que abriga as maiores reservas petrolíferas do planeta, a hostilidade cada vez maior dirigida ao programa nuclear iraniano defendido pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad e os conflitos entre vizinhos como Turquia e Israel agravam os temores de que a produção não baste para atender ao consumo crescente.
– No médio prazo, não vejo espaço para que os preços caiam. Mas as cotações também embutem muita especulação de mercado. E, quanto mais alto o valor, maior o espaço. Hoje, pelo menos US$ 20 do valor do barril decorre de movimentos especulativos – avalia Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE).
Até agora, avalia Pires, as cotações altas não afetaram de forma significativa o ritmo da economia global porque nos países mais desenvolvidos, como EUA e os da Europa, os setores que lideram o crescimento não consomem muito petróleo: são os serviços.
– Na época do primeiro e do segundo choque, os setores que marcavam o ritmo da indústria eram devoradores de petróleo, como a indústria automobilística e a siderurgia – detalha.
Esses setores se mudaram para os países em desenvolvimento, especialmente China e Índia. Durante a semana, a China repassou parte da alta internacional para seus preços internos. Mesmo assim, diz Pires, os chineses estão ancorados num valor por barril entre US$ 40 e US$ 50 - metade dos mais recentes recordes. Sem sinal de água fria para baixar a fervura do mercado, cresce o risco de que a alta do petróleo volte a provocar estragos na economia mundial.
– Se não recuar, a tendência é de que comece a gerar inflação e recessão como ocorreu no passado – acentua Pires.
MARTA SFREDO/ZERO HORA