| 01/11/2007 21h03min
A falta de gás natural ocorrida na última terça, dia 30, é sinal de que o país não tem gás suficiente para atender a demanda interna nem terá em curto espaço de tempo. A opinião é do especialista em energia Giuseppe Bacoccoli, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Bacoccoli, do Programa de Planejamento Energético da Coordenadoria dos Programas de Pós Graduação de Engenharia (Coope), disse em entrevista à Agência Brasil que o país terá de conviver com esse problema pelo menos até 2010, quando os campos de Golfinho e Mexilhão, nas Bacias do Espírito Santos e de Santos, deverão entrar em produção.
– Não há solução no curto prazo. Se houver um corte no fornecimento do gás que o Brasil importa diariamente da Bolívia por qualquer razão – a queda de um raio, por exemplo – a disponibilidade interna do produto cairá à metade e aí haverá sérios prejuízos no abastecimento interno – previu.
Sem entrar no mérito da opção que inseriu as usinas termoelétricas no modelo energético brasileiro, o professor da UFRJ lembrou que a situação atual vivida no país foi motivada pela necessidade de aumentar o consumo interno do gás natural, ainda no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.
– No início da década nós éramos obrigado a pagar por um gás que não consumíamos por não haver mercado. Em 2001, com o apagão, criou-se a opção pela utilização do gás excedente nas usinas térmicas para a geração de energia. Depois vieram os incentivos dados ao crescimento do mercado brasileiro de gás, o consumo subiu e as distribuidoras, principalmente as do Rio e de São Paulo, e os grandes consumidores industriais passaram a retirar mais gás do que o acordo em contrato com a Petrobras. Hoje o problema é exatamente o oposto: o crescimento excessivo não foi acompanhado pela produção – avaliou o especialista.
– Como nós não temos o gás na quantidade necessária para atender à demanda, então nós vamos ficar neste cobertor curto até encontrar a solução adequada – que passa pela entrada em operação das plantas de regaseificação do Gás Natural Liquidificado (GNL), ou ainda pela entrada em operação dos grandes campos descobertos no país – disse Bacoccoli.
O professor afirmou que o país vive um curto-circuito entre ás áreas que respondem pela energia elétrica e o gás natural.
– No Brasil existe a Petrobras cuidando do gás e o Ministério de Minas e Energia e a Aneel, da energia. Então fica um jogando a culpa para cima do outro sem que se chegue a nenhuma conclusão. E isto está gerando este curto-circuito entre o setor que cuida do gás e o que cuida do setor elétrico.
Para ele, o Brasil é um país que tem vocação para energias renováveis e não tinha que envolver o gás natural na área de geração de eletricidade.
Giuseppe Bacoccoli também ressaltou o fato de que a alta excessiva do preço do petróleo no mercado externo contribuiu para o agravamento do problema ao inviabilizar a antecipação da entrada em produção dos campos das bacias de Santos e Espírito Santo.
– As iniciativas para se colocar o gás existente nas bacias de Santos e Espírito Santo estão em curso, mas há dificuldades porque, com a alta do preço do petróleo, está faltando equipamentos para os projetos de exploração e produção. Em conseqüência, nos próximos dois anos, até 2010, nós estaremos em uma situação extremamente delicada: se faltar energia elétrica nós teremos que conviver ou com o apagão, ou com a falta de gás para atender aos outros segmentos da economia, como os consumidores de GNV e as indústrias.
O professor Bacoccoli disse que é injusto ter de conviver com essa situação de priorizar o envio do gás para a geração de energia nas usinas térmicas.
– O consumidor do gás veicular foi estimulado pela Petrobras e pelo governo a fazer a conversão do seu veículo. Ele não foi para o GNV porque quis. Disseram a ele: olha vai lá e converte o seu carro porque é bom e tem subsídios. Agora você deixa o cara na mão. Isso é péssimo.
Para o especialista, a solução para o problema energético brasileiro passa invariavelmente pela geração hídrica.
– O Brasil tem na solução para o abastecimento de energia a geração a partir das usinas hidrelétricas. Enquanto houver essa dependência da energia gerada a partir do gás nós estaremos vivendo esta situação. Nós temos ainda a biomassa: porque não estamos colocando usinas operando com bagaço de cana? – questiona.
AGÊNCIA BRASIL